São Paulo -A Bolsa despencou mais de 2%, oscilou entre a máxima de 137.321,13 pontos e a mínima de 133.996,87 pontos, e terminou na marca dos 134 mil pts, em um pregão de forte estresse com os investidores temendo as consequências, após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, envolvendo a Lei Magnitsky. O setor financeiro tombou, com destaque para o Banco do Brasil.
O Banco do Brasil caiu 6,02%, cotado a R$ 19,80. As ações perderam aproximadamente R$ 6,8 bilhões do valor de mercado, considerando o preço das ações de fechamento.
O Itaú (ITUB4) perdeu 3,04%. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) despencou 3,28% e 3,42%. Santander (SANB11) registrou queda de 4,87%. BTG Pactual (BPAC11) caiu 3,48%.
O principal índice da B3 caiu 2,10%, aos 134.432,26 pontos. Às 17h16 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuava 2,43%, aos 136.655 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,6 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.
Felipe SantAnna, especialista em mercado financeiro do grupo Axia Investing, disse que o mercado está estressado com medo da lei Magnitsky.
“Ontem, o ministro [do STF] Dino [Flávio Dino] despachou um ofício aos bancos e à Febraban, praticamente proibindo ações de bancos nacionais, no sentido de cumprir determinações de parceiros americanos, um grande e grave problema para nossos bancos, que tem muitos parceiros internacionais e capital estrangeiro aqui. Como ninguém sabe o que vai acontecer, os investidores vendem ações com grande volume e derrubam o mercado. As ações dos bancos estão caindo forte em um cenário doméstico bastante complicado e avesso ao risco. O presidente Lula está em reunião com bancos estatais para discutir a questão da aplicação ou não da Lei Magnitsky no Brasil”.
Para Gabriel Filassi, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, a decisão de Flávio Dino “foi uma estratégia para ganhar tempo, já que a implementação da Lei Magnitsky, que prevê a restrição dos serviços bancários, ocorre de forma gradual, não imediata. Eles terão que cumprir a exigência internacional na íntegra, apenas não está claro quando. Com isso, foi gerada uma grande incerteza para o investidor, que passou a comprar dólar como forma de segurança e vender bolsa porque não se sabe quais medidas que serão tomadas para punir as instituições brasileiras. Essa incerteza sobre o que vai acontecer faz as ações do setor financeiro caírem”.
Marcos Praça, diretor de Análise na ZERO Markets Brasil, disse que queda de braço em relação à questão da Lei Magnitsky provoca estresse no mercado.
“Nem os EUA nem o Brasil quer abrir mão, o que pode chegar ao ponto de as instituições serem forçadas a tomar uma difícil e dolorosa. Em razão disso, os bancos estão caindo forte e puxam o índice. Os investidores estão muito assustados”.
Ricardo Leite -head de renda variável Diagrama Investimentos, disse que a forte queda da Bolsa, “é puxada, principalmente, bancos. O movimento do Dino [Flávio Dino] de querer impedir a aplicação da lei em território nacional mostra o tamanho do desconhecimento desse impacto na economia brasileira. Essa ação pode afetar muito o Brasil, isolando de vez o País do resto do mundo. Além do setor financeiro, várias empresas ligadas direta ou indiretamente ao mercado externo caem. A curva de juros abre em todos os vértices”.
Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, explica a queda forte do Ibovespa na abertura dos negócios desta terça-feira.
“A Bolsa abriu em forte queda corrigindo o movimento de ontem e por conta das investigações dos EUA sobre pix e práticas desleais comerciais, e ao pronunciamento do Flávio Dino sobre não aceitar ou ter de homologar a lei Magnitsky. Tudo isso está trazendo apreensão aos mercados. O Lula vai fazer reunião com os bancos estatais. A Bolsa voltando para os 135 mil pontos, dólar subindo e juros subindo”.
No câmbio, o dólar comercial em alta 1,23%, cotado a R$ 5,5003. A sessão refletiu a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o efeito das leis estrangeiras aqui, o que gerou problemas institucionais e jurídicos. Somado a isso, as tratativas sobre a guerra na Ucrânia ainda geram incertezas.
Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, decidiu que as determinações judiciais internacionais não efeito imediato no Brasil. Essa decisão favorece o ministro do STF, Alexandre de Moraes, que foi alvo da lei Magnitsky aplicada pelos Estados Unidos. O setor brasileiro está em um impasse sobre a ordem.
O economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo, explica que o dólar ganhou força globalmente nesta terça, impactado tanto pelos entraves comerciais quanto pelas incertezas na guerra da Ucrânia, além de uma eventual escalada da tensão entre Brasil e Estados Unidos: “Cabe mencionar que os ministros do STF agem corretamente. A sanção dos Estados Unidos referente a habitantes brasileiros é um ataque à soberania nacional”.
Lucas Brigato, sócio da Ethimos Investimentos, disse que a alta da moeda norte-americana reflete a decisão de Flavio Dino e as incertezas sobre as negociações entre Trump, Rússia e Ucrânia.
“Essa decisão é um drive importante porque voltado para as questões jurídicas e institucionais. O impacto no dólar é menor que na bolsa, mas tudo que envolve confiança atinge todas as pontas. Outro ponto de atenção são conversações sobre um cessar-fogo. Todo mundo fica com ponto de interrogação. Até que ponto o Trump está fazendo jogo duplo [sobre as tratativas], de que forma as negociações estão sendo conduzidas. Isso afeta de forma global”.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, disse que a pressão na taxa de câmbio é explicada por dados de atividade forte nos Estados Unidos.
“O mercado está repercutindo dados mais fortes de moradias-subiu 5,2% em julho, ante projeção de queda de 1,6%-, nos Estados Unidos. É um indicador secundário, mas como a agenda está mais esvaziada, o mercado acaba prestando atenção nesse dado. Um número mais forte de atividade econômica nos Estados Unidos pode fazer com que as apostas de queda de juros a partir de setembro mudem. Existe também uma percepção de cautela na expectativa para o simpósio do Jackson Hole. Na sexta-feira [22], o presidente do Fed pode dar alguma sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Além disso, a queda nos preços do petróleo e minério de ferro acaba impactando de forma negativa no comportamento do câmbio e da bolsa”.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. A sessão foi marcada pelo impacto da queda da bolsa com a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, de ontem, sobre as leis internacionais no Brasil.
Por volta das 16h37 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,905% de 14,890% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,135%, de 14,980%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,515%, de 13,290%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,465% de 13,235% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em direções opostas, com a Nasdaq em destaque negativo puxada pelas ações de tecnologia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,02%, 44.922,27 pontos
Nasdaq 100: -1,46%, 21.314,95 pontos
S&P 500: -0,52%, 6.411,37 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

