Porto Alegre, 02 de junho de 2023 – O mercado internacional de café encerrou o mês de maio apresentando comportamento distinto para arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) e para o robusta na Bolsa de Londres. Enquanto o arábica teve balanço negativo para preços, o robusta em Londres atingiu em maio os patamares mais elevados em 15 anos. E mesmo com o começo da colheita da safra brasileira de 2023, que promete trazer uma boa produção ao mercado, tanto arábica quanto o conilon encontram suporte nos preços.
O café (tanto arábica quanto robusta) foi “sacudido” ao longo de maio pelas ondas de maior ou menor otimismo nos mercados em torno de inflação, juros e recessão, especialmente em relação ao andamento da política econômica nos Estados Unidos. A volatilidade do dólar, do petróleo, das bolsas de valores e de commodities trouxe momentos de pressão de baixa para o café e momentos de sustentação. Nos últimos dias de maio, por exemplo, as cotações em NY especialmente foram pressionadas no arábica por temores em torno da votação do teto da dívida nos EUA e o PMI abaixo do esperado na China. Mas, junho iniciou já com maior otimismo pelas notícias econômicas globais.
No arábica, como destaca o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, nos fundamentos, a situação climática favorável e a melhora no ritmo da colheita da safra 2023 acabam trazendo pressão vendedora ao terminal de NY. E a demanda também é aspecto de pressão, pois segue curta, por conta dos sinais fracos da economia e dos custos altos para carregar estoques. “Essa postura mais comedida do comprador resulta em um fluxo internacional mais lento, o que reforça a sensação de melhora na oferta e se reflete contra as cotações da bebida”, comenta.
Os dados de março da OIC (Organização Internacional do Café) indicam queda nos embarques mundiais de café de 9,3%, o que resulta em um volume parcial na temporada 2022/23 (outubro/março) de 62,3 milhões de sacas exportadas, com recuo de 6,4% na comparação com igual período da temporada passada. Além da oferta mais curta, com a safras pequenas no Brasil e Colômbia na última temporada, também a postura mais contida da indústria torrefadora global explica esse fluxo mais lento.
Para o arábica, se a oferta limitada de curto prazo é aspecto baixista, a chegada da safra brasileira leva a uma mudança no comportamento, com reflexos nos diferenciais internacionais. “O café arábica perdeu valor relativo, sinalizando uma maior flexibilidade do vendedor diante do avanço da safra brasileira. Assim, os diferenciais de negociação nos portos de embarques tanto dos suaves colombianos como dos Centrais, mesmo com a menor disponibilidade física, acabaram caindo”, avalia o consultor. Mas o destaque negativo é a queda na base de venda externa do natural do Brasil. “Afinal de contas a expectativa de safra cheia de arábica no Brasil pesa contra os diferenciais, que estavam inflados depois de 2 anos de frustração produtiva”, observa.
No balanço de maio em NY, o contrato julho do arábica caiu 3,9%, de 185,95 centavos ao final de abril para 178,65 centavos em 31/05.
O robusta passa por outro momento em Londres, e atingiu em maio os níveis mais altos de preço em 15 anos. Barabach comenta que o mercado está mais firme diante da menor produção da Indonésia e do aperto nos estoques do Vietnã. “A maior procura por robusta no mundo, com indústrias elevando o percentual desse café no blends, também favorece a recomposição nos preços, com robusta recuperando valor frente ao arábica”, diz. Em Londres, o robusta para julho ao longo de maio subiu 6,1%.
No mercado físico brasileiro, maio replicou o que foi observado nas bolsas. No arábica, cotações pressionadas e no conilon um mercado melhor sustentado. E isso se deu também por questões de oferta e de manda locais. O arábica voltou a cair, seguindo as perdas externas e a queda no diferencial no porto de Santos. “A chegada da safra nova do Brasil levou a uma maior aproximação entre o preço no mercado disponível e a ideia de safra nova, reduzindo o degrau entre as safras, trazendo pressão negativa e fazendo o mercado convergir em direção à indicação do café novo. A pouca disponibilidade e a retranca do produtor ajudam a atenuar a baixa”, aborda.
No balanço de maio, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais caiu de R$ 1.080,00 para R$ 1.000,00 a saca de 60 quilos, baixa de 7,4%.
O conilon andou na contramão do arábica e avança mesmo em meio à colheita. “A postura curta do vendedor e, principalmente, a alta do robusta em Londres explicam essa firmeza nos preços internos. Já o andamento da safra pode trazer equilíbrio do lado da oferta e favorecer alguns ajustes negativos na linha de preços. O fluxo de compras da indústria de torrado e moído é determinante para o comportamento dos preços”, analisa Barabach. O conilon tipo 7 em Vitória/Espírito Santo avançou em maio na base de compra 3,8%, terminando maio em R$ 690,00 a saca, mas já superando facilmente os R$ 700,00 a saca nos primeiros dias de junho.
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Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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