São Paulo -O pregão foi de forte aversão ao risco global, mas a bolsa brasileira caiu em menor proporção que seus pares, perdeu quase 4 mil pontos, com queda generalizada das ações. O Ibovespa foi impactado pela resposta da China ao tarifaço de Donald Trump e o medo de uma recessão global. As commodities despencaram. Na semana, o índice caiu 3,52%.
A Vale (VALE3) perdeu 3,99%. Petrobras (PETR3 e PETR4) recuou 4,18% e 4,02% com a forte queda do petróleo em mais de 5%.
O Carrefour (CRFB3) liderou os ganhos em 10,76% do índice em um pregão de pouquíssimas altas. A valorização refletiu um fator externo, com elevação no preço de relação de troca de ações em seu processo de deslistagem. Os frigoríficos subiram em bloco.
Mais cedo, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, disse que ainda é cedo para dizer qual será o caminho da política monetária dos Estados Unidos.
O principal índice da B3 recuou 2,96%, aos 127.256,00 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril caiu 3,22%, aos 127.550 pontos. O giro financeiro foi de R$ 31,6 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.
Ricardo Leite, head de renda da Diagrama Investimentos disse que a queda generalizada dos ativos de risco reflete a retaliação chinesa sobre os produtos americanos, após os Estados Unidos taxar o país asiático em 34%, e a queda das commodities.
Leite disse que a resposta da China “pode ser ruim para o Brasil, é uma preocupação para nós. China e Estados Unidos podem pedir posição do Brasil”.
Rafael Weber, analista da RJI Gestão e Investimentos, disse que o dia de aversão ao risco geral com possibilidade de uma recessão global.
“Com a taxação a vários países e, principalmente, os principais parceiros com sobretaxa acima do esperado, a tendência é que o mercado acredite em uma recessão global. O Goldman e o JP Morgan [bancos de investimentos] estão dando probabilidade de recessão. A chance de uma recessão cresceu muito, com isso as commodities vêm para o mesmo movimento. O petróleo e as metálicas estão desabando. E para quem é produtor de commodities como o Brasil, a situação é delicada. A nossa balança comercial é predominante de commodities. Com a queda do petróleo, a nossa balança comercial é impactada e nosso fiscal também. Todo mundo está reduzindo risco, botando no bolso e fazendo caixa porque não sabe onde vai parar. Se a recessão tomar conta, continuar essa briga feia e escalonar até de forma geopolítica, pode ficar complicado”.
Weber explicou que “se vier uma recessão profunda, a conta dos países produtores pode ser impactada. O Brasil é frágil nas contas públicas. Se tiver arrecadação do petróleo menor, e o governo não faz a lição de casa de cortar despesas, o déficit pode aumentar. Se tivéssemos feito a lição de casa, seria tranquilo para o BC cortar juros como gostaria. O nosso fiscal está amarrado no lugar errado que é em commodities e arrecadação”.
Em termos de ações, o analista da RJI Gestão e Investimentos disse que os frigoríficos se beneficiam.
“O Japão foi muito machucado pelas tarifas de Trump. Talvez os americanos vendam menos carne para o Japão, e pode ser uma oportunidade para nós”.
Mais cedo, o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos divulgou que foram criados 228 mil postos de trabalho ema março, enquanto a previsão era de 137,5 mil vagas. O salário médio por hora no setor privado somou US$ 36, alta de 0,3% ante os US$ 35,91 registrados em fevereiro e aumento de 3,8% na comparação com os US$ 34,67 de março de 2024.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que o payroll veio forte, e dificulta o trabalho do banco central americano.
“O dado afeta o mercado financeiro. Hoje de manhã já estava com uma leitura ruim do mercado sobre atividade e isso aumenta a chance de corte de juros em maio. Isso dificulta o trabalho do banco central americano, mas ainda acho que o Fed vem, pelo menos, com um corte ainda nesse primeiro semestre. Na balança de riscos de projeções do banco central americano, principalmente, o Powell deve estar entre aqueles mais preocupados com a atividade, o que favoreceria esse corte de juros dando algum alívio nas expectativas. O payroll talvez seja uma pimenta negativa nessa sexta-feira que já está bem ruim, com a guerra comercial depois da resposta da China”.
Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que o pregão de hoje é risk off [falta de apetite ao risco] de verdade diante de um cenário incerto globalmente.
No câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 3,65%, cotado a R$ 5,8351. A sessão foi marcada por forte aversão global ao risco, após a China anunciar, em retaliação às medidas protecionistas norte-americanas, a sobretaxação em 34% dos bens produzidos pelos Estados Unidos. As falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que demonstraram preocupação com o rumo desta guerra tarifária, corroboraram para o fortalecimento da divisa estadunidense. Na semana, a moeda teve valorização de 1,29%.
Segundo a economista da Valor Investimentos Paloma Lopes acredita que a postura conservadora de Powell, – que mais cedo mostrou pessimismo com as tarifas comerciais impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que devem culminar em inflação alta e desaceleração econômica – foi mais um ingrediente que contribuiu para o descontrole generalizado dos mercados.
Além disso, observa Lopes, faz com que existe certa postura de cautela no mercado de commodities, mas que em um futuro próximo o Brasil pode ser beneficiado nesta seara.
Para o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, os ativos de risco estão sofrendo hoje, especialmente as moedas emergentes ligadas às commodities.
O economista acredita que o payroll, divulgado nesta manhã, ficou sem segundo plano neste cenário conturbado. Foram criadas 228 mil vagas de trabalho, em março, nos Estados Unidos. A projeção era de 137,5 mil.
Serrano entende, contudo, que os fundamentos do real seguem positivos e na próxima semana a divisa brasileira tende a ganhar fôlego novamente.
Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, por mais que a guerra comercial entre China e Estados Unidos possa criar oportunidades, o movimento gera risk-off global, e deve surtir uma desaceleração no comércio mundial.
Ao contrário do câmbio, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda. Isso reflete certo temor de desaceleração global, puxado pela guerra tarifária protagonizada pelos Estados Unidos.
Por volta das 16h43 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,655% de 14,740% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,225%, de 14,375%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,995%, de 14,105%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,060% de 14,130% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda expressiva de 5%, após a China retaliar com novas tarifas sobre produtos dos Estados Unidos, despertando temores de que o presidente Donald Trump tenha iniciado uma guerra comercial global que levará a uma recessão.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -5,50%, 38.314,86 pontos
Nasdaq 100: -5,82%, 15.587,8 pontos
S&P 500: -5,97%, 5.074,08 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News