Porto Alegre, 11 de março de 2021 – O ano de 2021 é muito delicado em termos de oferta no mercado brasileiro e mundial de milho. O mercado vai depender de uma safrinha de grande porte, com expectativa de recorde, e principalmente a safra americana não poderá ter uma quebra. A avaliação é do consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari, que fez palestra durante o último dia da SAFRAS Agri Week, evento totalmente on line que ocorre de 09 a 11 de março.
A safra de verão 2020/21 do Brasil foi prejudicada pelo clima, especialmente com a falta de chuvas em 2020. O fenômeno La Niña afetou as regiões produtoras brasileiras. SAFRAS & Mercado estima a safra de verão brasileira 2020/21 de 19,4 milhões de toneladas, com queda de cerca de 16% sobre a safra 2019/20.
Com a oferta limitada no Brasil, as cotações devem seguir muito firmes até a entrada da safrinha no segundo semestre. A importação é uma possibilidade até chegar esta segunda safra, diante dessa limitação da oferta. Porém, Molinari ressaltou na palestra que é difícil e muito caro importar. E o consumidor olha adiante para a entrada da safrinha, quando espera ter maior oferta e melhores condições de aquisição no mercado interno.
A safrinha brasileira (Centro-Sul) está estimada por SAFRAS & Mercado em 84,0 milhões de toneladas em 2021, um recorde, com incremento de 14,35% no comparativo com a safrinha de 2020. Molinari salientou no evento que a tendência de safrinha recorde é uma realidade e a venda de insumos confirma isso. Porém, assim como a safra de verão atrasou pelo clima, também o plantio da safrinha está atrasado e a colheita será da mesma forma tardia, o que é uma preocupação. “Isso gera uma tensão climática com a safrinha. Não pode faltar chuva”, destaca. Ele observou na palestra que o clima está mudando do fenômeno La Niña para neutro.
Com um quadro de oferta e demanda ajustado e com escassez demonstrada no momento, “a safrinha de 2021 tem de ser usada de estratégia de estoque para 2022”, disse Molinari. O atraso no plantio da safrinha preocupa. O plantio da segunda safra de milho 2021 no Centro-Sul atinge 50,3% da área estimada de 14,125 milhões de hectares, segundo levantamento de SAFRAS & Mercado. No mesmo período do ano passado o cultivo atingia 77,7% da área de 13,27 milhões de hectares da safrinha 2020, enquanto a média de plantio para o período nos últimos cinco anos é de 83,3%.
Diante desse plantio tardio, Molinari indica que a entrada da safrinha deve se concentrar também com atraso entre agosto e setembro, o que pode elevar os preços. Sem falar que as lavouras poderão receber mais umidade com esse atraso, alongando o ciclo do milho. “Isso pode atrasar os embarques e provocar maior correria no mercado”, diz. Ele crê que pós-entrada da safrinha, em se confirmando uma produção recorde, os preços podem recuar.
Quanto à oferta e demanda, Molinari indicou que o Brasil exportou na safra 2020 quase 35 milhões de toneladas. Se mantiver estes embarques em 2021, o país aumentaria seus estoques de 6,5 para 9,9 milhões de toneladas. Molinari coloca que se o país exportar mais que isso os estoques cairiam e haveria espaço para maiores altas nos preços. Por outro lado, uma queda nos embarques traria maior folga e pressão sobre as cotações.
A safra americana é determinante para o mercado global, com o mundo dependendo de uma produção recorde. Molinari salienta que a área plantada deve crescer tanto para o milho quanto para a soja. O mercado terá uma ideia melhor com a divulgação da intenção de plantio por parte do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 31 de março. Qualquer problema climático pode promover altas nas cotações, levar o Brasil a exportar ainda mais e elevar os preços domésticos. Molinari destaca que 2021 terá adiante um “mercado de clima” muito importante, em que “não pode ter problema na safra americana”.
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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