Porto Alegre, 29 de agosto de 2025 – O mês de agosto foi de forte volatilidade e acentuadas altas nos preços do café nas Bolsas de futuros e também no mercado físico brasileiro. Muitos fatores foram se somando para gerar uma apreensão geral em relação à oferta, no curto prazo, mas também olhando para 2026.
Na Bolsa de Nova York para o arábica e na Bolsa de Londres para o robusta, que balizam o mercado, as cotações atingiram os níveis mais altos entre 3,5 a 4 meses. Em linhas gerais, o mercado respondeu às preocupações em relação à oferta, principalmente envolvendo o café brasileiro.
O tarifaço de Donald Trump de 50% por parte dos Estados Unidos às importações do Brasil seguiu repercutindo no mercado. Os EUA são os maiores consumidores de café do mundo, com o Brasil sendo o maior fornecedor (cerca de 30%), enquanto os EUA são o principal destino das exportações brasileiras (entre 15% a 20% aproximadamente do total).
Naturalmente, os compradores e torrefadores americanos estão se desdobrando para buscar alternativas que não sejam tão custosas, e ainda torcem por uma flexibilização por parte do governo, como por exemplo excluir o café desta taxação de 50%. De todo modo a tendência normal no curto prazo é o comprador nos EUA ter de pagar mais caro pelo café.
Agora em agosto, cresceram as informações e dados de uma safra brasileira de arábica abaixo do que se esperava. A renda no beneficiamento do café ficou aquém das expectativas e isso vai impactar nos números finais da safra 2025/26. Obviamente esse é um fator altista, e combina com um momento de baixos estoques de passagem no Brasil. Safras & Mercado está revisando sua estimativa para a safra 2025/26, e para baixo (acompanhe na Plataforma Safras.
O mercado também encontrou suporte em preocupações já com a safra futura de 2026. Houve geadas em 10/11 de agosto atingindo sobretudo o cerrado mineiro, com indicações iniciais de perda no potencial produtivo de mais de 400 mil sacas para 2026. E o clima está seco no cinturão produtor, o que não é espantoso para o momento, mas num cenário já de aperto na oferta há temores em relação a um atraso nas chuvas para a abertura das floradas que vão resultar na safra de 2026.
Mais um aspecto vem dos números de exportação do Brasil, que vêm caindo e o café “novo” ainda não se mostra trazendo dados melhores para os embarques. Além de uma safra menor que o esperado, como destaca o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, o café safra nova não vem aparecendo. Ou seja, o produtor está capitalizado e segurando o café.
No mercado do conilon/robusta, o cenário é ainda mais firme em relação às altas observadas em agosto. No Brasil, o produtor está tranquilo na defensiva, aguardando por cotações ainda mais elevadas. Lá fora, a Indonésia teve alguns problemas com chuvas para a colheita e ainda há um tempo até entrar a safra de robusta do Vietnã ao final do ano.
No balanço de agosto, na Bolsa de NY, o contrato dezembro do café arábica acumulou valorização de 30,8%, subindo de 288,70 centavos de dólar por libra-peso no último dia de julho para 377,50 centavos de dólar por libra-peso no fechamento desta quinta-feira, 28 de agosto. O robusta em Londres acumulou alta ainda mais forte, de 44,3% no período comparado em agosto no contrato novembro.
No mercado físico brasileiro de café, os preços acompanharam os ganhos externos, e os produtores retraíram as ofertas. Mesmo cauteloso, progressivamente o comprador foi se obrigando a pagar mais caro para conseguir suas aquisições. E a retração da oferta foi ainda mais vista no conilon no país em agosto, que subiu mais que o robusta em Londres e bem mais que o arábica. A queda do dólar comercial em agosto no balanço até o dia 28, de 3,5%, foi apenas um pequeno atenuante para a pressão altista no café.
O café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais encerrou a quinta-feira, 28 de agosto, a R$ 2.330,00 a saca na base de compra, com alta acumulada no mês de 28,7%, já que fechara julho em R$ 1.810,00 a saca. Já o conilon, tipo 7, em Vitória/Espírito Santo, acumulou em agosto uma alta de 51,2%, saindo de R$ 1.015,00 a saca na compra no fim de julho para R$ 1.535,00 a saca neste dia 28.
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência Safras News
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