Cotações do café enfraquecem em fevereiro, com atenções na guerra

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     Porto Alegre, 04 de março de 2022 – O mercado internacional de café encerrou fevereiro sacudido pelas notícias da guerra entre Rússia e Ucrânia. A Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o arábica teve altos e baixos em fevereiro, mais um mês muito volátil. Em grande parte do mês, NY apresentou sustentação com preocupação com a oferta apertada no curto prazo e com queda nos estoques da bolsa, entre outros aspectos. Mas, a partir da metade para o fim de fevereiro, NY sofreu com a pressão por conta do conflito que se confirmou em guerra que já está no nono dia.

     A ICE Futures US, que baliza a comercialização internacional, já precificou a quebra no potencial da safra brasileira de 2022. O clima agora é melhor para o desenvolvimento final da produção, que em breve começa a ser colhida. Os estoques certificados em NY caíram abaixo de 1 milhão de sacas, o que denota uma preocupação dos compradores, das indústrias torrefadoras globais, buscando os cafés certificados da bolsa, ante o aperto na oferta de curto prazo. Esses são os aspectos principais fundamentais de suporte, além da subida forte do petróleo.

     Ao longo de fevereiro, NY para o contrato maio atingiu máxima de 260,45 centavos de dólar por libra-peso no dia 10. Depois passou por correções técnicas e realização de lucros atingindo mínima de 232,40 centavos no último dia de fevereiro. O mercado então já estava sobre a confirmação da guerra na Ucrânia.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a guerra na Ucrânia deve continuar direcionando os mercados globais, gerando instabilidade e incerteza. Entre as commodities, destaque ao comportamento do petróleo. “Muito embora as sanções do Ocidente tenham poupado gás e petróleo, o estrangulamento financeiro, particularmente com a retirada de bancos russos do Swift, acaba prejudicando o fluxo financeiro e de forma indireta travando transações internacionais, ou pelo menos deixando mais onerosas. E isso serve de motivo adicional para alta dos preços de petróleo”, comenta.

     Ele comenta que a alta no preço de petróleo tem desdobramentos sobre os mercados de energia e também em relação ao custo do transporte, alimentando a espiral inflacionária. Fertilizantes e trigo de forma direta e o milho e a soja de forma indireta também subiram bastante a partir do conflito no Leste da Europa.

     Mas, nem todas as commodities estão subindo acompanhando o petróleo. Algumas acabam repercutindo os sinais negativos vindos com as sanções impostas à Rússia. “O cenário aponta para desaceleração da atividade, inflação mais alta e possibilidade de recessão global. Com isso, uma revisão para baixo nas projeções de demanda. Esse é caso de algodão e café, que andam na contramão do índice CRB e acumulam fortes perdas desde o final da semana passada”, comenta Barabach.

     A Europa é o principal mercado para o café, absorvendo 54,5 milhões de sacas de um total consumido mundialmente de 167,7 milhões de sacas em 2020, segundo a OIC, como salienta o consultor. A região responde por 33% do consumo global da bebida. “Se reduzir somente ao consumo dos países importadores, o percentual de participação da Europa sobe para 47%. Uma região muito importante para demanda de café e que deve sofrer bastante com uma eventual extensão do conflito no Leste da Europa”, adverte. Ele observa que, além disso, a cotação do café estava muito inflada, o que por si só estimulava correções e realizações de lucro na ICE US.

     O contrato maio/2022 do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) acumulou desvalorização de 1,1% em fevereiro, comparando o último dia de negócios de fevereiro, quando o mercado fechou a 232,90 centavos de dólar, com o último dia de janeiro, quando a posição maio fechou a 235,50 centavos. Em Londres, no mesmo comparativo, o contrato maio do café robusta acumulou uma queda de 3,8%.

     Já no Brasil, além da volatilidade de Nova York, o mercado físico lidou com a instabilidade do dólar. A moeda americana no comercial caiu no balanço mensal em 0,8%, de R$ 5,307 ao final de janeiro para R$ 5,155 no fim de fevereiro. O ritmo de negócios foi cauteloso na maior parte do tempo, com os produtores dosando a oferta e com os compradores também acompanhando as oscilações de bolsa e dólar.

     No balanço de fevereiro, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, com 15% de catação, subiu 0,7%, passando de R$ 1.440,00 para R$ 1.450,00 a saca. Porém, o mercado nos primeiros dias de março já cai mais refletindo perdas em NY, com o arábica bebida boa no Sul MG recuando nesta quinta-feira (03 de março) para R$ 1.350,00 a saca. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, em fevereiro, caiu 2,4%, passando de R$ 825,00 para R$ 805,00 a saca.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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