Porto Alegre, 27 de outubro de 2023 – A semana foi de volatilidade, de altos e baixos, no mercado internacional do café. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o arábica, que baliza o mercado, as cotações emendaram seis sessões consecutivas de altas até o dia 24 e atingiram os patamares mais elevados em 4 meses no contrato dezembro. Depois, veio a correção na quarta e quinta-feira (dias 25 e 26), com NY devolvendo parte dos ganhos acumulados.
Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a queda do dólar, a alta do petróleo e as constantes baixas nos estoques certificados da bolsa de NY serviram de apoio ao avanço do café. Porém, o café interrompeu essa sequência de ganhos e caiu forte, diante dos sinais de que o mercado estava sobrecomprado depois dessa forte valorização das últimas semanas. “A intensidade já chamava a atenção, abrindo espaço para movimentos corretivos”, salienta Barabach.
Ele comenta que a questão dos estoques certificados de café na ICE US ganhou bastante visibilidade, diante do interesse de cobertura de compra acima da oferta de venda, revelando um mercado “squeezado” para a posição dezembro/23. “Isso serviu de impulso adicional aos ganhos em bolsa. Os estoques de café depositados dentro dos armazéns credenciados da bolsa de NY caíram a 410 mil sacas ao final do pregão do último dia 25 de outubro. É o patamar mais baixo desde outubro de 2022, quando os estoques terminaram o mês com apenas 385 mil sacas”, destacou.
Mas, o consultor observa que esta é uma situação bastante comum nos últimos anos, com a bolsa tendo dificuldade de recompor estoques. “E isso traz ao mercado a sensação de aperto na oferta no curto prazo. Muito embora a causa da queda nos estoques certificados esteja mais atrelada a distorções entre o preço praticado no mercado físico e a referência de bolsa (arbitragem), do que propriamente à pouca disponibilidade de café”, ressalta Barabach. Na verdade, ele indica, não está valendo certificar café na bolsa. “A conta não está fechando. É que o preço recebido pelo produtor no porto de origem é mais elevado que o que vai receber ao entregar esse mesmo produto na bolsa, descontadas as despesas. E, assim, a chegada de café na ICE US tem diminuído”, explica o consultor.
Nos fundamentos, o consultor indica que há poucas mudanças. Observa que há alguns reportes de atraso nos embarques no porto de Santos, devido à falta de contêineres ou ao clima adverso. Porém, pondera Barabach, o volume envolvido não indica, até o momento, problemas mais sérios em relação ao ritmo de exportação de café do Brasil. “Trata-se apena de um inconveniente pontual”, avalia.
Além disso, o determinante fundamental do mercado é o potencial da próxima safra brasileira, aponta o consultor. “Mesmo com chuvas abaixo do esperado e temperaturas elevadas em algumas regiões produtoras, no geral, o quadro ainda é bastante favorável à safra brasileira 2024. O mercado também se prepara para receber mais café de outras origens, que tem o início de um novo ciclo produtivo ao longo do último trimestre do ano, como é o caso da América Central e Colômbia. E os embarques de café robusta do Vietnã devem voltar a crescer especialmente a partir do próximo mês de novembro”, analisa Barabach.
Nesse sentido, para ele, não houve uma mudança no quadro fundamental que justificasse uma alteração mais consistente na tendência da curva de preços internacionais do café arábica, mas apenas uma correção impulsionada por fatores financeiros. “Em todo caso, isso ajudou o café a se afastar das mínimas e desenhar um fundo aparente. Mas sem novidades do lado fundamental, que tirem o comprador da sua zona de conforto, o mercado deve continuar encontrando dificuldade de sustentar ganhos mais expressivos no longo prazo. E isso tende a limitar o avanço das cotações”, adverte o consultor.
No balanço semanal do arábica na Bolsa de NY entre as quintas-feiras 19 e 26, o contrato dezembro caiu de 163,95 para 161,20 centavos de dólar por libra-peso, baixa de 1,7%. O robusta em Londres esteve mais firme, subindo no comparativo no contrato janeiro 0,7% no balanço.
Mesmo com a correção em NY para baixo e com o dólar caindo 1,2% no balanço dos últimos sete dias, o mercado físico brasileiro de café manteve seus preços no arábica e conilon. “Percebe-se um crescimento no fluxo de negócios no disponível e um maior interesse por posições antecipadas com safra futura. O produtor buscou aproveitar o repique de alta para fixar posições. Afinal de contas, o preço físico, mesmo com o diferencial mais fraco, acabou avançando bem apoiado no salto na ICE US e na volatilidade cambial”, comenta Barabach.
No balanço dos últimos sete dias, entre 19 e 26 de outubro, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais ficou estável em R$ 855,00 a saca na base de compra. Já o conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, permaneceu em R$ 645,00 a saca na base de compra.
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Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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