O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à rádio CBN hoje mais cedo, fez duras críticas às recentes decisões do governo dos Estados Unidos de elevar tarifas sobre produtos brasileiros e atribuiu parte da responsabilidade à extrema-direita brasileira, em especial à família Bolsonaro. “Estamos com problemas específicos no Brasil, uma família aqui está concorrendo contra os interesses nacionais”, afirmou. Segundo ele, os reflexos dessa postura já são sentidos na política externa. “Nós sabíamos que algo seria anunciado pela insistência da família Bolsonaro em prejudicar o país em benefício de Jair Bolsonaro”.
Haddad classificou como “muito grave” o aumento de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros, especialmente no contexto da relação construída durante o governo de Donald Trump e o alinhamento com Bolsonaro. “É decisão difícil de compreender do ponto de vista da racionalidade econômica. Está encarecendo o café da manhã do americano e inviabilizando importações brasileiras de produtos americanos”, disse. O ministro reforçou que “não existe déficit no comércio dos EUA com o Brasil” e que “não prejudicamos a economia dos EUA em nada”.
O ministro descartou retaliações automáticas, mas disse que o governo está se preparando para diferentes cenários. “Temos planos de contingência para qualquer decisão que venha a ser tomada pelo presidente Lula. Planos de contingência somos obrigados a fazer, é uma situação emergencial que não se imaginava há 15 dias.” Segundo ele, as ações não visam retaliação, mas sim coerência: “Nosso objetivo não é retaliar, e sim chamar a atenção porque essas ações são contraproducentes”.
Haddad também criticou a desinformação em torno do Pix, sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, que estaria gerando incômodo nos EUA. “Desconforto dos EUA com o Pix é mais surpreendente ainda. É a mesma coisa que defender o telefone fixo em detrimento do celular”, ironizou. Ele acrescentou: “Como o Pix pode representar uma ameaça ao Império? Se entrarmos nessa viagem, não vamos sair do outro lado”.
O ministro afirmou que o Brasil segue comprometido com a negociação. “Brasil não vai sair da mesa de negociação; não demos nenhuma razão para este tipo de sanção”, garantiu. Ele disse que Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio estão mobilizados, e que o país está “trabalhando em níveis de empresas para ter uma radiografia completa destes eventos”. O objetivo, segundo Haddad, é minimizar “essa agressão que estamos sofrendo”.
Sobre a dimensão política do impasse, Haddad afirmou que “tem uma força política dentro do Brasil que luta contra os interesses nacionais” e que “a extrema-direita está concorrendo contra os interesses nacionais”. Mesmo assim, ele garantiu que o governo não entrará “na guerra de narrativas” e continuará buscando racionalidade nas relações bilaterais. “Orientação de Lula é não sair da mesa de negociação porque Brasil se dá bem com todos os países”.
Ao ser perguntado sobre se os planos de contingência de auxílio a setores podem impactar a meta fiscal de 2026, Haddad disse que isso não deve acontecer. “Não prevemos revisão de meta fiscal para 2026, vamos entregar o melhor resultado fiscal do Brasil dos últimos 12 anos. Vamos perseguir as metas de emprego, renda, crescimento até o final do mandato”, afirmou.

