São Paulo -A Bolsa fechou estável, queda de 0,06%, mas conseguiu se manter no patamar de 145 mil pontos, na contramão do exterior, com os investidores analisando as mensagens mais duras do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) da véspera.
As ações cíclicas domésticas caíram impactadas pelo tom duro do comunicado do Banco Central e commodities recuaram.
Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 0,75% e 0,97%. Natura (NATU3) disparou 16,45%, com a notícia de um acordo para a venda da Avon Internacional. Vale (VALE3) recuou 0,19%.
O principal índice da B3 caiu 0,06% aos 145.499,49 pontos. Às 17h18 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdia 0,13%, aos 146.795 pontos. O giro financeiro era de R$ 22,7 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.
Para Gabriel Filassi, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, as decisões do Copom e do Fed afetaram diretamente o Ibovespa.
“Por um lado, o corte de 0,25 pp lá fora atrai estrangeiros a investirem em mercados emergentes, como o Brasil, buscando retornos maiores. Por outro, o Copom manteve a Selic em 15%, indicando que a alta deve permanecer por um período maior devido às incertezas inflacionárias. O comunicado veio com tom hawkish e induz que o investimento em ativos mais arriscados pode ser inibido, já que produtos de renda fixa seguem atrativos, dado que ativos de maior risco exigiram maior custo de capital. As empresas exportadoras e outras que dependem de câmbio tendem a se beneficiar pelo real mais forte. Já os papéis do setor de varejo e construção caem apoiadas pelo comunicado mais hawkish do Copom que não trouxe uma expectativa de queda de juros tão cedo”.
Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o Ibovespa tem movimento de correção, após atingir topo histórico.
“Hoje o movimento da Bolsa é natural de correção técnica.O mercado não precisa de um cenário otimista e grandes notícias positivas para o Ibovespa subir, o que vale é um cenário de encaminhamento claro, dado o desconto dos papéis na bolsa. O PL [Preço/Lucro] continua com desvio padrão abaixo da média histórica de 10 anos, mesmo com o Ibovespa ter feito topo histórico. Tem muito espaço para bolsa subir. Para as casas de análise, o preço justo para a bolsa seria entre 165 mil e 170 mil pontos”.
Faust explicou a postura dos dois bancos centrais. “No mês passado, o Ibovespa entrou otimismo grande com precificação de queda de juros nos EUA, não se sabia quantos cortes seriam, mas o Powell veio com tom duro. Ele frisou os motivos que levaram o Fed a cortar de juros de 0,25 pp por lá: desaceleração do mercado de trabalho imputando mais a questão do controle imigratório e a inflação. Apesar de a inflação estar caindo na margem, não espera que chegue em 2% no curto prazo. E tem grande índice de dispersão dos diretores. Por aqui, o Galípolo [Gabriel Galípolo, presidente do BC] coloca no comunicado que não descarta novas altas, e isso foi uma pancada. Ele continua mantendo a expectativa do mercado ancorada. Teve deflação, mas é sazonal”.
Harrison Gonçalves, CFA Charterholder e membro do CFA Society Brazil explicou os contrastes entre a decisão do Copom e do Fed.
“As decisões ilustram contextos distintos. O Fed busca suavizar a desaceleração econômica, mesmo com inflação acima da meta. O ambiente tem maior previsibilidade, com crescimento mais fraco, mercado de trabalho perdendo fôlego e tarifas com impacto limitado. Já o Copom opta pela cautela em função de uma inflação persistente, riscos fiscais elevados e desemprego em níveis baixos, fatores que impedem o início de um afrouxamento monetário no curto prazo”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,32%, cotado R$ 5,3190. O mercado refletiu, ao longo da sessão, as decisões de política monetária no Brasil e Estados Unidos. O fluxo estrangeiro, contudo, permanece intenso.
Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, “estamos vendo o dólar em leve queda seguindo a decisão do Fed que cortou os juros como era esperado. Adicionalmente, o comunicado sinalizou que existe a possibilidade do Fed cortar mais duas vezes em 2025 o que acaba sendo muito positivo para o restante do mundo”.
“O Copom seguiu o que era esperado também, mas trouxe um comunicado duro como nas últimas reuniões. O mercado não gostou muito disso, mas vemos que o movimento global está se sobrepondo. Com o fluxo de recursos estrangeiros devemos ver o dólar com pressão baixista por mais um tempo”, acrescentou Komura.
Lucas Brigato, sócio da Ethimos Investimentos, disse que apesar do corte de 0,25 ponto porcentual (pp) nos juros, o Fed adotou um tom conservador e seguiu a premissa que vinha adotando de tomar decisão em base a dados econômicos. O sentimento do mercado é de “um banho de água fria”. Mas o dólar vai continuar em ritmo bom por conta do carry trade, deve ter pressão na faixa dos R$ 5,30.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. A sessão foi marcada pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que ontem anunciou que a Selic (taxa básica de juros) permaneceria em 15% ao ano.
Por volta das 16h37 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,890% de 14,890% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 13,985%, de 13,940%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,240%, de 13,180%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,115% de 13,050% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, com empresas de menor porte registrando o maior impulso, já que o sinal do Federal Reserve nesta semana de que está iniciando um ciclo de afrouxamento monetário reanimou os investidores e elevou as expectativas de aceleração do crescimento econômico.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,27%, 46.142,42 pontos
Nasdaq 100: +0,94%, 22.470,72 pontos
S&P 500: +0,47%, 6.631,96 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo /Safras News

