São Paulo, 28 de novembro de 2025 – Em entrevista a jornalistas nesta sexta-feira para comentar o Plano de Negócios da empresa de 2026 a 2030, a presidente-executiva (CEO) da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a empresa buscará aumentar a produção, com novas plataformas e muita disciplina de capital. A executiva destacou o aumento de 11% na produção em 2024 em função do pré-sal e do Almirante Tamandaré e que o novo plano prevê ramp-up de produção em 2027. A companhia prevê fornecer 31% da energia consumida no país.
“Os desafios aumentam, estamos num mundo instável”, disse a CEO na abertura da coletiva de imprensa. “O preço do barril de petróleo cru caiu nos últimos meses, estamos implementando medidas para economizar US$$ 12 bi nos próximos cinco anos”.
Além disso, disse que a estabilidade de produção a partir de 2030 é ponto relevante em relação ao plano anterior.
“O plano foi muito discutido, consideramos as expectativas de crescimento, as expectativas da sociedade em relação à companhia. Hoje, a demanda é por produção com respeito ao meio ambiente. Isso exige muito investimento em pesquisa e desenvolvimento. Também buscamos redução do custo no pré-sal”, disse Magda no final da coletiva.
O CFO Fernando Melgarejo disse que a empresa incluiu um novo nível de governança para avaliar se as premissas adotadas pela companhia foram acertadas na definição de projetos. As premissas estão bastante focadas na produção futura, sempre com o objetivo de ter uma dívida neutra.
“A cotação do Brent é o ponto central do nosso plano. As premissas de preço contém riscos, mas avaliamos que previsões estão corretas”, garantiu o CFO, que disse que a companhia consultou vários especialistas para definir os indicadores.
A presidente da Petrobras disse que “as premissas indicam que 2026 será um ano difícil”. “As projeções têm chance de erro, por isso adotamos cautela no plano, ao definir que 81% dos projetos estão contratados e demais estão em análise de financiabilidade. Com preços mais baixos de petróleo e financiabilidade, começamos a priorizar projetos. Projetos não serão descartados, mas estamos adequando nossa carteira”, explicou a CEO.
Em relação a este ponto, muitas perguntas feitas pelos jornalistas buscaram avaliar quais projetos a Petrobras está considerando “viáveis” dentro do novo plano.
Segundo a presidente da Petrobras, alguns projetos já têm investimento garantido, outros serão avaliados se são viáveis de três em três meses. “O Polo Bahia Terra é um ótimo exemplo da lição de casa feita pela Petrobras. Por enquanto, ele tem sido lucrativo.”
As diretoras de Engenharia e E&P, Renata Baruzzi e Sylvia dos Anjos, disseram que estão refazendo os planos para ter poços prontos e que a companhia não está retirando poços exploratórios.
Magda confirmou que apresentou ao presidente Lula um plano para contratar 5 novos estaleiro Rio Grande, administrado pela Ecovix, em Rio Grande (RS).
Uma estratégia que está sendo adotada pela Petrobras para alcançar melhores resultados é o desenvolvimento complementar, que significa trocar um poço menos produtivo por mais produtivo.
A diretoria também citou que o tempo de interligação de poços caiu de mais de um ano para 7 meses e que busca aumentar a produção nos poços. “Temos vários poços na bacia de Campos, esperamos que volte a produzir 500 mil barris. Já estamos estudando poços complementares em Búzios para evitar queda brusca na produção”, comentou a diretora Sylvia.
A CEO disse que a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3) “está andando” e que a companhia “está abrindo envelopes”. “Para cada pacote teremos 5 empresas disputando, estamos conseguindo bons preços pelas obras que estão sendo licitadas”, disse Chambriard.
Renata Baruzzi disse que a Petrobras tinha 34 licitações simultâneas para diferentes projetos. “Priorizamos projetos e ajustamos cronogramas”, disse a diretora.
Margem Equatorial
Ainda em relação aos projetos, a CEO disse que a empresa já está indo para terceira fase do projeto na Margem Equatorial, “com bop assentado”.
“Na margem equatorial, furamos dois poços que mostraram óleo, vamos perfurar um terceiro poço para avaliar viabilidade do poço”, explicou a diretora de E&P.
SEAP
A presidente da Petrobras disse que o projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP) é um projeto de óleo e gás, então, as duas fontes têm que ser economicamente viáveis, ou seja, taxa de câmbio aceitável, gasoduto para a costa, entre outras premissas. “Para Sergipe sobreviver, o gasoduto tem que acontecer. O projeto terá que disputar recursos”, disse Magda.
Energias
A presidente da Petrobras afirmou que os investimentos em transição energética terão foco em bioprodutos, como diesel coprocessado com 10% do conteúdo renovável e bunker renovável. Segundo Chambriard, a parcela de 10% do diesel tem 87% menos de emissão de CO2.
“Em renováveis, priorizamos bioprodutos em detrimento a eólica e solar”, disse a diretora de Transição Energética, Angélica Laureano, citando os problemas de curtailment por excesso de geração de energia renovável injetada no sistema elétrico brasileiro. “Investimentos nessas áreas poderão acontecer no final do período”, acrescentou a diretora.
Angélica Laureano também confirmou a inclusão de uma térmica de 200 MW no Complexo Boaventura no leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP), que será promovido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para contratar fontes de energia elétrica, como térmicas a gás, carvão e hidrelétricas, para garantir a continuidade do fornecimento do sistema elétrico do país.
Em relação ao etanol, a Petrobras reiterou que deve ter mais novidades em 2026 e que o plano de investimentos na fonte continua, com previsão de US$ 2,2 bilhões, e dentro do escopo de aportes de US$ 81 bi da Carteira em Implantação Base, que engloba os projetos cujo orçamento foi aprovado no Plano, mesmo que ainda não sancionados.
Dividendos extraordinários
O CFO Fernando Melgarejo disse que o platô de produção previsto para os próximos 3,3 anos “só é possível com investimentos”. “É aqui que está a extração de valor dos nossos investimentos e a criação desse valor para toda a sociedade.”
Em relação à dívida da companhia, ele disse que devemos fechar 2025 em torno de US$ 70 bi e em 2026, em torno de US$ 67 bi e nos anos seguintes, deve cair para US$ 65 bi. “A gente espera que com o Brent a US$ 63, a gente consiga pagar a dívida no ano que vem, cerca de R$ 13 bilhões.”
O CFO reiterou que espera que as premissas sejam atendidas. “Mas se o Brent chegar a US$ 59, US$ 60, mesmo assim, teremos uma dívida líquida neutra, ou seja, ela não vai crescer.”
O pré-requisito para o pagamento de dividendos extraordinários é um fluxo de caixa operacional robusto, capaz de deixar a dívida neutra e ter caixa disponível, o que demandará uma cotação do Brent mais elevada ou produção muito maior que a prevista pela Petrobras, explicou o CFO.
“A expectativa de produção já temos. A dúvida é o Brent. Como todo mundo tem um consenso de que não está numa visão altista no curto prazo, muito provavelmente, a gente não vai ter dividendos extraordinários nos próximos períodos”, disse, estimando pagamentos só por volta de 2028.
O executivo acrescentou que a Petrobras não tem problema em distribuir caixa excedente, desde que isso não comprometa os investimentos nos projetos previstos no plano.
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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