Porto Alegre, 22 de setembro de 2023 – O mercado brasileiro e internacional de milho terá dificuldades para uma recuperação nos preços na temporada 2023/24. A avaliação foi feita pelo consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari, durante palestra realizada no 6º SAFRAS Agri Week, evento que ocorreu entre 19 e 21 de setembro.
Na Bolsa de Chicago (CBOT), com a safra americana entrando em colheita e beirando a um recorde, o preço atual em torno de US$ 4,80 por bushel não é a nova realidade do mercado. “Devemos voltar a preços entre US$ 4,00-4,30 tão logo a colheita passe dos 50% nos Estados Unidos”, afirmou.
Destacou que o quadro de oferta e demanda americano é confortável, e que a Bolsa reflete o cenário dos EUA. “O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) cortou a produtividade na estimativa americana e pode haver ajustes até janeiro, mas isso não vai alterar muito o quadro”, disse. Ressaltou que o recorde de produção de milho para o país é de 384,8 milhões de toneladas em 2017 e agora a estimativa é de 384,4 milhões de toneladas, muito próximo deste patamar mais elevado.
“A dúvida que se tem com a safra americana é com o peso do grão pelas condições climáticas até agora. Isso vai definir o tamanho. Mas ainda é uma safra boa. Não dá pra se imaginar mais um grande corte na safra americana. Não deve provocar uma reversão de preços, é uma hipótese cada dia mais remota”, analisou Molinari.
Ele indicou ainda que achar que o preço pode subir com esse quadro é “ser um sonhador”. Olhando mais à frente, para a seguinte safra americana, ele disse que se a safra vier normal e sem redução de área poderá vir um novo recorde produtivo.
El Niño e safra cheia
Molinari destacou que com o fenômeno El Niño a tendência é de uma safra cheia na América do Sul, outro aspecto baixista para o mercado global, que se reflete nos preços ao produtor brasileiro. E há muito milho armazenado, com dificuldades de armazenagem e logística/fretes trazendo pressão sobre as cotações. “No primeiro semestre, o produtor vendeu o milho e segurou a soja. Foi uma pressão em grande parte pela decisão de venda do produtor”, comentou. Agora há a volumosa oferta da safrinha a negociar.
Para Molinari a questão é se em 2024, com uma safra grande de soja o produtor vai vender a soja e segurar o milho? “Isso pode trazer altas para o milho. Mas se de novo o produtor preferir vender o milho para reter a soja, haverá pressão de novo no milho”, afirmou. E salientou que a tendência é natural de peso sobre as cotações ao final do ano com o produtor correndo para vender milho para a entrada da safra de verão para liberar armazéns.
Nas exportações, Molinari diz que o Brasil está com desempenho magnífico. Mas que para fechar embarques na temporada de 53 a 55 milhões de sacas, garantindo suporte aos preços, vai precisar embarcar em torno de 6 milhões de toneladas mês nos próximos meses, o que é um desafio com a colheita americana no momento e a concorrência natural. “Se não embarcar esses volumes, sobra mais milho e há mais pressão nos valores do cereal”, ratifica.
Concluindo suas informações e avaliações, Molinari observou que o quadro mundial é complicado. “Não vejo espaço para altas fortes. E podemos ter baixa no Brasil no primeiro semestre de 24 se o produtor novamente segurar a soja e vender mais o milho”, disse.
Acompanhe a Agência Safras no nosso site. Siga-nos também no Instagram, Twitter e SAFRAS TV e fique por dentro das principais notícias do agronegócio!
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
Copyright 2023 – Grupo CMA