São Paulo – A Bolsa fechou em queda refletindo o acirramento da guerra comercial em que o presidente americano, Donald Trump, ampliou as tarifas contra os chineses conforme promessa se a China não retirasse a taxação de 34% sobre os produtos importados dos Estados Unidos.
O pregão foi marcado novamente por volatilidade, atingiu máxima de 127.651,60 pontos no interdiário e a mínima de 123.454,24 pontos. As ações ligadas às commodities sofreram.
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 3,19% e 3,55%. Vale (VALE3) recuou 5,47%. Gerdau (GGBR4) perdeu 4,10% e CNS(CSNA3) registrou queda de 5,70%.
O destaque negativo ficou para Magazine Luiza (MGLU3) em 13,41%, após o Citi rebaixar recomendação para venda. Na ponta positiva, CPFL (CPFE3) subiu 3,39%.
O principal índice da B3 caiu 1,31%, aos 123.931,89 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril registrou queda 1,24%, aos 124.250 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Felipe SantAnna, especialista em mercado financeiro, disse que “estamos vivendo novamente a volatilidade e as incertezas dos tempos da pandemia. Temos uma guerra de tarifas, egos e poder, e perdemos a mão, não é mais só uma questão econômica. Próximo ao fechamento das ações, o mercado perdeu o fundo e está acelerando a queda. Ainda não temos a resposta oficial da China, e precisamos disso para entender os rumos de curto prazo. Tem um problemão pela frente, a abertura dos mercados asiáticos hoje à noite”.
Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que ainda o dia é de volatilidade.
“O mercado esteve nesses últimos dias. Hoje vemos um pouco de melhora no humor com alta das bolsas europeias, dos Estados Unidos e a nossa bolsa também chegou a subir. Mas ainda devemos ver um dia de volatilidade. Havia uma expectativa de que talvez pudesse ter algum desfecho melhor, alguma tratativa, ajuste e que fosse parado alguma aresta nessas tarifas anunciadas pelo Trump, mas por enquanto não tem nenhuma notícia que avente um acordo, pelo contrário. A China diz que não vai negociar [com os EUA] desse jeito, com pressão. Pode ser que as coisas escalem, e assim o mercado vai pesar porque se a China não tirar os 34%, os EUA confirmarem mais 50% de uma tarifa extra e o país asiático pensar em outra retaliação, vai ficar complicado”.
Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que “o mercado respirando um pouco depois da grande volatilidade dos últimos dias. O SP500 está reagindo melhor que as commodities. O Ibovespa caiu menos que o S&Pa, é natural que na volta ele tenha uma performance inferior. Amanhã vai ser um dia importante, pois as tarifas entram em vigor. E o Trump está dizendo que está com conversas boas com alguns presidentes”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 1,43%, cotado a R$ 5,9959. A moeda refletiu, especialmente a partir do final da manhã, a guerra comercial que tem os Estados Unidos como protagonistas.
“O movimento de aversão a risco impactou todos os mercados de risco, não só o real. O processo de negociação das tarifas de importação americana abala o equilíbrio comercial global. Em momentos de incerteza o capital migra para portos seguros e o real estava no caminho, desvalorizou. Hoje, os Estados Unidos aumentaram a tarifa de produtos chineses pela terceira vez”, explicou o gerente geral da Warren nos Estados Unidos, Álvaro Marangoni.
Segundo o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, “a única coisa que ele [o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump] está conseguindo é pressionar a inflação norte-americana e global. Os Estados Unidos ainda dependem de muita coisa de fora”.
Trump deu prazo até as 13 horas (horário de Brasília) para a China retirar a tarifa de 34% sobre os produtos americanos. Se não acontecer essa remoção, os Estados Unidos aplicarão tarifas adicionais de 50%, elevando para 104% considerando a taxa de 20% aplicada em março.
Lucas Brigato, sócio da Ethimos Investimentos, disse que as tensões seguem elevadas, “pois temos alguém que tem poder de fogo pra brigar com o Trump. Estranho é ver a China lutando por livre comércio e Estados Unidos sendo protecionista. Aumentou bastante o número de críticos a essa estratégia ‘suicida’ e vejo que ele [o Trump] está perdendo apoio aos poucos. Voltar atrás não é do feitio dele, mas devemos ter alguma flexibilidade sendo tratada nos bastidores se realmente o coro ficar mais pesado sobre ele”.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. Elas refletiram, ao longo da sessão, as incertezas que rondam a guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Por volta das 16h41 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,745% de 14,700% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,330%, de 14,215%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,165%, de 14,045%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,280% de 14,165% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda, à medida que um rali de alívio se mostrou de curta duração e a ansiedade dos investidores retornou diante do próximo prazo das tarifas do presidente Donald Trump, quando será aplicada uma tarifa acumulada de 104% sobre a China logo após a meia-noite.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,84%, 37.645,59 pontos
Nasdaq 100: -2,15%, 15.267,9 pontos
S&P 500: -1,57%, 4.982,77 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News

