A Bolsa fechou em leve queda reagindo ao dado do Indice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que apesar de registrar deflação, veio pior que o esperado, o que desagradou o mercado. Um movimento pontual de realização também foi observado em mais um dia de liquidez baixa. A Petrobras (PETR4) caiu e a Vale (VALE3) subiu segurando o índice.
Mais cedo, foi divulgado o IPCA-15, que recuou 0,14% em agosto ante julho. No acumulado em 12 meses, o índice desacelerou de 5,30% para 4,95%. Tanto o resultado mensal quanto o acumulado de 12 meses ficaram acima das projeções de -0,22% e 4,87%, respectivamente, medidas pelo Termômetro Safras.
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 0,51% e 0,71%. Itaú (ITUB4) perdeu 0,67%. Banco do Brasil (BBAS3) fechou em alta de 1,64, após cair mais de 1% no final da manhã. Vale (VALE3) subiu 0,89%.
O principal índice da B3 caiu 0,18%, aos 137.771,39 pontos. Às 17h16 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuava 0,31%, aos 140.350 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,8 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.
Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos, disse que IPCA-15, Petrobras e uma certa correção mexem com o Ibovespa.
“A prévia do IPCA-15 frustrou e abriu a curva de juros, o que naturalmente esfria o apetite por risco nas ações locais. Ao mesmo tempo, o petróleo recua, pressionando Petrobras e o índice. Tem um movimento pontual de realização, após a arrancada de sexta, em um dia de liquidez reduzida. E, mesmo com o desconforto em torno de possíveis sanções ao setor bancário, o IFNC [índice financeiro] recua levemente, um sinal mais de correção do que de mudança de tendência”.
José Áureo Viana, planejador financeiro, sócio e private banker na Blue3 Investimentos, disse que “o Ibovespa recua hoje refletindo dados do IPCA-15, e em certa parte o cenário externo. Embora a inflação mostre tendência de desaceleração, o arrefecimento é irregular. Serviços seguem mais resilientes. Acredito que esse dado reforça a necessidade de cautela na trajetória de juros no Brasil podendo abrir espaço para cortes mais à frente, sem pressa, já que a dinâmica ainda inspira atenção”.
Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o IPCA-15, bancos e Petrobras mexem com o mercado.
“O Banco do Brasil virou para negativo [ ação teve volatilidade] e outros bancos já faziam movimento de queda desde a manhã. Após o IPCA-15, a gente entra em compasso de esperar para ver o que vai acontecer e quais serão os próximos comentários do BC. Se analisar o movimento do Ibovespa, a negociação se dá dentro de uma banda muito estreita, apesar da volatilidade. O Ibovespa tem 2-3 dias com alta mais forte, depois dois-três dias de queda. As transações correntes de julho vieram R$ 2 bi a mais do que era o esperado, o que faz a questão fiscal ficar no radar. E na esfera política tem pontos favoráveis com a direita em que o Tarcísio [de Freitas] pode concorrer [como candidato à presidência em 2026]. O mercado também espera pelos dados de inflação PCE ao longo da semana”.
Em relação ao IPCA-15, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, disse que apesar do dado ser o menor valor desde setembro de 2022 e o primeiro negativo desde julho de 2023, ainda explica a Selic se manter em 15%.
“Em agosto, a inflação foi influenciada principalmente pelos preços administrados, que recuaram 0,61% no mês, em contraste com a alta de 0,02% observada nos preços livres. Apesar da melhora do cenário, ainda persistem pontos de atenção que justificam a manutenção da Selic em 15,0% a.a. pela autoridade monetária. Mesmo com alguma moderação recente, núcleos de inflação e preços de serviços especialmente os subjacentes e os intensivos em mão de obra continuam em níveis elevados, incompatíveis com a meta. Esse comportamento reflete, em grande medida, a resiliência do mercado de trabalho, que permanece aquecido, com a menor taxa de desemprego da série histórica e a massa de rendimentos em patamares recordes. Em nosso cenário base, mantemos a expectativa da taxa de juros encerrar este ano em 15,0% a.a.”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,4338. A moeda, que operou descolada do exterior ao longo da sessão, refletiu certo a alta na curva de juros. Os investidores ficam na expectativa para dados da economia americana ao longo da semana.
Para Leonardo Santana, sócio da Top Gain, o dólar comercial passa por uma correção.
“O dólar chegou a tocar no fundo, nos R$ 5,40 [mínima do dia] e agora sobe em um movimento corretivo leve. A curva de juros está estressada por conta do IPCA-15, que apesar de ter vindo bom, não veio como mercado esperava, e isso também puxa o dólar para cima. Não tem nada de novo no radar. No mundo, o dólar está fraco. O mercado fica à espera do PIB [americano] na quinta (28) e PCE, na sexta (29), mas a grande expectativa fica para o dia 17 [decisão de política monetária aqui e nos EUA] para ver uma correção de verdade”.
“Ontem, Trump informou a demissão de Lisa Cook, do Board do Fomc, após alegações de falsificação de documentos em pedidos de hipoteca. Lembrando: presidentes dos Estados Unidos podem destituir dirigentes do Fed, mas apenas por justa causa – leis que descrevem o conceito em geral apontam três possibilidades: ineficiência; negligência no cumprimento do dever; e má conduta, ou seja, irregularidades no exercício do cargo. A demissão de Cook permite à Trump configurar uma diretoria de acordo com suas preferências”, explica a Ajax Asset Management.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. A terça foi marcada pelo IPCA-15 de agosto, divulgado no começo da sessão, que diminuiu as expectativas de corte na Selic ainda em 2025.
Por volta das 16h42 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,890% de 14,885% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 13,965%, de 13,900%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,295%, de 13,215%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,245% de 13,190% na mesma comparação. O dólar subia 0,39%, cotado a R$ 5,4350.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, enquanto Wall Street deixou de lado a remoção da governadora Lisa Cook do Federal Reserve pelo presidente Donald Trump e aguardava os resultados trimestrais da gigante de chips Nvidia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,30%, 45.418,07 pontos
Nasdaq 100: +0,44%, 21.544,27 pontos
S&P 500: +0,41%, 6.465,94 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

