Porto Alegre, 23 de dezembro de 2022 – Os mercados brasileiro e internacional de trigo tiveram um 2022 de muita volatilidade. O principal vetor deste cenário foi a guerra na Ucrânia. A partir da invasão russa no final de fevereiro, os preços do grão nas principais bolsas de referência do mundo dispararam aos maiores patamares da história. Conforme o analista de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento, a guerra fez com que as cotações “perdessem a racionalidade”.
Os preços em Chicago foram de US$ 7,80 por bushel no início da segunda quinzena de fevereiro para US$ 13,40 por bushel no dia 4 de março. “Uma alta de 72% em apenas 11 sessões deixa claro que o mercado perdeu a referência”, disse.
Rússia e Ucrânia são, respectivamente o maior e o quarto maior exportadores de trigo do mundo. O quadro de abastecimento global já era bastante apertado antes da invasão, levando em conta as quebras de safras em importantes produtores como Canadá, Rússia e Estados Unidos, no ano anterior.
Com o advento da guerra, a incerteza tomou conta, pois não se sabia como ou se o trigo produzido na região do Mar Negro seria escoado ao mercado internacional. Além disso, o conflito trouxe repercussões geopolíticas, com sanções econômicas à Rússia afetando diversos setores e reacendendo preocupações quanto à segurança alimentar.
Segundo semestre
A partir de junho, essa trajetória de alta dos preços foi interrompida. Conforme o analista, mesmo com as incertezas persistindo no Mar Negro, a pressão sazonal de oferta no Hemisfério Norte atuou como fator baixista. As preocupações quanto à recessão da economia global também começaram a pesar sobre as cotações.
“Os especuladores, sentindo que o fator guerra já tinha sido precificado e que a pressão de ingresso de trigo novo no mercado mundial poderia derrubar os preços, liquidaram suas posições compradas”, lembrou Bento. Ele salienta, no entanto, que essa segue sendo umas das principais variáveis consideradas pelos investidores.
Câmbio
O câmbio é o segundo pilar do tripé para a formação de preços no Brasil. É ele quem determina os níveis de paridade de importação – quando há escassez de oferta interna – e de exportação, quando há excedente.
O dólar começou 2022 cotado a R$ 5,66; em meados de abril, chegou à mínima: R$ 4,62. “Um cenário político interno turbulento e o risco de recessão global podem ser apontados como os principais pontos de incertezas”, apesar disso, Bento acredita que a moeda norte-americana encerre o ano recuando aproximadamente 5%.
“A redução da tensão entre os três poderes no país, os bons volumes de dólares internalizados pela balança comercial e os juros básicos mais altos podem ser apontados como fatores que amenizaram a tendência de alta no mercado cambial”, disse.
Safra brasileira recorde
A cenário de abastecimento interno completa o tripé de formação de preços no Brasil. Neste ano, conforme o analista de SAFRAS & Mercado, houve o efeito de duas safras. A colheita, até então recorde, de 2021/22, somada às importações e aos estoques iniciais da temporada geraram uma oferta de 16,426 milhões de toneladas. Com os preços internacionais favoráveis, o Brasil exportou mais de 3 milhões de toneladas, um recorde.
“Esse bom desempenho das vendas internacionais, respaldado pelo câmbio e pelos preços internacionais, permitiu que o quadro de oferta e demanda seguisse apertado e mantivesse as cotações em alta”, explicou.
Para a temporada atual, a safra é, mais uma vez, recorde. SAFRAS & Mercado estima 11,385 milhões de toneladas. A oferta é prevista em 18,593 milhões de toneladas. “Mesmo com uma quebra qualitativa substancial no Paraná, os agentes nunca tiveram um montante tão significativo de trigo nacional para negociar. O comportamento dos preços dependerá mais uma vez de quando o setor produtivo conseguirá escoar ao exterior”, analisou.
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Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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