Porto Alegre, 27 de dezembro de 2024 – O mercado global de soja apresentou um desempenho substancialmente negativo em termos de valor ao longo de 2024. Os preços do grão sofreram fortes quedas, acumulando desvalorização de aproximadamente 21% entre janeiro e o final do ano. “O principal fator para estes recuos foi o amplo quadro de oferta global, combinado com menos problemas climáticos na safra brasileira 2023/24”, pontua o analista e consultor de Safras & Mercado, Rafael Silveira.
“Esse cenário foi particularmente interessante, já que o ciclo anterior havia registrado uma redução significativa da área plantada nos Estados Unidos, resultando em um potencial produtivo menor”, lembra Silveira. A produção norte-americana foi estimada em 113,2 milhões de toneladas para a temporada 2023/24, o que limitou as exportações e deixou os estoques finais em torno de 9,3 milhões de toneladas.
Por outro lado, o quadro sul-americano se destacou, mesmo com os desafios impostos pelo El Niño. “A safra brasileira, embora robusta, não atingiu todo o seu potencial produtivo devido a questões climáticas, entregando mais de 150 milhões de toneladas, um dos melhores números da história”, adverte o analista. Contudo, se as condições climáticas fossem mais favoráveis, a colheita poderia ter superado 165 milhões de toneladas.
Já a Argentina, após uma quebra histórica na safra anterior, apresentou uma recuperação impressionante, com uma produção de cerca de 50 milhões de toneladas. “Este volume renovou o protagonismo argentino no mercado de farelo de soja, impulsionando as exportações em 2024”, frisa o consultor.
Apesar do bom desempenho produtivo, o Brasil exportou menos soja em 2024 em comparação com o ano anterior, com volumes estimados em torno de 98 milhões de toneladas. Esta redução ocorreu em um contexto de maior oferta global e preços pressionados. Os formadores de preços, com exceção do dólar, contribuíram para as variações negativas no mercado físico durante grande parte do ano. No entanto, esta dinâmica começou a mudar no final do terceiro trimestre e início do quarto trimestre, quando a menor disponibilidade de produto começou a sustentar os preços.
No Centro-Oeste brasileiro, o basis se elevou significativamente, impulsionado pelas dinâmicas de compradores e vendedores, que ajustaram suas indicações para cima. “Este movimento foi especialmente evidente na indústria, que enfrentou dificuldades para originar soja e obter margens satisfatórias”, comenta Silveira. Isto levou ao repasse dos custos para o preço do óleo de soja, que registrou fortes altas no mercado físico.
No primeiro semestre de 2024, as exportações brasileiras foram intensas, com a soja nacional se mostrando bastante competitiva, especialmente para a China, principal compradora. No entanto, à medida que o ano avançou, o ritmo das exportações diminuiu, refletindo a menor disponibilidade interna e o impacto da safra recorde argentina. Mesmo assim, o volume exportado pelo Brasil deve encerrar o ano próximo de 98 milhões de toneladas, consolidando o país como um dos maiores players globais do mercado de soja.
“Em resumo, 2024 foi marcado por uma oferta global robusta, recuperação sul-americana e desafios climáticos que impactaram a safra brasileira, enquanto as dinâmicas de preços foram ajustadas ao longo do ano devido à menor disponibilidade e pressões do mercado físico e cambial”, finaliza o analista.
Rodrigo Ramos/ Agência Safras News
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