São Paulo -A Bolsa fechou em queda expressiva pelo terceiro dia seguido, oscilou entre a máxima de 128.410,57 pontos e a mínima de 123.876,24 pontos, em uma sessão de muita volatilidade, refletindo o temor de uma recessão global com possíveis retaliações tarifárias de países estratégicos aos Estados Unidos.
Trump disse hoje que não tem a intenção de pausar tarifas, e que pretende fazer acordos com todos os países.
A Petrobras (PETR3 e PETR4) caiu 5,56% e 3,96%. A Vale (VALE3) recuou 1,19%. Magazine Luiza (MGLU3) perdeu 6,37%.
O principal índice da B3 caiu 1,31%, aos 125.588,09 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 1,21%, aos 125.970 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,1 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.
Alexsandro Nishimura, economista e diretor da Nomos, disse a incerteza toma conta do mercado.
“A amplitude entre a mínima e a máxima do Ibovespa chegou a quase 5 mil pontos, com o pior momento nos primeiros minutos da sessão, para logo em seguida reagir aos rumores de que a Casa Branca estaria considerando postergar por 90 dias a cobrança das tarifas. Tal rumor foi desmentido e Trump ainda dobrou a aposta ao dizer que pode impor mais 50% sobre a taxa já aplicada na China, caso Pequim não retire as tarifas anunciadas de forma retaliatórias na semana passada. Esse movimento reforçou a percepção de que o cenário permanece incerto, dependendo de um possível avanço nas negociações ou de uma mudança na postura dos EUA”.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que a volatilidade impera no mercado na sessão de hoje.
“Essa tributação acaba sendo mais nociva para a economia dos Estados Unidos que as de outros países. Acho que ele [O Trump] pode voltar pode atrás Ele pode estar forçando o Fed flexibilizar juros. O estrago está feito. O grande temor do mercado é que as retaliações empurram com toda a força para um contexto de recessão. Se tiver uma retaliação de países estratégicos, como o caso da China, empurra o mundo pra recessão. Já temos um problema desenhado, já é provável. Nesses momentos, tudo fica muito sensível, são muitos ruídos, cada hora tem uma interpretação e o mercado sente. É dia de bastante volatilidade”.
Lima disse que nesses momentos de crise é interessante o investidor ter estratégias para longo aprazo, para os de curto prazo esperar o momento de recuperação.
“É interessante o investidor alocar com liquidez em renda fixa e, aos poucos, retirar de lá e trazer para a renda variável. Agora é uma janela de oportunidade para compra de commodities, em especial petróleo, porque existe uma demanda continua e perpétua de derivados de petróleo. Volatilidade pontual. O investidor de curto prazo não se aventure no momento. Nada caiu tanto que não possa cair mais. Curtíssimo prazo, dar pausa e esperar sinal de recuperação”.
Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que “o grande medo do mercado é uma recessão global e de outros países começarem a aplicar tarifas como fez a China”.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, disse que “as tarifas de Trump são ruins, mas estamos entrando em um contexto de guerra comercial, que é pior. Não são só os Estados Unidos, os outros países decidiram subir as tarifas. Aparentemente, todo mundo vai subir tarifas e não sabemos e não sabemos o vai acontecer. Estamos em um campo sem defesa. Nos primeiros dias, as commodities caíam e os DIs também, agora não é mais esse retrato. As commodities e a parte cíclica caem”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 1,29%, cotado a R$ 5,9108. A divisa refletiu, ao longo da sessão, o temor de que a guerra tarifária gere não apenas uma recessão nos Estado Unidos, mas global.
Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, a animosidade entre China e Estados Unidos tem potencial para causar uma recessão global: “Muita gente tem recorrido ao dólar como segurança”, avalia.
Vanei Nagem, sócio da Pronto! Invest, disse que a abertura do mercado foi de pânico, mas o câmbio melhora com perspectiva de que o Trump dê uma pausa nas tarifas.
“O mercado amanheceu bem nervoso, mas está se acomodando até mesmo porque o Brasil é um pouco diferente de muitos países, que tiveram taxas maiores. Essa melhora no câmbio se deve a consideração do Trump em dar uma pausa de 90 nas tarifas para os países, com exceção da China. Temos até expectativa de aumento de negócios [com essa taxação]. A estimativa é que o dólar caía”.
Nagem disse que “ninguém sabe o que está acontecendo”.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, disse que “o mercado trabalhou com uma melhora porque tínhamos escapado das tarifas de Trump [não fomos tão taxados como outros países], mas em um segundo momento, a China vai apanhar bastante, e hoje temos correlação com China. Se ela afundar, vamos afundar junto. O nosso câmbio está indo embora, e isso gera um risco de ter um efeito da queda das commodities contrabalançado com a alta do dólar. Tem a chance de o governo se sentir confortável de fazer em fazer novos estímulos para amortecer esse efeito recessivo das tarifas do Trump”.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. Existe temor de que eventuais retaliações aos Estados Unidos possam resultar em uma recessão naquele país.
Por volta das 16h41 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,680% de 14,665% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,205%, de 14,190%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,015%, de 13,940%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,115% de 14,030% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam mistos, após o presidente Donald Trump ameaçar hoje tarifas ainda mais altas contra a China.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,91%, 37.965,60 pontos
Nasdaq 100: +0,10%, 15.003,3 pontos
S&P 500: -0,23%, 5.062,25 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News