Brasil tem preços firmes, poucos negócios e espaço para novas altas no trigo

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Porto Alegre, 7 de junho de 2024 – Os preços do trigo no Brasil estão cerca de 10% acima do mesmo momento do ano passado. Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, o movimento é lento no mercado interno, mas as cotações seguem firmes e ainda há espaço para novas elevações, considerando a paridade de importação.

Preço mínimo

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou nesta quarta-feira (5) a atualização dos preços mínimos para o trigo em grãos e em semente da safra 2024/2025. Os novos preços são fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), por meio de voto, de acordo com a proposta enviada pelo Mapa e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

    Os valores serão utilizados como referência nas operações ligadas à Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que visa garantir uma remuneração mínima aos produtores rurais.

    Os preços mínimos do trigo em grãos tiveram reajuste nas três regiões produtoras do país: Sul (-10,55%), Sudeste (-11,55%) e Centro-Oeste/Bahia (-15,75%), para os três tipos do cereal com base do pH e nas quatro modalidades especificadas (básico, doméstico, pão e melhorador). Os valores ficarão entre R$ 33,49 e R$ 84,63 a saca de 60 kg, válidos entre julho deste ano até junho de 2025.

Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, esse era um ajuste esperado. “No ciclo anterior, num momento em que a invasão russa à Ucrânia elevou os preços e os custos de produção do cereal, o órgão governamental elevou esse preço que serve de referência para intervenções para garantir renda ao produtor em 10,8%. Utilizando como referência a região sul brasileira, o preço mínimo subiu de R$ 1.320/tonelada para R$ 1.420/tonelada”, lembra.

Ele explica que, a partir do segundo semestre, as incertezas relacionadas à guerra foram precificadas e os preços/custos reduziram. “Como os preços no Brasil são formados de fora para dentro, a queda internacional refletiu no Brasil. O resultado é que, mesmo com o governo intervindo com a realização de leilões de PEP e PEPRO, os preços de mercado foram superar os mínimos apenas no final de maio de 2024”, disse.

Ainda levando em consideração a região sul, o preço de referência será de R$ 1.308,50/tonelada. Com as cotações internacionais em alta a Rússia já tem preços que superam os do mesmo período do ano passado em 5% – a tendência é que o mínimo esteja muito próximo da realidade de preços de mercado. Atualmente, a safra nova é indicada a R$ 1.250/1300 a tonelada.

Plantio Conab

O plantio de trigo avançou para 35,8% da área estimada para a temporada 2023/24 nos oito principais estados produtores do Brasil (Goiás, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul que representam 99,9% do total), conforme levantamento semanal da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com dados recolhidos até 2 de junho. Na semana anterior, a semeadura estava em 29,6%. Em igual período do ano passado, o número era de 40,9%.

Paraná

O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, informou, em seu relatório semanal, que o plantio da safra 2023/24 de trigo do estado atingiu 73% da área estimada de 1,139 milhão de hectares. Ela deve ficar 19% abaixo dos 1,415 milhão de hectares cultivados em 2023.

Segundo o Deral, 84% das lavouras apresentam boas condições, 12% situação média e 4% ruins, entre as fases de germinação (24%) e crescimento vegetativo (76%). No dia 27 de maio, o plantio atingia 59% da área, com 82% das lavouras em boas condições, 14% em situação média e 4% ruins, nas fases de germinação (32%) e crescimento vegetativo (68%).

A safra 2023/24 de trigo do Paraná deve registrar uma produção de 3,795 milhões de toneladas, 4% acima das 3,643 milhões de toneladas colhidas na temporada 2023. A produtividade média é estimada em 3.331 quilos por hectare, acima dos 2.582 quilos por hectare registrados na temporada 2023.

Argentina

A intenção de plantio com trigo na safra 2024/25 da Argentina foi reajustada pelos analistas de Safras & Mercado de 6.005.567 hectares para 6.108.646 hectares. A produção foi projetada em 18,054 milhões de toneladas, contra 17,313 milhões previstas anteriormente. O número atualizado representa uma alta de 13% em relação às 14,831 milhões de toneladas produzidas no ano passado.

Conforme o analista Lautaro Borghes, o aumento deve-se às melhores condições hídricas iniciais na comparação com o mesmo momento da safra passada. Atualmente, os perfis de umidade são favoráveis em grande parte das regiões produtoras.

A comercialização da safra 2023/24 de trigo da Argentina atinge 10,274 milhões de toneladas até 15 de maio. Segundo o ministério da agroindústria do país, 7,269 milhões de toneladas são para o setor exportador e 3,005 milhões são para a indústria.

O plantio de trigo atinge 25,7% da área na Argentina. Segundo a Bolsa de Buenos Aires, os trabalhos avançaram 16 pontos percentuais desde a semana passada. Em relação às últimas cinco safras, o atraso é de 7,1 pontos percentuais. A superfície é projetada em 6,2 milhões de hectares. No ano passado, foram 5,9 milhões. Em número absolutos, já foram semeados 1,592 milhão de hectares.

Rússia

A consultoria agrícola russa Sovecon projeta que a safra de trigo do país caia para 80,7 milhões de toneladas este ano, abaixo de sua previsão anterior de 82,1 milhões de toneladas. A Sovecon já havia reduzido suas previsões nesta primavera, citando geadas excepcionalmente severas. Em março, a safra era esperada em 94 milhões de toneladas.

Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Safras News

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