O mercado de feijão carioca apresentou uma discreta mudança de tom nesta semana. Segundo o analista de Safras & Mercado, Evandro Oliveira, o movimento não reflete, necessariamente, um aumento da demanda, mas sim uma mudança na forma como os vendedores estão conduzindo a oferta.
“A comercialização física segue travada, com muitos players priorizando vendas casadas ou programadas para entrega futura”, observa Oliveira. “É um movimento coordenado, que visa mudar a percepção de abundância, mantendo a oferta deliberadamente contida para sustentar ou até elevar os preços, mesmo sem tração no consumo”, complementa.
Nas principais praças, houve leve valorização dos lotes mais qualificados. Cargas extras (notas 9 e 9,5) chegaram a ser negociadas entre R$ 250 e R$ 260 por saca em casos pontuais. Já os feijões comerciais (notas 7 a 8,5) também ensaiaram valorização de até R$ 10 por saca em relação à semana anterior, principalmente no interior paulista e em Belo Horizonte.
Na região da Zona Cerealista de São Paulo, a maioria das cargas extras segue estocada, à espera de melhores condições de venda. “Mesmo lotes bem calibrados, como os de nota 8,5, que vinham enfrentando mais dificuldade de saída, foram segurados pelos vendedores”, diz o analista. A leitura do mercado, segundo ele, é que a pressão do lado da oferta diminuiu sensivelmente.
Apesar das altas pontuais, a liquidez segue muito baixa. “Mesmo com a retenção da oferta e os aumentos, os volumes efetivamente negociados são residuais”, aponta Oliveira. O varejo ainda resiste a absorver os preços mais altos, o que mantém o mercado em impasse: o produto está disponível, mas só aparece mediante condições vantajosas para o vendedor. “A força da sustentação atual está baseada mais na estratégia do que em uma real dinâmica de consumo”, conclui.
Feijão preto
Já o mercado do feijão preto permaneceu absolutamente parado nesta semana, com preços nominais entre R$ 140 e R$ 145 por saca (FOB Campos de Cima da Serra) – ainda abaixo do preço mínimo oficial, de R$ 152. A desvalorização continua pressionando a estrutura de comercialização.
“No entanto, o feijão preto conta com algumas âncoras técnicas que podem virar gatilhos positivos adiante”, afirma Oliveira. O principal fator de sustentação é o câmbio. Com o dólar testando os R$ 5,60 nesta semana, a atratividade da exportação aumentou. “O cenário de atrito comercial com os EUA pode manter o viés altista da moeda e contribuir para o fechamento de novos contratos de exportação”, destaca.
Além disso, o mercado está em período típico de entressafra, o que limita a oferta e ajuda a conter uma pressão maior de baixa. Ainda assim, Oliveira alerta: “Mesmo com essa sustentação natural gerada pela escassez momentânea, não há reação concreta do lado comprador.”
A expectativa entre os agentes mais otimistas é de que a melhora na paridade de exportação crie uma “trava psicológica” para novas quedas. Paralelamente, começa a ganhar força no setor a leitura de que será necessário um esforço coordenado de marketing e reestruturação da cadeia para recuperar os fundamentos de consumo da variedade.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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