Porto Alegre, 23 de julho de 2020 – O resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos pode deixar o Brasil em posição difícil no cenário internacional seja com a vitória de Donald Trump, atual ocupante da Casa Branca, ou de seu principal opositor, Joe Biden, afirmou Sérgio Amaral, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
“Se Trump for reeleito, o que não parece provável no momento, haverá continuidade”, disse Amaral. “Isso deixa perspectiva desconfortável para nós, no que diz respeito à continuação deste conflito entre Estados Unidos e China. Pode nos colocar em dilema difícil, de ter – e não sei por que – que tomar lado nessa disputa”, afirmou ele durante videoconferência promovida pelo Conselho das Américas.
“Não somos parte da disputa, não buscamos hegemonia mundial, e temos interesses nos dois lados. Queremos manter relação muito boa com Estados Unidos e também gostaríamos e precisamos manter uma parceria muito boa com a China na área econômica”, disse Amaral.
“Se confronto piorar, teremos que fortalecer alianças com a Europa, por exemplo, com a América Latina, no que seria uma mudança na balança de poder num mundo multilateral”.
Ele ressaltou que, no caso de Biden, o problema seria o conflito das agendas de interesse do Brasil e do novo presidente, que deve promover maior participação do Estado tanto como indutor da economia como na redução da desigualdade, e na defesa do meio ambiente – algo que já traz problemas para o Brasil nas relações com a Europa.
“Teríamos um descompasso de agenda, o que deve deixar as coisas mais difíceis, principalmente na área de meio ambiente. Teremos que fazer mais, para não ter muito barulho nesta relação”, disse Amaral.
Ele acredita que um governo Biden será a manutenção do isolamento internacional do Brasil. “Já estamos isolados. O que as pessoas na Europa dizem é que não vão ratificar o acordo Mercosul UE se não mudarmos políticas em relação à Amazônia e se os números sobre desmatamento não derem resultados”, afirmou.
“Aparentemente tomamos a decisão errada de ser hostis, ou mais distantes, dos principais parceiros na área de comércio e investimentos, Europa e China. Se tivermos, além disso, relações mais difíceis com governo Biden, por motivos similares, ficaremos muito isolados no mundo. Nossos projetos domésticos e internacionais podem ser prejudicados”, disse ele.
Amaral também destacou que o Brasil decidiu ser uma economia liberal, com menor participação do estado e maior abertura ao comércio mundial, no momento em que a tendência global vai no caminho contrário disso.
“No momento em que queremos ter muito menos estado, economia mais aberta, mundo está indo em direção diferente, mais uma vez estamos atrasados em relação ao mundo. E ficaremos de novo isolados em relação à tendência geral do mundo”, acrescentou. As informações são da Agência CMA.
Revisão: Rodrigo Ramos (rodrigo@safras.com.br) / Agência SAFRAS
Copyright 2020 – Grupo CMA