São Paulo – A Bolsa fechou estável, com leve queda de 0,03%, em uma sessão de bastante volatilidade após as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causar nervosismo nos mercados mundiais. O índice chegou a operar boa parte do pregão em alta.
As tarifas impostas pelo mandatário americano ao Brasil de 10% foram vistas como menos prejudiciais que de outros países. As ações ligadas às commodities foram prejudicadas pela queda da cotação do petróleo no mercado internacional. Em contrapartida, o Indice Small Caps subiu.
As ações da Vale (VALE3) caíram 3,61% e as da Petrobras (PETR3 e PETR4), recuaram 3,52% e 3,22%.
A queda dos juros futuros impulsiona as empresas do setor de educação, consumo, varejo e construção. Magazine Luiza (MGLU3) subiu 5,45%. Os bancos avançaram em bloco. Indice Small Caps (SMLL) avançou 1,08%.
Já o recuo do dólar, prejudica as ações de Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3)-perda de 1,64% e 4,43%.
O principal índice da B3 caiu 0,03%, aos 131.140,65 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 0,75%, aos 131.740 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27,9 bilhões. Em Nova York, os índices despencaram.
Alexsandro Nishimura, diretor da Nomos, disse que hoje o mercado refletiu as tarifas de Trump.
“Enquanto nos EUA e a grande maioria das bolsas o dia foi de queda, com temores de escalada da guerra comercial e o impacto sobre a atividade econômica, o Ibovespa refletiu uma percepção do Brasil como um dos menores prejudicados, uma vez que é difícil falar em ganhadores. A tarifa mínima imposta pelos Estados Unidos a produtos importados do Brasil ajudou para o Ibovespa suavizar as perdas do início do dia, mesmo com as fortes perdas das produtoras de commodities, passando a subir com o impulso das ações cíclicas”.
Nishimura chamou a atenção para a diferença entre a ligeira alta do Ibovespa e os ganhos mais expressivos do índice Small Caps.
“Enquanto o Ibovespa tem maior peso das commodities, o SMLL tem maior exposição às empresas ligadas à atividade interna”.
Davi Lelis, sócio e economista da Valor Investimentos, disse que “os países da América Latina, com 10% de tarifa, pode ser que tenham benefícios marginais com essas tarifas, caso façam o dever de casa. Se o Brasil, Argentina, Uruguai conseguirem abocanhar um mercado que agora está voando e mais volátil, a gente pode aumentar as exportações e suprir o mercado externo, que agora fica sem fornecedores, uma vez que as tarifas encarecem as importações e exportações dos Estados Unidos. A OMC [Organização Mundial do Comércio] também fez um alerta recente, dizendo que as tarifas do Trump podem reduzir o comércio global em até 1% neste ano nos volumes de mercadoria”.
Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que o mercado enxergou que o tarifaço de Trump veio menos ruim para o Brasil.
“Ele [Donald Trump] impôs as tarifas para os países e quando olha no relativo, o Brasil acabou sendo um dos menos prejudicados com uma tarifa de 10%. O mercado encara isso como um ponto positivo, dado que foi menos agressivo do que os outros parceiros comerciais, e que isso pode atrair algum tipo de investimento para o Brasil. Eu acho muito cedo para supor isso. O Brasil foi, realmente, menos prejudicado, mas já assumir que vai atrair empresas, investimentos para o País, é muito complicado. A gente já vinha com a bolsa outperformando [subindo aciama da média] os outros mercados, e com essa notícia acabou dando um pouco mais de força. Com realização do mundo inteiro, o investidor acaba alocando em Brasil, ainda tem um pouco de fluxo de zerada under em Brasil, mas deve estar no final. Não é necessariamente uma compra por fundamento, mas compra forçada, dado que o mundo inteiro está caindo, o Brasil não estava em queda. A Bolsa brasileira é a única que subia. Ações como Petrobras e Vale caem refletindo a queda do petróleo com medo de recessão global”.
Silva ressaltou que a fala de Lula que vai tomar “todas as medidas” sobre a decisão dos Estados Unidos de taxar Brasil pode ser “perigoso”.
Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, disse que em relação à taxação aos produtos do Brasil exportados para os Estados Unidos “tem um lado bom, de certa forma. A gente entrou naquela faixa mínima de taxação de 10%. Se fosse levar em consideração as premissas matemáticas, talvez o Brasil nem entraria nessa taxação porque a gente é deficitário na relação comercial com os Estados Unidos. O Trump e a sua equipe econômica estão preocupados com a balança {comercial]. Eles acreditam que precisam ser superavitários em cima das transações comerciai. Se está sendo deficitário, ele vai exigir um subsídio de alguma maneira”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou a R$ 5,6259 para venda, com desvalorização de 1,17%. Às 17h05, o dólar futuro para maio tinha baixa de 1,24% a R$ 5.648,000. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, recuava 1,60% a 102,14 pontos.
O dólar perdeu força frente ao real, acompanhando o enfraquecimento da moeda norte-americana diante de seus pares, reflexo do tarifaço anunciado ontem pelo presidente norte-americano Donald Trump. A nova política tarifária dos Estados Unidos trouxe preocupação e incertezas generalizadas no mercado global.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem à tarde um “tarifaço” global sobre impostos de importação. A data foi nomeada pelo republicano como o “Dia de Libertação”. Os produtos brasileiros serão taxados em 10%. Trump prometeu implementar tarifas recíprocas a países que cobram taxa de importação de produtos americanos. No evento, ele anunciou tarifa de 20% sobre a União Europeia, 34% sobre a China, 46%, 20% sobre a União Europeia, 25% sobre a Coreia do Sul, India, 26% e Reino Unido, 10%.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, disse que a queda do dólar mostra preocupação com recessão nos Estados Unidos. “O anúncio [das tarifas impostas por Trump] gerou temores de inflação e recessão nos Estados Unidos, o que levou os investidores a procurar mercados mais atrativos, isso acabou prejudicando o dólar. Como o Brasil está no radar como uma das moedas emergentes mais líquidas, o real se valorizou hoje, mas outras moedas emergentes também. Mas vale destacar que talvez essa seja uma primeira reação do mercado. As incertezas fiscais aqui continuam e podem limitar investimentos estrangeiros no médio prazo. É difícil dizer se a queda de hoje vai ser tendência para os próximos dias ou não”.
Para o sócio da Top Gain Leonardo Santana, essa forte queda da divisa estadunidense, impactada pelas tarifas, já era esperada, e foi potencializada pelo intenso fluxo estrangeiro.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda forte em linha com as treasuries refletindo o temor de recessão nos Estados Unidos com o tarifaço de Trump.
Por volta das 16h32 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,795% de 14,980% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,415%, de 14,795%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,155%, de 14,575%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,185% de 14,575% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta quinta-feira em forte queda, com o S&P 500 retornando ao território de correção e registrando sua maior perda diária desde 2020. O movimento foi impulsionado pelo anúncio do ex-presidente Donald Trump sobre novas tarifas abrangentes, intensificando os temores de uma guerra comercial global e de uma possível recessão.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -3,98%, 40.545,93 pontos
Nasdaq 100: -5,97%, 16.551 pontos
S&P 500: -4,83%, 5.396,52 pontos
Dylan Della Pasqua e Larissa Bernardes / Agência Safras News