Porto Alegre, 10 de novembro de 2023 – A mudança no comportamento dos preços do café na Bolsa de Nova York e no mercado físico brasileiro está ligada à expectativa de uma safra cheia no Brasil em 2023. A explicação foi dada pelo consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, durante o terceiro dia do SAFRAS Agri Week.
“A quebra na oferta, com a menor safra em 2022, sustentou os preços, mas agora este quadro se alterou, mercado está devolvendo os ganhos em uma velocidade intensa”, frisou o analista, durante a sua apresentação. “Mesmo com menor disponibilidade de café, o preço vem caindo e caindo com velocidade. A expectativa para a safra do próximo ano 2023 é de oferta cheia e isso está derrubando as cotações”.
Em outubro, os contratos de café negociados em Nova York lideraram as perdas em um comporativo com outras commodities e investimentos. Segundo dados de SAFRAS & Mercado, as perdas acumuladas no período ficaram em 18,1%, enquanto o índice CRB – média de commodities – subiu 2,2% no mês passado. No acumulado do ano até outubro, o café caiu 23%, superando apenas o desempenho negativo do algodão, de queda de 35%. O CRB subiu 18%.
“As commodities estão se acomodando, após um movimento de alta generalizado. O café cai, respondendo mais a fatores fundamentais. O movimento especulativo parou e o mercado iniciou a correção. O café está passando por uma correção negativa, com aumento de juros e queda de liquidez”, acrescenta Barabach.
Na avaliação do consultor, o quadro mundial de revisão para baixo na produção 22/23, em decorrência da menor safra do Brasil, foi compensado pela acomodação na curva do consumo. “Isso segurou o preço. O comprador mundial terá mudança no comportamento. O PIB das economias avançadas vai recuar, o que vai interferir na postura do comprador. A demanda será mais curta e compassada, combinando com estoques altos, risco de recessão e perda de poder aquisitivo.”.
A aposta é de uma safra cheia do Brasil em 2023, com clima normalizando e previsão de chuvas regulares, com uma florada mais intensa. “O mercado vê uma safra 2023/24 maior, exportações maiores, recuperação dos estoques e consumo dentro do normal, segurando preço”.
Segunda Barabach, outro sinal de que os preços tendem a seguir caindo é o posicionamento dos fundos, que estão desmontando posições compradas e apostando na baixa dos preços. Para ele, uma mudança na tendência de queda nos preços só deverá ocorrer se houver um fato novo, envolvendo uma redução na safra brasileira. “Ainda há muito o que acontecer, mas nas atuais variáveis, os preços deverão continuar perto das médias”.
Em relação às estratégias de comercialização, o analista destaque que sobrou pouco café no disponível. “Não é motivo de preocupação. O ajuste é negativo, mas o pior já passou, o ajuste mais intenso já aconteceu, não quer dizer que não possa cair mais. Mas não é hora de se afobar. O momento é de pensar de fora mais calma as vendas, dosando, aproveitando correções em Nova York”.
Já para as vendas futuras, o cenário é mais preocupante. “As margens estão achatadas. A safra cheia no Brasil, se confirmada, pode achatar ainda mais. Seria interessante fazer algumas proteções”, completa Barabach.
Dylan Della Pasqua / Agência CMA