Brasília, 4 de abril de 2025 – A primeira semana de abril foi marcada por pavor no mercado financeiro após que os Estados Unidos detalharam o que chamaram de ‘tarifas recíprocas’ sobre diversos produtos de diversos países ao redor do mundo. No caso do açúcar e do etanol brasileiro, pelo menos por enquanto, o setor segue navegando em águas tranquilas, uma vez que o acesso desses produtos ao mercado dos Estados Unidos sempre foi muito restrito.
Em evento realizado e promovido pela Organização de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) nesta semana em Brasília, autoridades do setor avaliaram que além de ainda ser muito cedo para quantificar potenciais impactos sobre o fluxo de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, pelo menos por enquanto até mesmo está havendo um benefício ao Agro brasileiro, no que seria um efeito colateral da “Guerra Tarifária”.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), comentou em entrevista a jornalistas nos bastidores do Cana Summit que havia sim um temor em relação a tarifas adicionais dos Estados Unidos sobre o etanol e o açúcar brasileiro, além de outros produtos da pauta de exportação ligada ao campo. “Se há algo que eles (os EUA) sempre exigiram muito é colocar mais etanol de milho deles dentro do mercado brasileiro, e a gente em contrapartida quer aumentar a cota de exportação de açúcar de cana-de-açúcar para lá, mas essa é uma negociação que ocorre há décadas e que nunca prosperou, ainda mais agora que o Brasil aumentou sua produção de etanol de milho”, salientou Lupion. Conforme o deputado, o Governo Trump tem sido extremamente agressivo nas medidas, pois quer com isso chamar os países na mesa para negociação. “Então neste caso se abre uma oportunidade até para quem sabe melhorarmos nosso comércio com eles. Vamos ver”, disse.
Questionado pela reportagem da Safras News se a guerra tarifária pode deixar de ser uma ameaça e se tornar uma oportunidade para o Agro brasileiro, Lupion disse que ainda é cedo para uma avaliação mais completa, mas que por enquanto o setor está sendo beneficiado. “Se houver problema maior para nossos concorrentes, para nós é bom, abre oportunidades. Nas últimas semanas, a briga comercial com a China abriu oportunidades excepcionais para o Agro brasileiro. Eles estão comprando da gente, principalmente agora nesse período de safra (de grãos) . A China deixou de comprar grãos de quatro grandes multinacionais norte-americanas nas últimas semanas, e eles estão comprando aqui do Brasil. Então para nós está sendo uma oportunidade bem aproveitada. Espero que consigamos achar outras portas abertas para colocarmos nossos produtos”, enfatizou o parlamentar.
Já diretor-executivo da Organização Internacional do Açúcar (ISO/OIA), Jose Orive, disse em entrevista exclusiva à Safras News não deverá afetar os mercados de açúcar e etanol, pois esses são protegidos por tratados comerciais que dificilmente são violados. “Assim, não acreditamos que o mercado mundial de açúcar será impactado (pelas tarifas)”, salientou executivo da entidade intergovernamental.
Fabio Rubenich – fabio@safras.com.br (Safras News)
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