Mesmo com volta das chuvas no Brasil, dúvidas produtivas mantêm preços do café firmes

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    Porto Alegre, 18 de outubro de 2024 – A semana foi de volatilidade, mas de preços firmes na Bolsa de Nova York para o café arábica, que baliza a comercialização global. O robusta na Bolsa de Londres esteve mais fraco. No mercado físico brasileiro de café, as cotações também estiveram sustentadas, com o dólar em alta sendo um elemento a mais de suporte.

     As preocupações com a safra de 2025 do Brasil seguem como foco no mercado. Mesmo com o retorno das chuvas, benéfico para a abertura das floradas, e com a previsão de maior regularidade nas precipitações, são grandes as dúvidas sobre o que já pode ter se perdido de potencial produtivo diante dos prolongados períodos sem umidade, com elevadas temperaturas.

     Segundo o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, as chuvas da última semana ficaram abaixo do esperado, o que pode explicar o comportamento dos preços do café no terminal de NY. No entanto, observa, os mapas indicam mais chuvas ao longo desta e das próximas semanas, o que confirma a mudança no padrão climático e deve beneficiar as lavouras de café no Brasil. “A questão é: essas chuvas chegarão a tempo de salvar a próxima safra? Para algumas lavouras, a resposta é sim; para outras, não. Esse é precisamente o ponto em debate no mercado”, comenta.

Ele destaca que há uma grande cautela entre os envolvidos, que hesitam em assumir posições mais contundentes. “Os fundos continuam com uma carteira líquida comprada expressiva, mantendo a proteção climática, enquanto os produtores estão aparecendo um pouco mais no mercado, mas ainda de forma tímida. Após a recomposição dos estoques, a indústria mundial prefere aguardar novidades sobre a próxima safra global”, indica Barabach.

“O longo período sem chuvas e com temperaturas acima do normal no Brasil certamente trará sequelas produtivas. Já havíamos alertado sobre a perda de potencial. Nesse sentido, o cenário produtivo do início do ano, que previa uma safra brasileira de 2025 com potencial para um novo recorde, já não se sustenta”, avalia Barabach. Para se ter uma melhor ideia desse potencial, o consultor destaca que ser preciso aguardar um pouco mais. A sequência de chuvas, floradas e o pegamento (pós-florada) será crucial para essa definição.

Por enquanto, o pessimismo em relação à produção de arábica prevalece no mercado, analisa o consultor de Safras, embora isso possa ser amenizado com o avanço das chuvas e o surgimento das floradas. Ele não descarta uma surpresa produtiva positiva mais adiante. No caso do conilon/robusta brasileiro, a expectativa é mais otimista do que para o arábica, já que o clima, embora longe do ideal, não é tão adverso. “As floradas foram boas, mas as irregularidades das chuvas geram dúvidas. Em todo caso, o sinal é mais positivo que o arábica”, indica.

“Essas percepções permanecem no radar, e, ao contrário de anos anteriores, quando o mercado reagia rapidamente aos sinais climáticos, este ano o movimento tem se mostrado mais moroso. O mercado busca evitar a repetição de erros do passado, onde sinais efêmeros levaram a decisões precipitadas”, conclui o consultor.

    No balanço da semana, entre os fechamentos das quintas-feiras (10 e 17 de outubro), o contrato dezembro em Nova York acumulou ganho de 0,16%, saindo de 254,75 centavos de dólar por libra-peso para 255,15 centavos. Em Londres, o mercado acumulou desvalorização para o robusta no contrato janeiro/2025 de 3,0%. A entrada da safra de robusta do Vietnã neste momento é um aspecto de pressão sazonal natural, em que pesem também as incertezas sobre o tamanho da produção em um ano de dificuldades climáticas.

    O mercado físico interno brasileiro segue em cenário de cautela, mas avança em negociações conforme as necessidades de compra e a postura cadenciada nas vendas pelos produtores. O dólar firme contribuiu para o suporte às cotações domésticas do café, já que a moeda americana acumulou alta entre 10 e 17 de outubro de 1,34% no comercial.

     No balanço dos últimos sete dias, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, na base de compra, subiu de R$ 1.455,00 para R$ 1.510,00 a saca, alta de 3,8%. Já o conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, avançou 1,44% no comparativo, passando de R$ 1.390,00 para R$ 1.410,00 a saca na base de compra.

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Lessandro Carvalho – lessandro@safras.com.br (Safras News)

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