Ano termina com preocupações para setor avícola em termos de preço

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Porto Alegre, 23 de dezembro de 2022 – A avicultura de corte chega ao final do ano com um cenário bastante delicado. Mesmo em um período de forte demanda, os preços não encontram suporte e seguem em queda. “Há uma latente dificuldade de colocação de determinados cortes no mercado, a exemplo dos cortes de peito, em claro excedente”, disse o analista de SAFRAS & Mercado, Fernando Iglesias. Tal condição se deve à ampliação do alojamento de pintos de corte durante o segundo semestre. Mesmo com exportações em bom nível e com demanda doméstica aquecida, os prejuízos são visíveis em grande parte do país.

Iglesias afirma que, neste final de ano, o quadro se tornou mais difícil no mercado internacional com a retomada das exportações ucranianas. “A vantagem da Ucrânia em relação ao Brasil é a logística, com grande capacidade de fornecimento ao continente europeu, por custos muito baixos. Nesse quesito, houve queda do volume médio exportado. Somado a isso, os importadores chineses assumiram uma posição mais agressiva em torno da renegociação de contratos, consequência de um yuan bastante desvalorizado em meio ao corte da taxa básica de juros chinesa, indo na contramão das demais economias”, pontua.

O analista destaca que, até poucas semanas, o governo chinês ainda adotava uma política sanitária de tolerância zero contra a covid-19, fechando províncias inteiras em casos de focos da doença. No primeiro semestre, o fechamento da província de Shangai, onde está situado o maior porto de contêineres do mundo, gerou transtornos na logística global. A consequência dessa política tão agressiva foi o estrangulamento da atividade econômica na China, promovendo índices de crescimento atípicos para o padrão chinês.

Em meio ao quadro de crescimento econômico anêmico o governo chinês foi na contramão das demais economias e passou a cortar a taxa básica de juros. O intuito era baratear o crédito e fomentar a atividade econômica. Outro aspecto é que o corte de juros na contramão do mundo levou a uma agressiva saída de capitais do mercado chinês, promovendo um amplo processo de desvalorização do Yuan ante o dólar. A consequência que os diversos produtos exportados pela China se tornaram mais competitivos internacionalmente, como componentes eletrônicos, têxteis, produtos petroquímicos, entre outros, que foram amplamente exportados.

No entanto, Iglesias explica que essa estratégia gera consequências negativas. A principal delas é o encarecimento das importações. Nesse sentido os importadores chineses passaram a renegociar de maneira contundente os contratos de importação, incluindo carne bovina e carne de frango. “Baixar preços em dólar se mostrou uma ferramenta importante em meio a desvalorização cambial na China. Este foi um dos grandes motivos para a queda dos preços da arroba do boi gordo no mercado brasileiro. A China é a maior consumidora de commodities agrícolas e não agrícolas em escala global, portanto ela tem grande poder em relação a formação dos preços”.

O analista sinaliza que o processo de renegociação de contratos ocorre de maneira recorrente. Em 2021 e em 2020 também ocorreram movimentos nesse sentido por parte dos importadores chineses e, neste ano, a política monetária serviu como pano de fundo para esse tipo de estratégia.

Em âmbito interno, Iglesias afirma que o padrão de consumo em 2022 apontou para a preferência de boa parcela da população por proteínas mais acessíveis, como a carne de frango e o ovo. Segundo SAFRAS & Mercado, o Brasil deve fechar o ano com uma produção de 14,37 milhões de toneladas de carne de frango, gerando uma disponibilidade interna de 9,68 milhões de toneladas.

No campo das exportações o Brasil também se aproveitou do avanço da Influenza Aviária no Hemisfério Norte para ampliar a sua participação no mercado internacional. De acordo com SAFRAS, o Brasil deve encerrar 2022 com exportações de 4,68 milhões de toneladas de carne de frango.

Iglesias ressalta que a influenza aviária se alastrou de maneira bastante contundente na Europa e na América do Norte e, até mesmo na América do Sul, foram evidenciados focos da doença. Por conta disso, o Mapa, Seapas, associações e demais entidades que atuam no setor passaram a redobrar a fiscalização para evitar que a doença atinja o país. “Essas medidas são necessárias. No entanto, o rigoroso processo sanitário envolvido no abate de aves no Brasil praticamente elimina o risco de que a doença atinja granjas comerciais. Casos podem até ser relatados em animais selvagens, mas sem oferecer grande risco sob o prisma do mercado”, conclui.

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Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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