Outubro castigou o trigo do Paraná com excesso de chuvas e o da Argentina com a falta delas

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Porto Alegre, 28 de outubro de 2022 – O mês de outubro foi marcado por preocupações quanto ao excesso de chuvas que castigou as lavouras de trigo do Paraná. O mercado brasileiro passou a ter agentes na defensiva, em meio ao viés de alta dos preços e às incertezas quanto ao tamanho das perdas no estado.

Nesta semana, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral), a colheita do trigo chegou a 63% no Paraná. Em relatório mensal, a projeção de safra foi cortada de 3,794 milhões para 3,567 milhões de toneladas.

A estimativa de SAFRAS & Mercado é de que o Paraná produza 4,1 milhões de toneladas nesta temporada. Conforme o analista de SAFRAS Consultoria, Élcio Bento, a situação das lavouras no estado não é tão complicada quanto se esperava.

“O volume de chuvas foi tão grande que surgiram especulações de que algo entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas poderiam não ter qualidade para serem processadas pelos moinhos. O destino desse volume seria a indústria de ração. Porém, os primeiros levantamentos de agentes do mercado que visitaram as regiões afetadas mostraram que a situação não é tão complicada quanto se esperava; a chuva não castigou tanto. Estima-se que as perdas na quantidade serão pontuais e o estado terá uma colheita próxima aos 4 milhões de toneladas”, explicou Bento.

O sentimento dos agentes é de alívio. “Pelo volume de chuvas, a situação poderia ser muito pior. Isso prova que os investimentos em variedades mais resistentes ao excesso de chuva e ao acamamento tem trazido benefícios. Uma quebra pontual do montante produzido e apenas 300 mil toneladas de feed pode ser considerada uma vitória diante da força da adversidade climática”, comemorou o analista.

Argentina

Se o Paraná sofre com o excesso de chuvas, a Argentina sofre com a falta delas. A escassez prolongada sobre as lavouras de trigo do país tem provocado seguidos cortes nas projeções de safras.

A produção de trigo da Argentina em 2022/23 pode ser estimada entre 13 e 14 milhões de toneladas por SAFRAS & Mercado. Conforme o analista da SAFRAS Consultoria, Joaquin Arias, a nova projeção mensal está sendo elaborada e deve ser divulgada nos primeiros dias de novembro. A estimativa atual, feita antes das geadas que prejudicaram lavouras do país, é de 16,013 milhões de toneladas.

Nesta quarta-feira, a Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) cortou sua projeção para 13,7 milhões de toneladas. Duas semanas atrás, a entidade estimava 16 milhões de toneladas e, na semana passada, já havia cortado o número para 15 milhões. A estimativa inicial era de 19 milhões de toneladas.

Com estes números, a safra argentina deve ser a menor nos últimos sete anos. A sequência de cortes nas projeções, resultado do clima adverso ao longo de toda a safra, aumenta a preocupação em relação à oferta. Conforme o analista Élcio Bento, o certo é que a quebra da safra argentina terá reflexos no Brasil. As alternativas extra-Mercosul tendem a seguir caras, ao pelo menos até o ingresso da safra nova do Hemisfério Norte em junho de 2023. A Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para aquisições fora do bloco do Mercosul aumenta esse custo.

“Os impactos para os produtores brasileiros serão sentidos de duas formas. Primeiro, pela paridade de importação. Trigo mais caro vindo do exterior permitem que os produtores nacionais elevem suas pedidas. A quebra no Paraná corrobora essa percepção. Segundo, pela paridade de exportação. Essa segunda conta vale mais para o Rio Grande do Sul. O estado se encaminha para uma safra recorde que gerará um excedente próximo a 3 milhões de toneladas. A Argentina menos presente contribuirá para elevação dos preços internacionais e manter a demanda aquecida para o excedente gaúcho. Portanto, a situação crítica na Argentina deve garantir preços mais atrativos ao produtor nacional”, analisou Bento.

Rio Grande do Sul

      Enquanto isso, o Rio Grande do Sul parece encaminhar uma safra praticamente sem perdas, que tende a ser recorde. Assim, o estado deve ser responsável pelo abastecimento dos moinhos paranaenses e pode, até mesmo, fornecer trigo para a própria Argentina.

      A colheita de trigo atinge 7% da área no Rio Grande do Sul. Segundo a Emater/RS, na semana passada, eram 5%. Em igual período do ano passado, 30%. A média dos últimos cinco anos é de 41%. A reavaliação da safra de inverno indica que a área cultivada atinge 1.458.026 hectares. A produtividade estimada é de 3.210 kg/ha.

      A Agência SAFRAS elabora levantamentos periódicos de importantes regiões produtoras de trigo no Paraná e no Rio Grande do Sul. O conteúdo pode ser acessado na Plataforma SAFRAS.

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Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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