Porto Alegre, 16 de julho de 2020 – Com aperto na oferta e o forte ritmo da comercialização registrado até o momento no Brasil, as indústrias processadoras de soja e tradings, principalmente no sul do país, estão procurando soja no Paraguai. “Está se confirmando um sentimento que já vínhamos trabalhando em nossas análises”, avalia o analista e consultor de SAFRAS & Mercado, Luiz Fernando Roque, que acredita que o volume importado pelo país – não só do Paraguai – poderá chegar a 1 milhão de toneladas.
“Seria um total de compras inédito. Mas é possível que esse número seja alcançado”, projeta Roque. Ele lembra que cerca de 93% da safra 2019/20 já foi negociada, bem acima da média para o período, que é de 75%. “Claro que as indústrias ainda têm um certo estoque.O país não esmagou tudo isso, não exportou tudo isso, mas o grande fator para ter pouca soja disponível foi a exportação”, completa.
O ritmo dos embarques no primeiro semestre foi muito forte, superando todas as expectativas. O Brasil exportou 60,35 milhões de toneladas de janeiro a junho, 38% acima das 43,728 milhões de toneladas exportadas no mesmo período de 2019.
O analista ressalva que a compra de produto no Paraguai faz sentido em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. “Nestes estados que fazem fronteira com o país vizinho, o custo logístico faz sentido”, explica, destacando a situação dos compradores gaúchos, que enfrentaram uma quebra na safra e têm necessidade de trazer soja de outros estados e de outros países.
Roque lembra que esse movimento de compra nos países vizinhos ocorre sempre, mas não nos volumes desse ano. “Esse ano terá esse crescimento por causa da pouca oferta disponível para o resto do ano. O preço do Brasil vai continuar sustentado e a indústria vai correr para garantir o abastecimento no mercado interno, porque exportou demais no 1º semestre”.
O analista destaca ainda as movimentações washout, recompra de volumes que eram de exportação por parte da indústria para abastecer o mercado interno no final do ano. “Há consultas de indústrias e traders para garantir o abastecimento interno”.
Roque lembra ainda que o esmagamento continua firme no Brasil, principalmente em função das exportações de carnes. “Os embarques de proteína crescem cada vez mais, não só para China como para outros países. Esse fator traz força para o esmagamento e explica também a maior importação esse ano”, acrescenta.
Outro ponto que é preciso ser levado em conta é a necessidade de insumo para produção de biodiesel , para cumprir as metas de B12. O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de biodiesel. Como houve uma boa demanda nos leilões, este é um fator que ajuda a elevar o esmagamento doméstico, aumentando o interesse dos compradores brasileiros na oleaginosa do Paraguai.
Secex
O Paraguai foi o principal fornecedor de soja em grão para o Brasil de janeiro a junho. Das 272,3 mil toneladas importadas pelo pelo Brasil, 270,8 mil vieram do país vizinho. O volume é 240% superior às 79,6 mil toneladas fornecidas pelo Paraguai em 2019. Em segundo lugar, ficou o Uruguai, com 1,4 mil toneladas.
Dylan Della Pasqua (dylan@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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