São Paulo – A Bolsa fechou em queda em um dia de cautela com o temor do mercado de uma possível retaliação dos Estados Unidos ao Brasil, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em condenar, pela tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro e os sete réus.
Com a possibilidade de corte de juros nos Estados Unidos, na semana que vem, e chance de uma sanção ao Brasil, os investidores ficam apreensivos se os estrangeiros seguirão investindo aqui. Na semana, o índice caiu 0,28%.
Ontem o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que os Estados Unidos reprovam a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses, e que o governo americano vai responder à altura. O Itamaraty contestou e defendeu o Judiciário. A
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 0,88% e 0,66%. Itaú (ITUB4) perdeu 1,50%.
O principal índice da B3 caiu 0,61%, aos 142.271,58 pontos. Às 17h27 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuava 0,61%, aos 143.885 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,4 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.
Felipe SantAnna, especialista em mercado financeiro do grupo Axia Investing, disse que o tom é de cautela na bolsa com os temores de possíveis sanções dos Estados Unidos e, se isso se dar como os players estrangeiros investirão no Brasil.
“É quase um consenso que o julgamento de ontem [do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos sete réus pela 1 turma do STF] foi constrangedor e trouxe todos os problemas de volta com a atitude dos ministros. O voto do Fux [Luiz] trouxe uma leitura para a maioria que teria um questionamento menor lá fora e isso aliviaria a [Lei] Magnitsk e a relação com os eua. Os investidores deixaram de comprar, quem podia realizar realizou, tirou ânimo [de a bolsa atingir] os145 mil/150 mil. Queremos saber qual será a reação do secretário do estado americano e do Trump [Donald]?. Qual será a escalada da [Lei] Magnitsky, e como o mercado e grandes players vão reagir?. Se [o Fed] cortar os juros lá, será que o dinheiro vem pra cá? Diante desse cenário, o tom é de cautela, ninguém arrisca”.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, disse que”o Ibovespa e o Dow Jones não sustentaram altas fortes, em um movimento normal após um rali que durou vários dias e anotou máximas para os índices. Nasdaq e S&P500 continuam se beneficiando da expectativa de cortes de juros a partir da semana que vem. Parte dos investidores pode ter desmontado posições em ativos brasileiros antes do fim de semana, de olho em possíveis retaliações dos EUA ao Brasil após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
Gabriel Jardim, CEO da Trade Arena, disse que os investidores mantêm cautela, após a decisão do STF sobre a condenação do Bolsonaro e mais sete réus envolvidos na trama golpista.
“A decisão gera uma incerteza política sobre o Brasil com pressão dos EUA, e o voto do Fux [ministro do STF, Luiz Fux] agravou a situação, no sentido de deixar mais dúvidas. Com a condenação do Bolsonaro e o assassinato do americano Charlie Kirk [ativista morreu essa semana, após ser atingido por uma bala no pescoço], a tendência é que o Trump seja mais agressivo e firme nas decisões. Provavelmente, terão nas sanções e embates. Por outro lado, tivemos o primeiro mês de deflação [IPCA de agosto caiu 0,11%] e o Lula reforçou que a tendência é que a gente consiga controlar mais os preços, ao que faz a gente ter mais confiança na agenda econômica nas próximas semanas”.
No câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,70%, cotado a R$ 5,3536. Foi o menor patamar desde o dia 7 de junho de 2024. A moeda refletiu, ao longo do dia, a expectativa de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, concorra nas próximas eleições presidenciais, além do iminente corte nas taxas básicas de juros norte-americanas, que deve começar na próxima semana. A divisa, que já perdeu 13% em 2025, teve desvalorização de 1,13% na semana.
Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, por ora o mercado está ignorando as eventuais sanções de Trump contra o Brasil, após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que abriria espaço para Tarcísio em 2026.
Komura acredita que o iminente corte dos juros nos Estados Unidos também contribui para o movimento de hoje, já que o diferencial de juros no Brasil vai ficar ainda mais atrativo.
Para o economista André Perfeito, “no day after da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro o mercado parece reagir a perspectiva de que o candidato da direita deve ser mesmo Tarcísio de Freitas”.
“Reitero a perspectiva técnica/grafista da moeda norte americana, se por acaso romper o patamar dos R$ 5,30 o mercado voará às cegas tendo como ponto gráfico relevante os R$ 5,10. Isto impõe maior precaução por parte dos investidores que podem tentar interpretar os sinais locais como piores, mas no fundo, se opera no horizonte relevante das eleições de 2026”, explicou Perfeito.
Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que os Serviços avançaram 0,3% em julho ate junho, em linha com as projeções do Termômetro Safras.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam mistas, próximas ao zero. A última sessão da semana foi marcada pela cautela com o cenário político, após condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete réus por liderar a trama golpista, além do iminente corte dos juros nos Estados Unidos.
Por volta das 16h38 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,895% de 14,895% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,05%, de 14,030%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,310%, de 13,310%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,215% de 13,215% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, à medida que investidores interpretaram os sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho e inflação moderada como indícios de que o Federal Reserve reduzirá as taxas de juros na próxima semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,59%, 45.834,22 pontos
Nasdaq 100: -0,03%, 22.141,10 pontos
S&P 500: -0,32%, 6.584,29 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

