São Paulo – A reunião de abril de 2025 do Conselho do Banco Central Europeu (BCE) ocorreu em meio a um cenário econômico global turbulento, marcado pelo recrudescimento das tensões comerciais internacionais após o anúncio de novas tarifas pelos Estados Unidos. Segundo a ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira, a medida provocou uma forte liquidação nos mercados de ações globais e nos títulos do Tesouro americano, desencadeando episódios de volatilidade e incerteza nos mercados financeiros.
Em resposta, o BCE decidiu reduzir as três principais taxas de juros em 0,25 ponto percentual (pp), reforçando seu compromisso com a meta de inflação de 2% e com o apoio ao crescimento da zona do euro.
Apesar do ambiente externo adverso, os mercados de títulos da zona do euro permaneceram resilientes. Os títulos soberanos alemães, tradicionalmente considerados ativos de refúgio, foram beneficiados pela fuga global para a segurança. O euro também registrou forte valorização frente ao dólar, impulsionado tanto pela aversão ao risco nos EUA quanto por um reposicionamento de carteiras que favoreceu os ativos europeus.
No campo doméstico, o BCE observou com cautela os sinais de desaceleração econômica. Embora o crescimento da zona do euro tenha perdido força no quarto trimestre de 2024, a demanda interna e os investimentos fiscais – especialmente na Alemanha e em defesa – ofereceram sustentação à atividade. O mercado de trabalho permanece robusto, com a taxa de desemprego atingindo 6,1% em fevereiro, o menor nível desde a criação da moeda única.
A inflação segue trajetória de desinflação, com os índices geral e subjacente recuando para 2,2% e 2,4%, respectivamente, em março. Além disso, o crescimento salarial, anteriormente uma das principais fontes de pressão inflacionária, começou a se moderar mais rapidamente do que o esperado, aliviando parte das preocupações com a persistência de preços elevados.
Em sua comunicação, o BCE sinalizou uma mudança sutil, mas importante, ao retirar a menção de que a política monetária se tornaria “significativamente menos restritiva”. A alteração reflete uma postura mais neutra e orientada por dados, com foco na flexibilidade para ajustar a política conforme a evolução do cenário.
As expectativas de inflação de curto prazo foram revisadas para baixo, mas o BCE alertou para riscos de alta no médio prazo, principalmente relacionados à fragmentação das cadeias de suprimentos e à expansão dos gastos públicos. A instituição reiterou a necessidade de manter agilidade em suas decisões futuras, sem se comprometer previamente com qualquer trajetória específica de juros.
A ata destaca, ainda, a importância das reformas estruturais em curso na Europa, em áreas como infraestrutura e defesa, como motores potenciais de crescimento e produtividade, num momento em que a região busca consolidar sua posição como âncora de estabilidade econômica em um mundo cada vez mais fragmentado.
Larissa Bernardes / Safras News

