Porto Alegre, 28 de fevereiro de 2025 – Os negócios com trigo no mercado brasileiro seguem pontuais, com moinhos abastecidos e buscando prazos mais longos para retirada e pagamento. Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, os produtores, cientes do aperto no abastecimento e dos custos de importação, mantêm pedidas acima do interesse dos compradores.
No Paraná, as ofertas de compra giram em torno de R$ 1.500/t, mas apenas vendedores com necessidade imediata aceitam esse valor. Quem pode esperar mantém pedidas a partir de R$ 1.550/t FOB.
A produção paranaense de 2024 foi de 2,38 milhões de toneladas, mas apenas 150 a 200 mil toneladas ainda estão disponíveis, menos de 5% da moagem estadual. Com 300 mil toneladas destinadas a semente e ração, o déficit local foi de 1,77 milhão de toneladas, parcialmente coberto pelo Rio Grande do Sul, que forneceu cerca de 470 mil toneladas.
Bento explica que para sustentar a moagem de 3,85 milhões de toneladas, o Paraná precisará importar 1,3 milhão de toneladas. Entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025, os moinhos já importaram 475 mil toneladas, segundo maior volume do país, atrás apenas de São Paulo. No entanto, o volume ainda necessário no segundo semestre da temporada é recorde.
A paridade com origens extraestaduais definirá os preços, mas o Rio Grande do Sul não tem excedentes suficientes, deixando a Argentina como única alternativa viável. Com exportação a US$ 240/t, o trigo argentino chega a Curitiba a R$ 1.615/t CIF, com paridade no interior do estado próxima de R$ 1.535/t, já alinhada às pedidas dos vendedores.
No Rio Grande do Sul, único estado exportador, 75% da safra estimada de 3,95 milhões de toneladas já foi negociada. Deste total, 1,7 milhão de toneladas foram para exportação, 550 mil para consumo local, 470 mil para outros estados, 170 mil para sementes e 70 mil para ração. Com moagem estadual projetada em 1,9 milhão de toneladas, o saldo remanescente de 990 mil toneladas resulta em um déficit de 360 mil toneladas.
Os preços no Rio Grande do Sul indicam R$ 1.300/t para retirada imediata e até R$ 1.350/t para embarques em março, enquanto produtores resistem a vender abaixo de R$ 1.400/t. Durante a colheita, os preços ficaram atrelados à paridade de exportação, mas agora, com a forte saída para o mercado externo, os moinhos gaúchos precisarão recorrer à importação. A diferença entre o mercado interno e a paridade de importação já chega a 14%.
Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Safras News
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