Porto Alegre, 2 de outubro de 2024 – O atual cenário econômico vivenciado pelo Brasil pode fazer com que haja novos aumentos na taxa de juros pelo Banco Central. Essa expectativa foi apresentada na primeira palestra do 8o Safras Agri Week, evento totalmente on-line e gratuito que está sendo realizado nos dias 2 e 3 de outubro, pelo gestor da BBT Asset, Raphael Juan. Sob o tema Cenário Macroeconômico e Impactos para o Agro, ele destaca que há uma projeção de aumento de meio ponto percentual na taxa de juros pelo Banco Central em novembro e dezembro, chegando a 11,75% no final do ano. Para janeiro de 2025, há uma tendência de que a taxa possa ser elevada em 0,25 ponto percentual, chegando a 12%.
Para Juan, o Brasil está andando na contramão de outros países, tendo que elevar a taxa de juros para tentar converter a inflação dentro da meta. Além disso é preciso destacar que o problema fiscal brasileiro segue presente. “De certo modo, a elevação do rating de crédito do Brasil anunciada ontem pela Agência Moodys trouxe surpresa ao mercado”, afirma.
Juan acrescenta que o câmbio no Brasil poderia ficar mais baixo, com o real mais valorizado, mas isso não ocorre pelo fato de que o efeito do spread entre a taxa de juros do país e a dos Estados Unidos, atualmente em 5,75%, é muito alto. Com a expectativa de novos cortes na taxa de juros estadunidense e a elevação prevista no Brasil, esse spread pode chegar a 7,75% em janeiro.
O analista econômico e político do Canal Rural, Miguel Daoud, sinalizou que, com o atual cenário inflacionário e de juros em alta, há uma desconfiança do próprio governo em conseguir cumprir o ajuste fiscal das contas públicas. “O Brasil tem hoje 98 milhões de pessoas na rede de proteção social do governo e não parece haver uma saída daqui para frente para isso, pois ele depende do povo para se manter no poder”, disse.
Daoud comenta que qualquer mudança econômica observada no cenário internacional traz dificuldades para que o setor tenha ganhos. Essa questão também afeta o produtor rural, uma vez que a agropecuária no país depende muito de uma base de troca entre os produtores e as indústrias. Qualquer falta de previsibilidade traz dificuldades aos produtores para administrar os apertos na economia global.
Daoud acrescenta que pode haver uma certa instabilidade no mercado, especialmente na inflação, com o aumento da energia e dos alimentos por conta da seca no Brasil. Também preocupa, segundo ele, a escalada do petróleo com o acirramento do conflito no Oriente Médio.
Arno Baasch – arno@safras.com.br (Safras News)
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