Porto Alegre, 28 de setembro de 2022 – O Brasil deve se tornar uma força no mercado exportador de trigo dentro de dez ou quinze anos. A projeção é do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.
Durante o 29° Congresso Internacional da Indústria do Trigo, realizado de 25 a 27 de setembro em Foz do Iguaçu (PR), analistas e dirigentes de entidades do setor concordaram com esse cenário. O chefe geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, disse que a produção nacional deve superar os 20 milhões de toneladas até 2030. Assim, conforme o coordenador do FGV Agro, Roberto Rodrigues, “daqui a dez anos, as exportações anuais do Brasil devem chegar a 10 milhões de toneladas”.
Concorrência com atual fornecedor
O Brasil deve começar a competir com a Argentina no mercado exportador. Segundo o consultor do mercado de trigo, Pablo Maluenda, o Brasil já não é mais um mercado tão importante da Argentina. Ao mesmo tempo, os exportadores argentinos competem com os russos, atualmente.
O presidente da Câmara Arbitral de Cereais de Buenos Aires, Jorge Omar Viola, salienta que estes mercados aonde a Argentina chegou atualmente, no Norte da África e no Sudeste asiático são tradicionalmente da Rússia e da França. É uma situação pontual, devido à guerra, que permite essa entrada no momento. Ele observa que são os fretes e a qualidade que determinam a competição.
Já o presidente da Câmara Arbitral de Cereais de Rosário, Julio Roldán, pontua que o Brasil ainda é o maior importador do trigo argentino e, mesmo que diminua os volumes, não deve deixar de comprar o produto.
A diversificação dos destinos pelos exportadores argentinos foi propiciada pelas questões logísticas deflagradas com a pandemia e com a guerra na Ucrânia. Roldán disse desconhecer medidas do governo ou do setor exportador argentino para agregar valor ao grão no exterior. O incentivo governamental vai no sentido de aumentar a área plantada com trigo no país, segundo ele.
Fornecimento e concorrência da Rússia
Apesar do recente acirramento das tensões no Mar Negro, o diretor comercial de trigo da agroindustrial Sodrugestvo, Douglas Araújo disse que as exportações russas seguem operando normalmente. “Os fatos recentes têm mais um cunho militar. Comercialmente, não há fato novo”, ele salientou que o corredor de grãos vem funcionando muito bem. “Resta saber se o acordo, que vence em novembro, será renovado ou não”.
Araújo ressaltou a dependência de países importadores da oferta russa, visto que é o único país com maior excedente. “Os países precisam de uma Rússia ativa. O mundo caminha para 8 bilhões de pessoas ainda em 2022. É importante observarmos a China que, recentemente, aprovou a importação do grão russo. Outro fator é o tamanho da safra da Índia, portanto o próximo relatório do USDA [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos] é crucial”, o dirigente não fez projeções para o longo prazo e lembrou que o imposto sobre exportação na Rússia “traz o comércio para o curto prazo”.
Sobre a concorrência argentina, Araújo disse que o país sul-americano é mais competitivo na época da safra, enquanto a Rússia domina o mercado do Sudeste asiático no primeiro e segundo trimestres de cada ano comercial. Nos outros dois, perde o fôlego e concentra seu fornecimento no Norte da África e no Oriente Médio, que são mercados mais próximos.
Estados Unidos
Também presente no Congresso, o diretor regional da U.S. Wheat Associates na América do Sul, Miguel Galdós, disse que o Brasil, mesmo que passe a ser um exportador de trigo, deve continuar importando. “Os Estados Unidos são importante vendedor e ainda compra trigo do Canadá”, disse.
Na América do Sul, o trigo estadunidense chega a Colômbia, Chile, Peru, Ecuador, Bolívia e Brasil, tendo concorrência da Argentina em todos estes. Os EUA levam vantagem na Colômbia e no Ecuador, enquanto a Argentina lidera nos demais. O principal comprador do grão dos EUA é o México, enquanto o da Argentina é o Brasil.
Assim como a Argentina, a presença dos EUA em mercados do norte da África e do Oriente Médio é conjuntural, conforme Galdós. “Quando o fornecimento pelo Mar Negro se regularizar, esses mercados seguirão naturalmente sendo de Rússia e Ucrânia”, ele ainda chama a atenção para o baixo uso de fertilizantes na nova safra argentina, o que pode reduzir a produtividade e a qualidade do grão. “Aí os Estados Unidos também teriam um papel importante”
O dirigente disse que a U.S. Wheat aproveitou o Congresso para sondar clientes, identificar oportunidades de negócios e de colaboração. “A venda do nosso trigo está aberta todo ano, não temos restrições às exportações. Seguiremos sendo ator importante no mercado internacional”, frisou. Recentemente, a entidade vem promovendo o trigo estadunidense na América do Sul através de um programa de formação de padeiros. A ideia é que os alunos conheçam a qualidade do produto norte-americano e se tornem novos clientes.
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Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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