São Paulo -A Bolsa fechou em leve alta, praticamente estável, pelo sétimo pregão seguido, perdeu força no final da sessão desta terça-feira, mas conseguiu se segurar no patamar dos 135 mil pontos, influenciada por fluxo estrangeiro, e um momento em que os Estados Unidos seguem em conflitos comerciais com a China, o Brasil se beneficia com os investidores em busca de oportunidades com os ativos bem descontados.
Em relação às ações, o Pão de Açúcar (PCAR3) liderou os ganhos do índice com 8%, refletindo notícias relacionadas à governança da empresa, disse Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.
Outra ação de destaque positivo foi a Petrorio (PRIO3), que subiu 2,51%, com a elevação de seu preço-alvo para R$ 60,00 pelo banco Citi, além de uma expectativa de resultados muito positivos.
Na ponta negativa, Azul (AZUL4) caiu 10,76% com a conclusão recente de sua oferta de ações e enfrenta uma fase complicada de reestruturação. Outra queda foi da Natura (NTCO3), que ainda sofre os efeitos de resultados recentes que decepcionaram bastante o mercado, disse head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.
As ações da Gerdau (GGBR4) e Metalúrgica Gerdau (GOAU4) inverteram o movimento para positivo após a teleconferência de resultados do primeiro trimestre de 2025, mas não conseguiram se manter em alta e fecharam em queda de 1,15% e 0,46%, respectivamente. A empresa se diz otimista com a operação nos EUA, mas deve reduzir o capex em regiões como o México por esperar uma reconfiguração da indústria automotiva global.
O principal índice da B3 subiu 0,05%, aos 135.092,99 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho registrou ganho 0,05%, aos 137.370 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,6 bilhões. Em NY, os índices fecharam no positivo.
Valter Bianchi, sócio fundador e diretor da gestora Fundamenta Investimentos, avalia que o movimento de alta moderada reflete uma tranquilidade momentânea em relação aos indicadores divulgados, enquanto novos capítulos da novela da guerra de tarifas não são anunciados. Mas o analista acredita que a volatilidade início do mês devido ao turbilhão causado pelo governo Trump não deve cair no esquecimento.
“Uma série de anúncios pelo governo dos EUA estão alterando a confiança dos mercados em todo o mundo em aspectos importantes. A principal mudança é a confiabilidade no dólar como moeda de reserva forte. Desde o fim da Segunda Guerra, os EUA desempenham o papel de potência econômica incontestável, foi o principal arquiteto da OMC (Organização Mundial do Comércio). Desde que os EUA se desenvolveram e se configuraram como a maior potência econômica, começou a se preocupar com a definição de mecanismos para manter o mundo dentro das regras que gostaria que fossem jogadas”.
No entanto, o crescimento da relevância China na economia global trouxe mudanças que estão alterando as expectativas do mercado e a confiança em relação aos Estados Unidos.
“Atualmente, a ordem de grandeza da China confronta com a economia dos EUA, apesar de ser militarmente inferior. Tem vários indicadores que mostram que a China fez sua lição de casa. Enquanto isso, nos EUA, houve uma grande perda de empregos e forte aumento da regulamentação. Os preços dos produtos caíram, mas existe uma grande massa de pessoas que acham que o país está sendo solapado e deram voto para um líder que dá voz ao eleitor que está revoltado”.
“O cristal de confiança que os EUA construíram está sendo destruído com a política de tarifas que está assustando. E ele[Donald Trump] está suscitando um espírito imperialista que os EUA não exerciam antes. Tudo isso está rompendo a confiança que existia em relação aos EUA. Os EUA serão mais bélicos e beligerantes para defender seus interesses e isso vai reorganizar as cadeias produtivas”, avalia o sócio da Fundamenta.
“O Brasil pode se beneficiar se mantiver uma postura de neutralidade e sua potência no agronegócio, pode fortalecer sua posição nas cadeias globais de produção”, acrescenta.
Na sua avaliação, esse movimento está favorecendo a Bolsa brasileira. “Boa parte das altas recentes pode refletir um otimismo em relação ao posicionamento do Brasil no mercado global. No entanto, a dívida pública está subindo a taxas preocupantes que pode atrapalhar nesse processo. Então, o tema fiscal pode voltar ao centro das discussões”.
“Em relação aos indicadores, o Jolts veio um pouco abaixo da expectativa, mas, na minha visão, ainda não reflete as expectativas do mercado em relação ao cenário macro pós medidas de Trump. Já os dados de confiança começam a refletir a preocupação dos agentes com as políticas de Trump”.
Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o Ibovespa tem sido sustentado por papéis de menor peso.
“Tirando os dois maiores papéis da bolsa-Petrobras e Vale, o restante dos ativos ou boa parte deles estão próximos das máximas históricas, o setor bancário de forma geral está forte, e elétricas renovando máximas históricas-com exceção da Eletrobras e Cemig, que têm um desconto por serem estatais. Mesmo assim estão com bom nível de valorização. Se houver uma mudança de fluxo pra Petrobras e Vale, é possível a gente ver esses papéis voltando a performarem melhor. E se não tiver mudança no cenário atual, é possível ver o Ibovespa renovar máximas históricas. Se a gente vir esse movimento de entrada de fluxo nos dois maiores ativos da bolsa, certamente a gente pode ver o Ibovespa com potencial de testar até os 150.000 pontos, acho que é uma região factível até o final do ano, e se a gente não tiver nenhuma mudança estrutural ou uma piora significativa no cenário global por conta da das tarifas e desses conflitos econômicos, principalmente, por Estados Unidos e China”.
Lourenço disse que o Ibovespa está próximo das máximas históricas em 137.500 pts.
“A gente tem visto um fluxo mais forte para o mercado emergente de forma geral, mas o mercado brasileiro acaba se destacando quando se compara aos principais ETFs, que negociam no mercado americano. O Brasil segue sendo uma posição bastante forte nesse curto prazo. O fluxo de dólar também tem contribuído com o enfraquecimento da moeda nas últimas semanas. E os DIs negociando abaixo dos 14% em todos os vencimentos, com exceção do DI 2026, já reforça também esse movimento de alta nas ações brasileiras. Os juros e a inflação seguem no radar do mercado. O juro começa a precificar melhora, é um cenário mais benigno para Brasil. Nesse cenário todo global, o fiscal brasileiro acaba sendo minimizado. O mercado de alguma forma já começa a trabalhar com a possibilidade mais firme de um fim de ciclo de aperto monetário no Brasil e, possivelmente, até no segundo semestre um início de um ciclo de baixa do dos juros”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou a R$ 5,6306 para venda, com desvalorização de 0,29%. Às 17h05, o dólar futuro para maio tinha baixa de 0,44% a R$ 5.632,500. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, subia 0,22% a 99,23 pontos.
O dólar caiu, refletindo fluxo para emergentes em dia de falta de gatilho específico.
Marcos Weigt, head de tesouraria da Travelex Brasil, disse que “hoje não tem um gatilho específico, mas tem fluxo para bolsa e para renda fixa. O Brasil é relativamente menos afetado por essas tarifas e com um juro de 14% e um juro real de 9% vai atrair investimentos de curto. A incerteza é tão grande nos [países] desenvolvidos e na China, que os investidores querem diversificar dessa vez, inclusive em emergentes”.
Leonardo Santana, analista da Top Gain, disse que aa entrada de capital ajuda o dólar. “Estamos descolados, bolsa perto da máxima histórica, capital externo entrando novamente no País. Os gringos estão vendidos no dólar, o que faz com que descole um pouco do mundo. O mercado apostando no acordo da guerra comercial entre China e EUA”.
“Esse movimento foi impulsionado sobretudo pela entrada consistente de fluxo estrangeiro em ativos domésticos. O Ibovespa registrou mais um pregão positivo, e a curva de juros fechou de forma significativa na última semana”, resume Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
Segundo ele, a tendência permanece mesmo diante da indefinição sobre as negociações comerciais entre EUA e China. “Contudo, a amplitude do dólar hoje está limitada pela expectativa do payroll americano na sexta-feira e pelas decisões de juros do Federal Reserve e do Copom na próxima semana, o que mantém investidores em compasso de espera”.
No cenário doméstico, a alta inesperada de 0,24 % no IGP-M de abril, ante projeção de queda, reacendeu preocupações sobre a evolução dos preços agrícolas e suas implicações na inflação ao consumidor. “Esse ambiente mantém vivo o debate sobre a sustentabilidade do processo de desinflação dos alimentos e sustenta o interesse por ativos indexados a índices de preço”, diz Shahini.
O IGP-M acelerou 0,24% em abril, avanço em relação a março, quando registrou queda de 0,34%. Com esse resultado, o índice acumula alta de 1,23% no ano e 8,50% nos últimos 12 meses. Em abril de 2024, o IGP-M registrou uma alta de 0,31% no mês, acumulando uma redução de 3,04% em 12 meses.
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse hoje, durante coletiva para detalhar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado mais cedo, que a instituição e o Comitê de Política Monetária (Copom) não têm desconforto com a meta de inflação de 3%. “Estamos fazendo nosso caminho para perseguir a meta. O Brasil não está fora do normal ao ter essa meta. Ela não parece estar díspar de nossos pares”, afirmou, ao ser questionado se a atual política de juros não prejudicaria as empresas não financeiras.
Os Estados Unidos registraram 7,192 milhões de postos de trabalho abertos no último dia útil de março, uma queda em relação aos 7,480 milhões registrados um mês antes (dado revisado), segundo o relatório de emprego e vagas (Jolts, na sigla em inglês) divulgado pelo Departamento do Trabalho, que não inclui o setor rural.
Na contramão do dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em leve alta, em dia de volatilidade, com mercado precificando mais duas altas da Selic, em 0,50 ponto porcentual (pp) e 0,25 pp, e encerrar o ciclo.
Por volta das 16h10 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,685% de 14,675% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 13,950%, de 13,905%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,550%, de 13,540%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,630% de 13,640% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, com o Dow Jones atingindo as máximas do dia depois que a Casa Branca afirmou que um importante acordo comercial está prestes a ser anunciado.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,75%, 40.527,62 pontos
Nasdaq 100: +0,55%, 17.461,30 pontos
S&P 500: +0,58%, 5.560,83 pontos
Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua e Darlan de Azevedo / Safras News