Porto Alegre, 6 de dezembro de 2023 – Em coletiva de imprensa online realizada hoje para fazer um balanço do setor do agronegócio em 2023, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) destacou que o ano foi marcado por uma safra cheia e pelo bolso vazio.
De acordo com o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, a safra foi recorde e o clima, com exceção do Rio Grande do Sul, foi bom, ajudando a aumentar a produção. Por outro lado, a safra deste ano foi uma das mais caras, com os custos de produção elevados para a soja e o milho, com os preços dos fertilizantes aumentando de 50% a 80%. Além disso, os preços de venda da soja e do milho se mostraram muito menores na época de comercialização, o que trouxe efeitos negativos na base das cadeias, afetando as margens tanto da agricultura como da pecuária.
No que tange à pecuária, Lucchi afirma que os abates cresceram muito nesse ano, que as exportações andaram de lado e que houve um consumo interno bastante fraco, o que trouxe margens negativas para a atividade, tanto no segmento de corte quanto de leite.
Lucchi citou ainda alguns problemas que acabaram impactando o desempenho do agronegócio, como as invasões de terra (o que trouxe um cenário de insegurança jurídica no campo e redução no potencial de investimentos por parte dos produtores), as incertezas quanto ao cumprimento da promessa do governo em zerar o déficit fiscal em 2024 (o que coloca em risco o crescimento do pais) e as modificações adotadas pelo Senado na proposta de Reforma Fiscal (o que pode aumentar a tributação do agronegócio, ao invés de reduzir a carga).
Por conta desses fatores, a CNA estimou hoje que o PIB do agronegócio irá sofrer um decréscimo de 0,94% em 2023, podendo apresentar um desempenho de estável a negativo em 2% no próximo ano.
Para o PIB agropecuário, a entidade estimou um crescimento de 14,5% em 2023 e um avanço bem mais limitado em 2024, de 1,5%. No que tange ao Valor Bruto da Produção, a CNA projeta uma queda de 2,2% neste ano, atingindo R$ 1,24 trilhão e de 2,2% em 2024, alcançando a soma de R$ 1,21 trilhão. Já para o PIB total do Brasil, a CNA aposta em um crescimento de 2,8% em 2023 e de 1,5% em 2024.
Projeções para 2024
De Lucchi sinaliza que a CNA está bastante preocupada com os efeitos que o fenômeno El Niño ainda pode vir a trazer sobre a safra brasileira, uma vez que ele tende a se acentuar nos meses ao longo de dezembro e janeiro, reduzindo ainda mais o potencial produtivo das lavouras. Também há, segundo ele, um risco de que logo após o El Niño o clima possa entrar novamente em um período de La Niña, o que traria riscos a produção também.
Nesse sentido, a CNA defende que haja a adoção da destinação de recursos para o seguro rural como uma política de estado, de modo a proteger os produtores. A entidade acredita que o setor deve demandar até R$ 3 bilhões em seguro rural no próximo ano, volume superior aos R$ 2 bilhões projetado para este ano, cujos volumes acabaram sofrendo cortes.
Bruno afirma que há uma grande possiblidade de que a Conab venha a reduzir a perspectiva de safra brasileira para volumes abaixo de 316 milhões de toneladas no relatório de dezembro. Há uma preocupação de que a seca possa reduzir o tamanho da safra de soja, afetando depois também o plantio da segunda safra de milho, muito embora não haja uma perspectiva que grandes mudanças nos preços dos grãos no próximo ano, já que os volumes de produção, apesar dos problemas, ainda tendem a ser considerados bons.
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Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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