São Paulo, 27 de novembro de 2025 – A agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a classificação de crédito da Raízen de Baa3 para Ba1. “Simultaneamente, rebaixamos de Baa3 para Ba1 a classificação das notas seniores não garantidas de US$ 187 milhões com vencimento em 2027, emitidas pela Raízen Fuels Finance S.A. e garantidas pela Raízen S.A. e pela Raízen Energia S.A. As classificações permanecem sob revisão para possível rebaixamento”, disse a agência.
O rebaixamento para Ba1 reflete a deterioração dos indicadores de crédito da Raízen, a alta alavancagem e a geração contínua de fluxo de caixa negativo. O nível atual de endividamento continua a impor restrições significativas aos negócios, desafiando a capacidade da Raizen de manter a geração de caixa positiva.
“Não prevemos uma recuperação significativa no curto prazo, na qual a empresa retorne a indicadores de crédito mais adequados ao grau de investimento, incluindo uma relação dívida sobre o ebitda abaixo de 3,0x e geração de fluxo de caixa livre positivo. Em nossa opinião, esses indicadores, juntamente com uma liquidez sólida, são necessários para mitigar a volatilidade inerente aos mercados de commodities aos quais a empresa está exposta no negócio de etanol de açúcar”, comentou a Moody’s.
A Moody’s avalia que o negócio de etanol de açúcar, em particular, exige investimentos de capital relativamente grandes para sustentar a qualidade das plantações e a produtividade agrícola, além de estar exposto a riscos consideráveis, incluindo condições climáticas. “Ademais, nas safras de 2025/26 e 2026/27, esperamos que os preços do açúcar permaneçam baixos e que haja maior pressão de baixa sobre o etanol, com o etanol de milho aumentando a oferta total de etanol durante o período de entressafra”, acrescentou.
A revisão continua focada em iniciativas que podem melhorar substancialmente a estrutura de capital da empresa, como um potencial aumento de capital próprio, atualmente em discussão entre os acionistas controladores Shell Plc (Shell, Aa2 estável) e Cosan S.A. (Ba2 negativa), e novas vendas de ativos. No terceiro trimestre de 2025, a Raízen recebeu R$ 900 milhões com desinvestimentos e tem outros R$ 3,9 bilhões a receber de vendas já anunciadas. Desde 2024, a Raízen vem implementando um plano para aprimorar sua eficiência operacional e sua estrutura de capital, com o objetivo de permitir uma melhoria gradual na geração de fluxo de caixa. A empresa já demonstrou redução nas despesas gerais e administrativas; realizou desinvestimentos; reduziu despesas operacionais, de capital e dividendos; e conduziu a gestão de passivos para estender os prazos de vencimento da dívida; medidas que acreditamos que a empresa manterá. Ainda assim, o saldo da dívida (incluindo arrendamentos) fechou setembro de 2025 em R$ 76,8 bilhões. Mesmo considerando a venda de ativos de R$ 4 bilhões e um EBITDA de R$ 13,3 bilhões, a alavancagem bruta encerraria a safra 2025-26, em março de 2026, em 5,4x.
A governança é um fator-chave na avaliação do rating, e a situação atual é resultado direto das estratégias adotadas durante o ciclo pré-reestruturação, que priorizaram um crescimento agressivo impulsionado por dívida, o que elevou a alavancagem.
Apesar da revisão para baixo dos ratings, o rating Ba1 da Raízen reflete sua sólida posição nos negócios de cana-de-açúcar e distribuição de combustíveis no Brasil. A Raízen é uma joint venture entre a Cosan S.A. e a Shell Plc. Além disso, o rating é sustentado pela afiliação e pelo apoio implícito da Shell Brazil Holdings BV, subsidiária integral da Shell, dado o benefício derivado da marca e da expertise gerencial da Shell, e da Cosan, dada sua expertise local e histórico de sucesso. As classificações também consideram a existência de garantias cruzadas entre a Raízen Energia e a Raízen S.A. na maioria dos instrumentos de dívida.
A classificação é limitada pela natureza volátil de seu negócio de exploração e produção, que representa aproximadamente 60% do ebitda consolidado. No negócio de refino e distribuição, nos últimos dois anos, a distribuição de combustíveis apresentou volatilidade inesperada, incluindo perdas relacionadas às operações de comercialização, o que prejudicou o desempenho operacional consolidado.
“Em 2025 e 2026, esperamos uma dinâmica favorável na distribuição de combustíveis que contribua para a sustentabilidade dos resultados do segmento, com ganhos de participação de mercado, aumento de margem e um ebitda unitário em torno de R$ 170/m3. Para o negócio de exploração e produção, a estratégia de hedge e a flexibilidade financeira da Raízen, bem como a porcentagem relativamente menor de cana-de-açúcar própria em comparação com seus pares, permitem menor volatilidade de margem durante períodos de baixa no mercado.”
O setor de açúcar-etanol é altamente dependente de fatores externos, como condições climáticas, incentivos e políticas governamentais e preços internacionais do petróleo, que podem afetar significativamente os preços e o desempenho financeiro da Raízen. Além disso, as elevadas necessidades de investimento representam uma restrição devido à manutenção exigida para manter a produtividade da cana-de-açúcar e a expansão da capacidade produtiva.
Recentemente, esses investimentos, juntamente com grandes investimentos em etanol de segunda geração, resultaram em uma geração persistente de fluxo de caixa negativo, causando uma deterioração da situação financeira da empresa, explicou a agência no relatório
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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