A AIE publicou hoje o relatório “Implicações das taxas de declínio dos campos de petróleo e gás”, no qual indica que as petroleiras investem mais para compensar perdas na produção da commodity do que em aumentar a produção. “Desde 2019, quase 90% dos investimentos no setor foram destinados apenas a compensar o declínio natural da produção, e não ao atendimento do crescimento da demanda”.
A estimativa da entidade é de que o investimento em 2025 deve ficar em torno de US$ 570 bilhões e, se esse valor persistir, um crescimento modesto na produção poderá continuar no futuro. “Mas uma queda relativamente pequena no investimento em upstream pode significar a diferença entre o crescimento da oferta de petróleo e gás e a estagnação da produção. Ao mesmo tempo, menos investimento é necessário em um cenário de contração da demanda”, diz um trecho do documento.
A composição da oferta mudou de forma significativa nas últimas décadas, com o avanço do petróleo não convencional e do gás de xisto. Em 2000, campos convencionais respondiam por 97% da produção mundial de petróleo, participação que caiu para 77% em 2024. Ainda assim, a produção segue altamente concentrada em megacampos na Rússia, Oriente Médio e América do Norte. Análises de mais de 15 mil áreas de exploração revelam declínios médios pós-pico de 5,6% ao ano no petróleo convencional e 6,8% no gás convencional, com quedas que variam de acordo com o porte e o tipo de campo.
“Se os investimentos parassem hoje, a produção mundial cairia em média 8% ao ano para o petróleo e 9% para o gás, perdas equivalentes à produção anual de países como Brasil e Noruega, no caso do petróleo, e de toda a África, no caso do gás”, continua o relatório. As taxas de declínio natural se tornaram mais acentuadas em comparação a 2010, reflexo da maior dependência de fontes não convencionais, que apresentam declínio muito mais rápido. “Nos EUA, por exemplo, a produção de gás e petróleo de xisto pode cair mais de 35% em apenas um ano sem novos aportes”, afirma outro trecho do documento.
Essa dinâmica implica que, sem novos projetos, países com produção baseada em fontes não convencionais, como os EUA, sofreriam quedas de até 65% em dez anos, enquanto as reduções seriam menores no Oriente Médio e na Rússia, em torno de 45%, dada a predominância de supercampos convencionais de declínio lento. Essa concentração de oferta elevaria riscos para a segurança energética global, ampliando a dependência de poucas regiões.
Assim, a AIE estima que, para manter os níveis atuais até 2050, seria necessário incorporar mais de 45 milhões de barris por dia de petróleo e cerca de 2.000 bilhões de metros cúbicos de gás de novos campos convencionais. Embora já existam importantes descobertas ainda não desenvolvidas, será preciso manter um ritmo anual de novas reservas superior à média recente. “O desafio é que projetos convencionais demoram quase 20 anos para entrar em operação, evidenciando que a resiliência da oferta dependerá de decisões rápidas de investimento, da regulação e do equilíbrio entre segurança energética e compromissos climáticos”, conclui o relatório.
