Porto Alegre, 22 de novembro de 2023 – O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que descredibilidade da Argentina começou com a perda da independência do Banco Central. A autoridade monetária ministrou palestra sobre “Melhoria do Ambiente de Negócios brasileiro: Evolução, desafios e proposições legislativas prioritárias na perspectiva do Bacen”, promovido pela Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, no Senado Federal, em Brasília.
“Ao contrário do Brasil, na Argentina, o Banco Central pode financiar o governo, e isso é sempre muito perigoso. Principalmente, agora que ele não tem independência, porque ele é usado como instrumento”, comentou. “Isso gerou uma perda de credibilidade na parte monetária, e depois você também teve uma perda de credibilidade na parte fiscal – aí começa a desorganizar o cenário macroeconômico. Foi isso que aconteceu na Argentina” explicou. Segundo ele, os mercados não acreditavam nas metas argentinas – tanto monetária quanto fiscal.
“Houve uma erosão das bases fiscais muito grandes, porque se tentava fazer uma arrecadação com uma base que era cada vez mais decrescente e em algum momento isso se voltou contra a exportação. É um processo longo de perda de credibilidade.”
O mandatário do BC disse, ainda, que é preciso ‘entender melhor’ o que significa a proposta do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, de acabar com o Banco Central e dolarizar a economia. Na última segunda-feira, Milei reafirmou, ainda, que entre 18 e 24 meses vai conter a inflação de seu país, na casa dos 140% anuais – duas das principais e mais polêmicas propostas de sua campanha.
“Fechar o Banco Central é uma obrigação moral, e dolarizar (a economia) é uma maneira de nos livrarmos do Banco Central”, declarou. Milei, no entanto, propôs que a moeda adotada por seu governo “seja aquela escolhida pelos indivíduos”.
Campos Neto entende que, com a dolarização da moeda argentina, uma das funções do Banco Central deixa de existir – apenas uma.
“É óbvio que se você tem uma dolarização tem uma função do Banco Central que deixa de existir, mas o Banco Central tem um mandato de estabilidade da moeda e de estabilidade financeira, isso significa que o BC faz funções de conduta, supervisão e regulação – isso é uma função que alguém tem que fazer, porque não existe uma função financeira sem que tenha supervisão e regulação de conduta. Tem uma parte de controle de fluxos internacionais, controle de entradas e saídas, é independente da moeda, que é gerido pelo Banco Central também.”
A autoridade monetária brasileira lembrou, ainda, que embora a Europa tenha uma moeda única, continua tendo um Banco Central autônomo, assim como vários dos seus países integrantes – além do Reino Unido.
“Então, eu não consigo ver como eliminar todas essas funções. Eu acho bem perto do impossível. Agora, existe uma exceção, porque na Argentina, o Banco Central foi em parte responsável pela degradação da moeda no sentido de ser usado como instrumento para financiar o governo de forma obscura durante muito tempo. No caso do Brasil, isso não é permitido. E no Brasil, o Banco Central tem uma autonomia. Então, eu acho que o mais importante não é acabar com o Banco Central e sim ter um Banco Central que funciona. Esse é o ponto.”, concluiu o presidente. As informações são da Agência CMA.
Pedro Carneiro (pedro.carneiro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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