Porto Alegre, 03 de abril de 2020 – O mês de março foi de ampla volatilidade nos mercados e no café não foi diferente, diante de todas as preocupações envolvendo a evolução da pandemia do coronavírus. Porém, o balanço para as cotações do café foi positivo no período diante da apreensão com o abastecimento, sobretudo de arábicas de melhor qualidade no curto a médio prazo, e em meio a fatores técnicos.
As bolsas de valores, o petróleo e as commodities em geral e o dólar tiveram bruscas oscilações ao longo de março. Há grandes temores com a pandemia do coronavírus e o impacto sobre as economias e a demanda global. As perdas predominaram em grande parte dos mercados, mas o café mostrou sustentação ao longo de março. Houve fortes altos e baixos no mês, com a amplitude dos movimentos de compra e venda, mas no balanço março foi positivo.
Na Bolsa de Nova York para o café arábica (ICE Futures US), que baliza a comercialização internacional, o preço mínimo do mês para o contrato maio foi em 17 de março, quando a posição chegou a cair a 101,21 centavos de dólar por libra-peso, ameaçando a importante linha de US$ 1,00 a libra-peso. O café recuou seguindo a aversão ao risco neste dia com a pandemia. Depois, o mercado passou por uma forte recuperação e na máxima do mês alcançou em 26 março 130,65 centavos de dólar por libra-peso, após 7 sessões seguidas de altas. Mas, depois passou por nova correção e finalizou o mês ensaiando acomodação entre 110 e 120 centavos.
Além de acompanhar altos e baixos dos mercados, o café em NY recebeu suporte da preocupação com o abastecimento de arábicas suaves e da queda nos estoques certificados na ICE em NY, que caíram abaixo de 2 milhões de sacas ao longo de março, acumulando queda de 7,4% no mês. Apreensivos com o aperto na oferta de arábicas suaves, compradores têm se socorrido nos estoques certificados, justificando esse declínio ao longo do período.
Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o mercado segue vulnerável ao sobe de desce do petróleo, do índice de commodities CRB e do câmbio. “Prevalece a ordem financeira, o que torna o mercado muito mais volátil. Em meio a todo esse nervosismo, o café busca desenhar algumas linhas de atuação, que servem de referência no curto prazo para o arábica na ICE Futures em Nova York”, avalia. Destaca que o mercado conseguiu se afastar do fundo de US$ 1,00 por libra-peso, e em resumo teve um mês de março com grande amplitude de oscilação, mas marcado pela recuperação dos preços internacionais.
Ele avalia que o mercado inicia encontrando um aparente suporte de curto prazo, diante do receio com abastecimento de suaves e da queda nos estoques certificados. “Por outro lado, ainda sem força para sustentar ganhos mais expressivos, entre outras coisas, devido à sombra da safra recorde do Brasil. É bom lembrar, que o conilon começa a ser colhido agora em abril e o café arábica a partir do próximo mês de maio”, comenta.
Os efeitos da crise do coronavírus sobre a economia mundial também inibe avanços muito significativos na linha de preços, pondera Barabach. “A tendência é que o café busque, em um primeiro momento, consolidar as referências laterais. Já o avanço da oferta de café novo brasileiro tende a pressionar NY e pender o mercado com mais força em direção à banda inferior”, adverte.
No balanço mensal de março, o contrato maio do café arábica em Nova York acumulou uma alta de 7,4%, tendo avançado de 111,35 centavos de dólar por libra-peso ao final de fevereiro para 119,55 centavos no encerramento de março. O café robusta na Bolsa de Londres não teve o mesmo desempenho, com o contrato maio caindo no mesmo comparativo de US$ 1.283 para US$ 1.186 a tonelada, acumulando perda de 7,6%.
No mercado físico brasileiro, as cotações também subiram para o arábica e para o conilon. Além dos ganhos do arábica em NY, as cotações do café no país ainda foram sustentadas pela subida do dólar, que no balanço de março avançou 15,9% no comercial, passando de R$ 4,484 para R$ 5,199.
“A soma positiva deu força para uma nova escalada nos preços físicos internos. Assim, as cotações, especialmente das bebidas melhores, já superam com folga o patamar alcançado no final do ano passado”, comenta o consultor. Os preços altos têm atraído mais vendedores, embora os negócios sigam em ritmo compassado. No disponível, ressalta Barabach, a demanda está bastante seletiva e exigente por qualidade, o que dificulta o fechamento de negócios. “Agora, se o comprador encontrar o que procura, mostra disposição em pagar, inclusive, ágios. Negociações tem característica de mercado de buraco”, indica.
O café arábica duro com 15% de catação no Sul de Minas subiu de R$ 520,00 a saca na base de compra no final de fevereiro para R$ 575,00 a saca no fim de março, alta de 10,6%. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, subiu no comparativo de R$ 308,00 para R$ 320,00 a saca, acumulando ganho de 3,9%.
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS Copyright 2020 – Grupo CMA