Mercado brasileiro de trigo inicia março com lentidão e pontas afastadas

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Porto Alegre, 8 de março de 2024 – O mercado brasileiro de trigo chegou ao mês de março com lentidão no ritmo dos negócios. Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, esse comportamento deve-se ao afastamento entre os interesses de compra e de venda.

Os produtores, cientes de que haverá um déficit significativo entre a produção nacional e a necessidade de moagem – mesmo nas regiões de produção – adotam uma posição defensiva e demonstram pouca flexibilidade em suas pedidas. Os moinhos, de modo geral bem abastecidos, olham para o tombo das cotações internacionais e indicam um interesse de compra que fica distante da pedida do vendedor. Quando surgem negócios de oportunidade, por parte de produtores que precisam fazer caixa e/ou abrir espaço nos armazéns para receber a safra de verão, negócios pontuais são reportados.

Bento explica que o argumento do produtor leva em consideração que, de um potencial de produção próximo a 11,5 milhões de toneladas, o país colheu apenas 8,6 milhões de toneladas. Com isso, mantendo o ritmo de moagem da temporada passada (12,6 milhões de toneladas), o déficit seria de 4 milhões de toneladas. Considerando que, desse montante, 3 milhões de toneladas não terão qualidade suficiente para a produção de farinha (feed wheat), o déficit nacional salta para 7 milhões de toneladas. Quando se estreita essa análise para os estados do sul do Brasil, mantendo os números de moagem da temporada passada (Abitrigo), os déficits estimados seriam: entre 1,0 e 1,3 milhão de toneladas no Rio Grande do Sul, entre 500 e 550 mil toneladas no Paraná e de 300 a 400 mil toneladas em Santa Catarina.

“Nos mercados gaúcho e catarinense, muitos moinhos estão aumentando a utilização de grãos mais fracos. Isso pode levar a necessidade de uma maior compra de grãos de boa qualidade no exterior para atingir a qualidade de farinha. De olho nessa grande necessidade de aquisições internacionais, quem possui grãos de boa qualidade não demonstra interesse em reduzir suas pedidas”, disse.

Na outra ponta do mercado, os moinhos contam com a queda dos preços internacionais para sustentar sua posição de inflexibilidade em relação a preços. Depois de uma temporada (22/23) em que exportou apenas 3,1 milhões de toneladas e ficou praticamente fora da concorrência com os grandes fornecedores globais, no atual ciclo comercial a Argentina tem um saldo exportável próximo a 10 milhões de toneladas. Sem cotas pré-estabelecidas para vendas internacionais, os preços no vizinho brasileiro estão bastante agressivos. Atualmente, em linha com as cotações do cereal russo, é um dos mais baratos do mundo. A queda em relação ao mês passado é próxima a 10%.

Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência Safras

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