Porto Alegre, 30 de dezembro de 2021 – O Brasil é o maior país produtor e exportador de café do mundo. Para variar, falando em perspectivas para 2022, o mercado global está nas mãos do quanto o país vai colher. “O grande determinante do mercado de café em 2022 é o tamanho da próxima safra brasileira”, resume o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach.
A sequência de seca, particularmente entre os meses de abril e maio, e a geada em julho acabaram reduzindo o potencial da safra brasileira 2022, observa o consultor. O retorno das chuvas em outubro induziu boas floradas e animou tanto produtores como compradores. Barabach comenta que a ideia entre os tradings no pós-florada era de uma safra de arábica entre 38 a 40 milhões de sacas, o que corresponde a uma queda de 10 a 12 milhões de sacas em comparação a último ciclo de carga alta (safra recorde de 2020), quando o Brasil colheu 50 milhões de sacas de arábica.
A queda no potencial do arábica deve ser compensada, em parte, pelo aumento na produção de robusta, estimada entre 23 a 25 milhões de sacas, salienta o consultor. “Com isso, a ideia inicial é de uma safra brasileira 2022 entre 61 a 65 milhões de sacas”, estima. Mas, pondera Barabach, os registros de abortamento acabaram colocando em xeque essa melhora no ânimo, com produtores, particularmente, duvidando que as lavouras alcancem tal potencial. Um sinal mais claro somente virá no início de 2022.
O fato é que o mercado ainda não precificou essa quebra acima do esperado para a próxima safra brasileira, para o consultor. Se confirmada, há sim espaço para uma nova investida de alta na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização internacional. “Já a confirmação do cenário produtivo anterior permite uma ligeira acomodação na curva de preço, especialmente com o avanço da oferta de café novo no Brasil. É bom lembrar que o preço do café acumulou ganho de mais de 70% em 2021, antecipando em parte esse cenário produtivo”, avalia.
Em linhas gerais, para Barabach, a expectativa é de um ano de 2022 ainda com oferta apertada, diante da perda de potencial da safra no Brasil. A demanda deve seguir arrastada. “Apesar da melhora no fluxo, as indústrias ainda devem sofrer um pouco com o custo logístico, sem falar de novos efeitos causados por eventuais restrições por conta das variantes da Covid-19, especialmente nos primeiros meses de 2022”, acredita. O arábica deve seguir valorizado em relação ao robusta, o que implica em uma postura mais flexível no blend por parte das indústrias, especialmente aqui no Brasil.
Em relação ao câmbio, Barabach crê que o dólar tende a seguir volátil, mas firme, o que favorece os preços do café em moeda local. “Além da mudança da política monetária do Fed (Banco Central norte-americano), que ajuda a fortalecer a moeda norte-americana, o pessimismo interno também explica esse cenário cambial mais carrancudo para o real”, analisa. Mas, pondera que qualquer surpresa positiva em 2022 pode atenuar essa lógica e permitir um realinhamento mais significativo do real. “O dólar continua muito valorizado em relação ao real, esperando algum sinal para uma correção mais significativa”, resume.
Quanto ao segundo semestre, o consultor sugere uma atenção especial com as floradas da safra brasileira 2023. “Se trouxerem uma resposta produtiva positiva, isso pode mexer com os preços de forma mais significativa”, conclui,
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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