Cotações do café pressionadas em NY por chuvas no Brasil e cenário financeiro

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O mercado internacional de café passou por declínios recentes nos preços na Bolsa de Nova York para o arábica (ICE Futures US), referência global para a commodity. No dia 25 de agosto, o contrato dezembro atingiu os patamares mais altos em 6 meses, quase tocando em US$ 2,43 a libra-peso. O mercado vinha sustentado por apreensão com indicações de uma safra brasileira de 2022 abaixo da expectativa e pela abertura precoce de floradas no país para a safra de 2023, o que poderia levar também a prejuízos na produção futura.

     Porém, no começo de setembro o mercado já recebeu notícias da ocorrência de chuvas sobre parte do cinturão cafeeiro, benéficas para as floradas que já abriram precocemente e de modo geral para o período de floradas que vão resultar na safra 2023. E ainda há a previsão de um melhor regime de umidade nesta segunda metade de setembro. Assim, neste dia 08 de setembro o contrato dezembro chegou a testar a linha de US$ 2,20 a libra-peso, mas encontrou suporte e reagiu. No momento de confecção desta coluna, ao final da manhã desta sexta-feira (09), o contrato dezembro opera a 226,45 centavos.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, depois de esbarrar em densa resistência no movimento de alta, o café acabou devolvendo ganhos na ICE US em típico movimento de acomodação de alta. “A piora no humor externo acabou influenciando negativamente o preço do café, que já vinha passando por um processo de realinhamento depois do rally ao final de agosto. A bebida acompanhou o tombo no petróleo e repercutiu o aumento da aversão ao risco global”, comenta. Cresceu a expectativa de que o Banco Central americano (Fed) seja ainda agressivo no ciclo de alta dos juros.

     Barabach comenta que, no lado fundamental, o café encontra suporte na menor safra brasileira, mas enfrenta dura resistência na alta por conta da demanda mais curta. “Operadores ainda tentam digerir uma safra 2022 do Brasil menor que a esperada. E isso garante um traçado ascendente para a curva de preço de café em NY, em meio à toda a instabilidade financeira. Há uma grande dificuldade em quantificar a safra em um ano produtivo muito errático no Brasil, marcado por seca, geada, abortamento e muita chuva no período da a granação seguido pela baixa umidade”, avalia o consultor.

     As notícias vindas das lavouras dão a entender que o mercado ainda não precificou o real tamanho das perdas, acredita Barabach. “Produtores argumentam que não se trata mais de uma perda de potencial adicional em relação à safra recorde de arábica de 2020 (último ano de carga alta), mas de uma quebra em relação à safra baixa de 2021. Alterando, com isso, o status de comparação. Se confirmado, abriria espaço para uma mudança para cima ainda mais expressiva na curva de preço do café”, estima.

      Entre os motivos para o café não estar mais firme neste momento, Barabach indica que o mercado carece de um sinal mais forte da demanda. A indústria mundial continua encolhida, o que gera barreiras e inibe as investidas de alta nos preços do café, criando um teto ao avanço nas cotações na ICE US, ele observa. “É que sem um fluxo consistente do lado da compra o movimento de alta dos preços fica fragilizado. O cenário macroeconômico marcado por incertezas financeiras, receio de recessão e dinheiro mais caro com a alta dos juros, justifica a cautela da indústria mundial. Já a crise do gás que afeta a Europa, principal região consumidora de café no mundo, traz mais incerteza ao consumo de café”, afirma.

     O mercado de café vem se caracterizando por movimento em sanfona, mas sustentando um viés de alta, coloca o consultor. Para ele, a commodity deve continuar assim, buscando um melhor realinhamento entre menor oferta e demanda curta. Na posição dezembro/2022, o café elevou o patamar de atuação em NY, encontrando acomodação aparente entre o suporte em 220 cents e a resistência em 240 cents. “A quebra dessas linhas pode trazer algum direcionamento técnico de curto prazo”, avalia.

     No balanço dos últimos sete dias, entre 01 e 08 de setembro, os contratos para dezembro em NY caíram de 232,50 para 222,20 centavos de dólar por libra-peso, uma desvalorização de 4,4%. Em Londres, o contrato novembro do robusta no mesmo comparativo subiu 2,15%. Apreensão com a oferta vietnamita está entre os aspectos altistas no momento.

     O mercado físico brasileiro de café acompanhou NY e teve baixas nos últimos dias, mas recuou menos que a bolsa. Entre 01 e 08 de setembro, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais caiu na base de compra de R$ 1.330,00 a saca para R$ 1.300,00, baixa de 2,3%. O conilon tipo 7 em Vitória/Espírito Santo permaneceu estável em R$ 745,00 a saca.

     “A retranca do produtor acaba forçando um ligeiro descolamento negativo em relação à referência externa, notadamente para os cafés de bebida melhor”, observa o consultor de SAFRAS.

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     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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