Porto Alegre, 8 de março de 2023 – A soja brasileira pode se tornar um produto de “segunda categoria” no mercado internacional, caso a cadeia da cultura não se organize. O alerta é do chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, que concedeu entrevistas exclusiva à Agência SAFRAS durante a Expodireto Cotrijal 2023.
Segundo ele, o futuro da soja é a agregação de valor aos produtos e subprodutos permitindo uma diversificação de usos e de mercados. Os Estados Unidos já estão avançados nesse sentido, com cinco variedades de soja com qualidade de óleo alterada sendo cultivadas, e um aumento gradual das áreas destinadas a elas, por isso, “precisamos ter cuidado” para não ficarmos para trás.
Melhoramento genético
A soja é composta de baixos níveis de ácido oleico, e altos níveis de ácido palmítico e linolênico. O aumento da qualidade da oleaginosa passa por incrementar, através do melhoramento genético, a quantidade de ácido oleico, e diminuir os outros dois.
“O ácido palmítico, em grande presença num motor em ambiente frio, solidifica. Isso é um grande problema para quem usa o biocombustível à base de soja no sul do Brasil, por exemplo. O linolênico, na combustão, gera borra e atrapalha o funcionamento do motor. Quando corrigimos isso, temos um óleo mais propício para a queima. Além disso, o ácido oleico é mais saudável; nós queremos que ele seja próximo em qualidade aos óleos que têm pouca gordura trans, como o de oliva, de girassol e de canola, ou até melhor”, explicou. “Se é bom para o coração, é bom para o motor”, brincou.
Economia de química verde
Recentemente, a Food and Drugs Administration (FDA, órgão regulador dos EUA) anunciou a decisão de iniciar a redução gradual, ou retirada de circulação de óleos menos saudáveis. “Estamos mudando de uma economia fóssil para uma economia de química verde”, a fabricante de aviões AirBus testou o uso de óleo de soja melhorado como biocombustível no A320; a Goodyear lançou um pneu à base de óleo de soja. O diretor-chefe da Embrapa reitera: “precisamos começar a criar sistemas que agreguem valor às nossas commodities”.
Desfio comercial
Observando o potencial de crescimento da produção de soja na África, ele vê um benefício à segurança alimentar global, à qualidade de vida no continente, mas um desafio comercial ao Brasil. Isso porque a organização agrícola e de infraestrutura é um plano da China, que não quer mais depender apenas das sojas brasileira e estadunidense. Atualmente, aproximadamente 80% das nossas exportações da oleaginosa vão para o país asiático.
“Há quem diga que a África pode plantar em até 300 milhões de hectares. Com ferrovias, estradas, portos e capacitação da mão de obra, em especial no trabalho de melhoria do solo, em trinta anos teremos um grande competidor”, ao mesmo tempo, Nepomuceno acredita que o Brasil tem potencial de dobrar sua produção nesse período. “Sem derrubar uma árvore, é importante dizer. O país tem área para crescer e competência técnica para aumentar a produtividade”, de acordo com ele, são de 150 a 160 milhões de hectares em áreas degradadas de pastagem que podem ser recuperadas para produzir alimentos.
Pesquisa e desenvolvimento
O chefe-geral da Embrapa Soja ressalta que o papel da empresa de pesquisa é desenvolver a tecnologia e oferecer as variedades. “Se o mercado não quiser agora, pode querer depois e precisamos estar prontos”. A soja com qualidade de óleo diferenciada já está sendo desenvolvida.
“Como somos empresa pública e estamos sem dinheiro, estamos numa velocidade menor. Pelo melhoramento clássico, o processo deve durar de três a cinco anos. Já estamos com plantas editadas, através da edição gênica, que manipula o DNA da própria soja para alterar o metabolismo do óleo”, ele comemora avanços positivos na pesquisa na última semana.
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Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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