Porto Alegre, 21 de março de 2023 – O anúncio da proposta de arcabouço fiscal será feito após a viagem presidencial à China, entre 26 e 31 de março. A informação foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta terça-feira, em entrevista ao site Brasil 247. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faz parte da comitiva presidencial.
“Por que eu não decidi? Porque precisa discutir um pouco mais. A gente não tem que ter a pressa que algumas pessoas do setor financeiro querem”, disse Lula. “Eu falei para o Haddad nós não temos que indicar o nosso modelo de marco fiscal agora. Nós vamos viajar para a China, quando a gente voltar você reúne e acerta”, completou.
Segundo Lula, seria “estranho” Haddad anunciar o marco fiscal e viajar para a China, abandonando o debate da proposta. Para o presidente, o ministro tem de apresentar a proposta e debater as regras com os parlamentares e o mercado financeiro, além de dar entrevista para esclarecer o assunto.
Na entrevista, o presidente disse que o ministro pensa como o governo e o PT. Para Lula, em “questão de tempo”, Haddad vai fazer a economia brasileira voltar a crescer. “Eu tenho certeza de o Haddad vai cumprir com a sua tarefa da forma mais extraordinária possível”, afirmou.
O presidente reiterou que, nos seus dois primeiros mandatos, o governo teve responsabilidade fiscal e conseguiu reduzir a inflação, a dívida e o desemprego, além de pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e fazer reserva em dólares. Afirmou ainda que era criticado pelo PT por fazer superávit primário.
Lula reiterou que é preciso mudar o conceito de gasto público. “Precisamos parar com essa loucura de que tudo que é feito para o povo é gasto”, afirmou. Segundo o presidente, o dinheiro destinado a políticas sociais é investimento.
“A palavra investimento é mais bonita que a palavra gasto, porque, quando as pessoas falam em gastos, na verdade, estão querendo que você economize dinheiro, não pague a saúde, não pague a educação, não pague nada para sobrar dinheiro para quê? Não é para fazer investimento, é para pagar os juros”, afirmou. “É só mudar. Investimento é uma palavra mais saudável para o Brasil. E o Brasil está precisando de investimento”, completou.
Lula disse ainda que precisa fazer a economia voltar a crescer. “Sem isso não dá para fazer distribuição de riqueza. Sei que agora não está fácil no Brasil e no mundo, mas precisamos fazer as coisas que precisam ser feitas, precisamos fazer que as PPPs (Parcerias Público-Privadas) voltem a funcionar, o que deu certo nós vamos voltar a fazer”, argumentou.
TAXA DE JUROS
O presidente voltou a criticar a taxa de juros brasileira e a autonomia do Banco Central, mas afirmou que não pode demitir o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. “Sinceramente acho que o presidente do BC não tem compromisso com a lei que foi aprovada de autonomia do BC. A lei diz que é preciso cuidar da responsabilidade, da politica monetária, mas diz também que é preciso cuidar da inflação do emprego, coisas que ele não se importa”, afirmou.
Para Lula, a taxa básica de juros em 13,75% é absurda e irresponsável. O presidente afirmou que vai continuar criticando os altos juros no país. “Não tem razão para ter juros altos. Os empresários sérios sabem que não está correta essa taxa alta de juros. BNDES está sem recursos para fazer investimento. É irresponsabilidade que o BC mantenha a taxa de juros a 13,75%, só quem gosta é o setor financeiro”, disse.
Lula criticou o papel dos bancos, especialmente depois que o banco suíço Credit Suisse ter sido vendido ao UBS para evitar que ele quebrasse. “Qual é a explicação para ter acontecido o que aconteceu com o Credit Suisse, que era um banco que dava palpite sobre tudo? Há um ano, os
dirigentes disseram que os bancos eram as coisas mais importantes do mundo, e hoje aconteceu o que aconteceu”.
O presidente falou também sobre a privatização da Eletrobras, que “foi um crime de lesa-pátria”, e as possibilidades da privatização da Petrobras. “O dinheiro da Eletrobras foi usado para a dívida pública, e vamos fazer da Petrobras uma grande empresa de investimento neste país”.
CONGRESSO NACIONAL
A respeito das votações de projetos no Congresso Nacional, Lula disse que precisa conversar mais com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Os líderes do governo precisam discutir muito com os grupos políticos. Precisamos votar projetos que sejam de interesse da sociedade brasileira. Vamos conversar com os líderes da base e de outros partidos políticos”.
Sobre a visita à China, Lula disse ser muito importante, “para ampliar nossas relações. Se depender de mim, vamos tocar no assunto paz mundial [ao ser perguntado sobre a guerra na Ucrânia]”.
A respeito da escolha dos ministros para o STF, Lula disse que vai indicar alguém que ele acredita ser competente. “Quando eu tomar a decisão, eu vou tomar essa decisão sozinho e não tenho compromisso com o partido. Vou indicar uma pessoa que vai ser útil para o Brasil”. As informações são da Agência CMA.
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Revisão: Pedro Carneiro (pedro.carneiro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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