O mercado pecuário brasileiro, da perspectiva do Boi Gordo e seus derivados, está em um momento de franca expansão. Os pecuaristas brasileiros realizaram uma série de investimentos a partir do segundo semestre de 2019. Não é exagero mencionar que o país atravessa por uma revolução zootécnica, com pesados investimentos em genética, nutrição animal e refino das técnicas de manejo.
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O processo de descolamento dos preços após a habilitação de mais de 30 frigoríficos brasileiros, autorizados a exportar para a China alterou sensivelmente a dinâmica do mercado.
Os ganhos de capacidade produtiva após todo o investimento realizado foram perceptíveis em 2022, com avanço gradual da oferta de animais de reposição. A tendência é que em 2023 o crescimento da oferta de animais da categoria seja ainda mais notável.
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Com uma curva de preços menos atraente é natural que haja ampliação do abate de matrizes, levando ao processo de inversão de ciclo.
Boi Gordo: Números e crescimentos para 2023
A expectativa é que o Brasil abata em torno de 33,6 milhões de cabeças em 2023, crescimento de aproximadamente de 3,9% na comparação com o ano corrente, em que devem ser abatidos em torno de 32,34 milhões de cabeças. A consequência do aumento do número de animais abatidos é bastante lógica, haverá avanço da produção de carne bovina. Em 2023 o Brasil deve produzir em torno de 9,0 milhões de toneladas em equivalente carcaça, ante uma produção de 8,7 milhões de toneladas em equivalente carcaça registrada em 2022.
No que tange as exportações, o Brasil deve manter a liderança global dos embarques de carne bovina em 2023, no entanto sem repetir os números espetaculares registrados em 2022.
Os últimos meses de 2022 servem de alerta, com agressivo processo de renegociação de contratos por parte dos importadores chineses. Em 2023 a expectativa é de aumento da produção de carne bovina na China, 7,5 milhões de toneladas devem ser produzidas neste ano, ante a produção de 7,1 milhões de toneladas em 2022, ou seja, serão 400 mil toneladas a mais entre um ano e outro. Haverá menor dependência das importações para atender a demanda doméstica chinesa.
No entanto, o Brasil seguirá exportando grandes volumes de carne bovina, por simplesmente reunir preços mais competitivos e maior capacidade produtiva para atender a demanda global na comparação aos nossos grandes concorrentes. Os Estados Unidos atravessam por um processo de encolhimento em seu rebanho, da mesma maneira que a União Europeia. Argentina e Uruguai também experimentam maiores dificuldades em termos de capacidade produtiva. A Austrália atravessa por um lento processo de recomposição de seu rebanho.
No próximo ano o Brasil tende a exportar em torno de 3,29 milhões de toneladas em equivalente carcaça, em 2022 os embarques foram de aproximadamente 3,37 milhões de toneladas em equivalente carcaça, ou seja, haverá retração do fluxo de exportação na ordem de 2,15%. No que tange a oferta doméstica, haverá maior volume ofertado em 2023, com aproximadamente 5,75 milhões de toneladas em equivalente carcaça, ante a disponibilidade interna de 5,4 milhões de toneladas em equivalente carcaça em 2022, ou seja, um crescimento de 6,86%.
A exportação de carne bovina foi um enorme diferencial para o descolamento dos preços do boi gordo e da carne bovina em anos recentes. Com mudanças em curso no que diz respeito a capacidade produtiva e também em relação a exportações a expectativa é que realmente haja uma maior dependência da demanda doméstica para que o setor alcance um novo ponto de equilíbrio em níveis mais baixos do que os atuais.
A queda dos preços da carne bovina fará com que a parcela da população que migrou em direção a proteínas mais acessíveis retome o consumo de sua proteína de preferência, impactando na formação dos preços da carne de frango e da carne suína. Nesse caso haverá a necessidade de todo o Setor se adequar a essa nova realidade em termos de oferta.
Crescimento da produtividade média remete a maior oferta de animais de reposição
Para 2023 a tendência é que ainda haverá boa disponibilidade de animais de reposição no mercado, mantendo uma curva de preços menos atraente o que tende a manter o descarte de matrizes em nível elevado. Esse é um dos grandes pilares que levam a crer na ampliação dos abates em 2023, e no consequente crescimento da oferta de carne bovina e demais derivados do abate (couro, sebo e assim por diante).
Por sua vez, esse tipo de estratégia resultará em consequências de médio e de longo prazo, algo natural dadas as características do ciclo pecuário. Entre os anos de 2024 e 2025 se formará um gargalo, em que o ritmo de nascimentos não acompanhará a demanda por animais de reposição, levando a nova elevação dos preços nos segmentos de cria e recria, entrando na etapa do ciclo de menor capacidade produtiva. A consequência tende a vir na elevação dos preços ao longo da cadeia produtiva, motivando investimentos por parte dos pecuaristas. Essas são condições que se retroalimentam, mantendo a roda da pecuária de corte girando.
Reforçando que todo o investimento realizado nos últimos anos levou há um encurtamento do ciclo pecuário no Brasil. O pecuarista brasileiro não mediu esforços, investindo pesadamente em genética, nutrição animal e no refino das técnicas de manejo, não há equívocos em afirmar que o Brasil atravessou por uma revolução zootécnica, visando a produção de animais jovens, capazes de atender as exigências dos principais mercados ao redor do mundo. Tanto investimento precisa ser protegido, não é segredo que quanto mais recursos são alocados em determinado setor, maior é a necessidade de proteger esse investimento. Nesse caso, as ferramentas de proteção e de garantia de preço precisam ser utilizadas, errar o timing da comercialização pode ser bastante danoso em um mercado que possui cada vez menos margem para erros. Infelizmente no Brasil esse a adoção desse tipo de estratégia ainda ocorre de maneira insipiente, o que pode acabar gerando prejuízos importantes.
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