Porto Alegre, 27 de dezembro de 2024 – No início do ano, o mercado brasileiro de feijão carioca teve uma ampla oferta, impulsionada pelos remanescentes da terceira safra 2022/23 e pela entrada da primeira safra 2023/24. Segundo o analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira, apesar da abundância, a demanda retraída pressionou os preços. Feijões de alta qualidade (nota 9,5) chegaram a R$ 400/sc, enquanto lotes inferiores variaram de R$ 280 a R$ 300/sc.
“Nos meses seguintes, os preços estabilizaram, mas a liquidez permaneceu baixa. No primeiro trimestre, feijões nota 9 foram cotados a R$ 330/sc, enquanto na Zona Cerealista as cotações variaram entre R$ 305 e R$ 345/sc”, relatou. Ele também destacou que a oferta elevada e a demanda fraca mantiveram os preços pressionados, especialmente para feijões comerciais. A escassez de grãos de escurecimento lento sustentou os preços dos produtos premium, enquanto promoções no varejo estimularam um leve aumento no consumo.
Conforme o analista, em maio, os preços oscilaram conforme a qualidade: feijões extra (nota 9,5) alcançaram R$ 330/sc, enquanto os comerciais variaram entre R$ 155 e R$ 220/sc. “A abundância de grãos inferiores limitou as transações, mas o aumento na demanda de arroz durante as enchentes inesperadamente beneficiou o mercado de feijão”, disse.
Segundo semestre
De acordo com Oliveira, no início do segundo semestre, o mercado apresentou transações regulares e um aumento gradual nos lotes de qualidade superior (nota 8,5+), graças à terceira safra. Feijões extra (nota 9,5, cultivares Agronorte/Dama) tiveram pedidas de R$ 280 a R$ 290/sc, com negociações confirmadas durante a madrugada. Lotes nota 8,5 (IAC2051) atingiram até R$ 240/sc. Mercadorias de qualidade média (notas 7,5 e 8), remanescentes do Paraná, também estavam disponíveis, com destaque para Minas Gerais, São Paulo e Paraná como principais fornecedores.
“Já nos meses seguintes, a demanda permaneceu fraca, refletindo a calmaria nas regiões produtoras, onde a colheita da terceira safra 2023/24 avançava. Compradores pressionaram por preços mais baixos, com propostas abaixo de R$ 280,00 para feijões extra (nota 9,5+, cultivares Agronorte/Dama) sendo frequentemente aceitas. Produtores, por sua vez, optaram por armazenar estoques, apostando em uma recuperação de preços até o final do ano”, explicou.
Nas regiões produtoras, Oliveira afirma que a liquidez foi limitada e os preços continuaram em queda. Feijões extra das cultivares Dama e Agronorte foram negociados entre R$ 260,00 e R$ 270,00/sc, com relatos de vendas pontuais a R$ 265,00/sc. Para produtos de qualidade intermediária (nota 8,5 ou superior), descontos de até R$ 20,00/sc foram oferecidos, mas compradores seguiram retraídos, demonstrando pouco interesse em novas aquisições.
“Em novembro, a liquidez foi moderada e dentro das expectativas para o período. As ofertas vieram principalmente do sudoeste de São Paulo, onde as chuvas prejudicaram a qualidade dos grãos, causando manchas e brotações. Feijões comerciais com boa coloração, mas afetados pelas chuvas, foram negociados a R$ 185,00/sc. Lotes intermediários (nota 8,5 com leves manchas) alcançaram R$ 220,00/sc, enquanto feijões de nota 8 ficaram em R$ 215,00/sc. Feijões especiais de escurecimento lento (nota 8,5) foram ofertados a R$ 260,00/sc”, pontuou.
Ainda conforme o analista, a comercialização ao longo do mês foi moderada, com preços ajustados à qualidade dos grãos. Chuvas contínuas no sudoeste de São Paulo prejudicaram a colheita e comprometeram a qualidade de grãos futuros, enquanto regiões como Itapeva (SP) ofertaram produtos de melhor qualidade. Apesar disso, lotes afetados pelas chuvas foram vendidos a preços menores, e o mercado operou majoritariamente com preços nominais, devido à baixa reposição no varejo.
Para dezembro, a demanda permaneceu restrita aos estoques do varejo, com empacotadores evitando grandes reposições antes das festividades. Negociações foram escassas, concentrando-se em lotes comerciais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Nos lotes paranaenses, grãos pequenos e manchados devido ao excesso de chuvas pressionaram ainda mais os preços.
Feijão preto
De acordo com o analista, no início do ano, o feijão preto enfrentou dificuldades devido à oferta limitada e à pressão climática no Paraná, com chuvas escassas e altas temperaturas prejudicando a produção. O feijão preto extra nacional foi cotado entre R$ 410 e R$ 430/sc, enquanto o argentino chegou a R$ 450/sc.
No primeiro trimestre, os preços permaneceram elevados, mas a resistência dos compradores limitou as negociações. Produtos de menor qualidade variaram entre R$ 380 e R$ 400/sc, enquanto o extra nacional se manteve próximo de R$ 420 a R$ 430/sc. O avanço da colheita em março aumentou a oferta e reduziu levemente os preços.
No segundo trimestre, a entrada de novos lotes, frequentemente de qualidade inferior, pressionou o mercado. Grãos de alta qualidade ficaram estáveis entre R$ 260 e R$ 270/sc, enquanto padrões inferiores oscilaram de R$ 210 a R$ 240/sc. Perdas climáticas no Rio Grande do Sul, com redução de 40% na produção, impulsionaram a demanda no Paraná e elevaram os preços no final de maio. A abertura de exportações para o México trouxe alívio aos estoques domésticos robustos.
Já no segundo semestre, a liquidez caiu drasticamente, com grandes compradores pouco interessados em novas aquisições. Em regiões como Primavera do Leste (MT) e Campo Mourão (PR), os preços ficaram entre R$ 250 e R$ 260/sc, mas as negociações foram pontuais. A desvalorização do real sustentou exportações, superando importações em oito vezes. Entre janeiro e novembro de 2024, o Brasil exportou 277,91 mil toneladas, gerando US$ 268,18 milhões, enquanto importou 33,06 mil toneladas, com gastos de US$ 28,88 milhões.