Café cai e testa patamar de 230 centavos em NY, com pressão do mercado financeiro

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    Porto Alegre, 26 de julho de 2024 – Depois de atingir 255,30 centavos de dólar por libra-peso na sessão de 11 de julho, refletindo entre outros fatores revisões para baixo na safra brasileira de café, o arábica na Bolsa de Nova York perdeu terreno. Nessa semana, o mercado testou a linha de 230 cents, alterando o patamar de atuação diante dos sinais de exaustão do movimento de alta e mudança no comportamento de alguns operadores, como destaca o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach.

“O avanço da colheita no Brasil e o aumento da oferta disponível de arábica serviu de gatilho para as perdas. Porém, o principal fator é financeiro. A alta do dólar, especialmente em relação às moedas emergentes, acaba gerando pressão negativa contra os preços”, avalia Barabach. Ele observa que isso veio junto com a queda no petróleo, estimulando baixas no preço da bebida, que foram ganhando força à medida que as linhas de suportes foram perdidas, acionando novas ordens de venda.

Barabach comenta que, no lado financeiro, a disparada do dólar, especialmente em relação à moeda brasileira, mas também ao peso colombiano, acabou jogando contra os preços do café arábica em NY, mas também acabou pressionando o café robusta em Londres. “O mercado cambial reflete as indicações de desaceleração da atividade nas economias dos EUA e China, bem como o menor crescimento mundial. Mercado aguarda os dados de inflação dos EUA, que se vierem positivos podem estimular o Fed a iniciar o corte de juros, antecipando-se às indicações preocupantes em relação ao desempenho da economia norte-americana”, analista o consultor. Isso pode beneficiar os emergentes inicialmente, enquanto no Brasil os operadores seguem bastante cautelosos, diante dos temores em relação ao quadro fiscal interno.

Essa leitura pessimista no lado financeiro reforça a ideia de exaustão de alta nos preços e leva a uma mudança de postura, estimulando realização de lucro dos comprados em bolsa, pondera Barabach. Os fundos já haviam ensaiado esse movimento na semana anterior, quando ao final do pregão do dia 16 de julho haviam reduzido sua carteira líquida comprada em futuros de café na bolsa de NY para perto de 71 mil contratos. Isso representava uma pequena queda em relação aos 75,4 mil contratos líquidos comprados na semana que antecedeu. “A carteira líquida comprada ainda é bastante elevada, mas os sinais de perda de força no preço das commodities acabam incentivando o desmanche dessas operações, o que contribuiu com a queda nos preços”, indica Barabach.

Para o consultor, em resumo, as perdas estão relacionadas a um realinhamento na curva de preços do café, que estava muito esticada. “Os fundamentos ainda são fortes, especialmente para o café robusta em Londres. A oferta disponível é curta no Vietnã, devido ao avanço da entressafra, e os produtores continuam cautelosos, considerando a possibilidade de a próxima safra, a ser colhida no último trimestre do ano, ser menor que a atual”, comenta.

Ele avalia ainda que, na Indonésia, o fluxo melhora, mas a oferta permanece controlada, com maior interesse de compra do que oferta, o que também ajuda a manter os preços valorizados. “Os estoques curtos junto às indústrias geram uma corrida de compras e favorecem a firmeza das cotações e inibem as investidas de baixa. Essa lógica só tende a ser quebrada com uma mudança na narrativa produtiva, que poderia ocorrer com a perspectiva de melhora na produção na temporada 2025/26, que começa a ser desenhada com as floradas no Brasil entre setembro e outubro”, conclui Barabach.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Safras News

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