Agosto de quedas nos preços do milho, mas segue apreensão com oferta

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     Porto Alegre, 03 de julho de 2021 – O mercado brasileiro de milho encerrou agosto acumulando quedas nas cotações no comparativo com o final de julho. Enfim, o mercado refletiu a sazonalidade da entrada da safrinha. A oferta cresceu, com maior interesse de negociação dos vendedores, e com o comprador forçando baixas nos valores.

     Mesmo com uma quebra “gigante” na safrinha, em função da falta de chuvas e das geadas, o fato é que a oferta cresce neste período do ano. Mesmo com as perdas produtivas, há maior volume de milho disponível momentaneamente e um peso natural sobre as cotações.

     Por outro lado, segue a preocupação com a oferta diante de uma safrinha muito prejudicada. SAFRAS & Mercado voltou a reduzir o tamanho da produção de 56,7 para 55,7 milhões de toneladas nesta avaliação de agosto, diante dos resultados pífios em produtividades em grande parte das regiões produtoras. “Uma safra total de 89,7 milhões de toneladas mantém o diagnóstico de dificuldades de abastecimento interno e regional até a entrada da próxima safrinha, ou seja, em julho de 2022. Até lá, o mercado interno precisa seguir com as suas estratégias de posicionamento de estoques, na absorção da safra de verão 2022 e nas importações”, comenta o consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari.

     Para ele, movimentos como o ocorrido em agosto devem ser considerados normais e sazonais, assim como é possível que alguma pressão de venda volte a ocorrer no início do ano com vendas para desocupação dos armazéns visando a safra nova. “Mas, estas configurações acabam sendo mais hipóteses do que um quadro realista e seguro mais à frente. O que realmente é seguro e realista é de que os estoques brasileiros podem ceder a níveis extremamente preocupantes. Estoques abaixo de 3 milhões de toneladas forçam o mercado interno a depender muito de uma boa safra de verão e de que ainda existam condições de importação de milho no primeiro semestre do próximo ano”, comenta.

     Porém, um dado adicional preocupa, que é o ritmo de exportações. Apesar de todo o fluxo de vendas pelas tradings no mercado interno, o Brasil já se aproxima de 10 milhões de toneladas na exportação neste ano e a meta de 20 milhões de toneladas no ano parece cada vez mais próxima, observa Molinari. “Enquanto isso, apesar da pré-colheita, os preços na Bolsa de Chicago resistem em precificar a entrada da colheita e o fraco ritmo de exportações semanais dos Estados Unidos. Talvez, o mercado esteja discordando dos dados do Crop Tour e/ou acredite em forte ritmo de exportações norte-americanas daqui para frente”, avalia.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari, o descolamento forte dos preços do mercado interno em relação aos níveis de porto às vésperas do início da colheita da safrinha 2021 estabelece uma relação interna de comercialização bem diferente em relação ao normal. “Tradings desejando vender milho no mercado interno ao invés de destinar mais volumes a exportação. Este movimento vai abastecendo parte do mercado brasileiro consumidor para junho e início de julho, em alguns casos até agosto”, comenta. Essa melhora na oferta trouxe pressão às cotações.

     Entretanto, aponta Molinari, o momento poderá ser apenas pontual e de readequação dos preços internos, os quais estavam bastante altos. “A quebra da safrinha é mais do que óbvia e é expressiva. A exportação é o ponto que poderá derivar uma oferta menor para o mercado interno no segundo semestre ou algum estoque de passagem maior. No momento, o mercado parece tentar alinhar os preços internos com porto reduzindo o ágio registrado no semestre”, avalia.

     Basicamente, “o mercado exportador observou que é melhor vender mercado interno do que exportação. Acreditamos que entre 800 mil e um milhão de toneladas foram negociadas em Maio entre tradings e indústrias internas. Em proporção ao que é exportado anualmente o volume parece baixo. Porém, retirou do mercado alguns grandes compradores para os volumes de junho e julho”, comenta. Em paralelo, algumas cooperativas e revendas começaram a ter mais fixações de balcão e intenção de venda de produtores. “Os preços acabaram cedendo tão rapidamente quanto subiram por um pré-pânico de vendas”, indica.

     No mercado disponível ao produtor, o preço do milho em Campinas/CIF caiu na base de venda em agosto de R$ 106,00 a saca para R$ 95,50, baixa de 9,9%. Na região Mogiana paulista, o cereal recuou no comparativo de R$ 104,00 para R$ 94,00 a saca, baixa de 9,6%.

     Em Cascavel, no Paraná, no comparativo mensal de agosto, o preço baixou de R$ 105,00 para R$ 98,00 a saca, declínio de 6,7%. Em Rondonópolis, Mato Grosso, a cotação passou de R$ 90,00 para R$ 84,00 a saca no balanço do mês, uma baixa de 6,7%. Já em Erechim, Rio Grande do Sul, houve baixa de 3,9%, com o preço passando de R$ 102,00 para R$ 98,00.

     Em Uberlândia, Minas Gerais, as cotações do milho caíram no mês de R$ 100,00 para R$ 98,00 a saca na base de venda, recuo de 2,0%. Em Rio Verde, Goiás, o mercado baixou de R$ 95,00 para R$ 90,00 a saca, queda de 5,3%.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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