Abril de preços mais altos para café, mas com acomodação ao final do mês

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     Porto Alegre, 28 de abril de 2023 – O mercado internacional de café apresentou preços mais altos em abril, tomando por base o arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) e o robusta na Bolsa de Londres. Ao final do mês, no entanto, houve movimentos de baixa com acomodação nas bolsas. No Brasil, o mercado seguiu os ganhos externos, embora a chegada da safra e a baixa do dólar tenham limitado avanços.

O aperto observado na disponibilidade de café em relação à demanda foi indicado como fundamento altista em abril. Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o mercado internacional deve ter déficit entre a oferta e a demanda na ordem de 7,266 milhões de sacas em 2022/23, após um déficit de 7,120 milhões de sacas observado em 2021/22. Além disso, queda do dólar em relação ao real e outras moedas foi aspecto de suporte às cotações em NY, trazendo o sentimento de perda de competitividade para as exportações brasileiras.

Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o último relatório da OIC apontou queda no ritmo das exportações mundiais e déficit na oferta, cenário que reforça a ideia de aperto no curto prazo. Os embarques mundiais caíram 18% em fevereiro, fortemente pressionados pelo fraco desempenho do Brasil e pelo recuo nas exportações de robusta. No acumulado dos primeiros cinco primeiros meses da temporada comercial 22/23, que iniciou em outubro, a queda nas exportações mundiais chega a 8,7%.

Assim, em NY o arábica para julho chegou a bater na máxima de abril em 204,90 centavos de dólar por libra-peso, em 18 de abril. Já em 03 de abril houve a mínima do mês para o contrato julho (170,25 centavos).

Porém, após atingir o topo do mês em 18 de abril, o mercado passou por ajustes negativos. “A volatilidade no dólar, as perdas no petróleo e a expectativa com chegada da safra nova brasileira seguem no radar. O recuo no preço do robusta em Londres, depois de atingir o patamar mais alto em 12 anos, acaba tirando força de alta do arábica nova-iorquino”, comenta Barabach. O momento é de colheita da safra brasileira, do maior país produtor e exportador mundial, assim é normal a pressão sobre as cotações.

Barabach comenta que é nítido o distanciamento entre as posturas de compradores e vendedores. “Enquanto o comprador foca em posições mais longas, apostando no efeito sazonal da safra brasileira 2023, o vendedor opta por trabalhar posições mais curtas, ressaltando o aperto de curto prazo. A distância entre as pontas, embora venha diminuindo lentamente, ainda resulta em um elevado degrau entre os preços nessa transição entre as safras brasileiras”, avalia o consultor.

Já se percebe uma leve mudança no comportamento do mercado físico, aponta Barabach, com uma maior inclinação em direção à chegada da safra do Brasil. “E a performance da safra brasileira, confirmando ou não as expectativas, continua como determinante fundamental do mercado. No radar, também a transição financeira internacional, com possíveis mudanças na curva de juros, reequilíbrio no preço dos ativos e alterações no perfil de investimentos”, coloca. Ele indica que um cenário econômico mais positivo deve trazer alívio frente à eventual pressão com a maior oferta de café na temporada 2023/24.

    No balanço de abril em NY, o contrato julho do arábica subiu de 169,70 centavos ao final de março para 188,20 centavos neste dia 27, acumulando alta de 10,9%. Em Londres, o robusta para julho no mesmo comparativo subiu 10,7%. O mercado londrino reflete uma combinação de oferta limitada com demanda firme da indústria, crescente pelo robusta ante a disponibilidade limitada do arábica nas últimas temporadas.

    No mercado físico brasileiro, abril também foi de avanços, mas limitados pela chegada da safra brasileira e baixa do dólar. O dólar comercial no mês acumulou queda de 1,8%, encerrando esta quinta-feira (27) abaixo dos R$ 5,00.

Barabach diz que a indústria doméstica está preocupada com os rumos que o conilon tomou, em plena entrada de safra. O conilon tipo 7/8 em Colatina, no Espírito Santo, que ensaiava voltar a trabalhar abaixo da linha de R$ 600 a saca, deu uma guinada de alta e atingiu pico recente em R$ 680 a saca para depois buscar acomodação em R$ 660 a saca. “As razões para essa mudança de comportamento são duas, uma primeira externa e outra interna”, aponta.

Lá fora, segundo o consultor, o aperto na oferta de robusta, curta no Vietnã e problemas na produção da Indonésia, acabam elevando o preço do café no terminal londrino. E a escalada de alta externa acabou se refletindo no preço interno, ainda mais depois da queda no diferencial para exportação, com o conilon brasileiro sendo indicado a +2 no FOB Vitória. “Embora ainda relativamente caro acabou diminuindo a distância em relação aos concorrentes. E isso acendeu o sinal de alerta da indústria local, que também subiu o preço interno, buscando acompanhar o movimento lá de fora”, avalia.

Ele comenta que o fato é que o robusta continua recuperando valor em relação ao arábica. Do início do ano até agora o café robusta negociado no terminal londrino subiu perto de 37%, passando de US$ 1.759 para os atuais US$ 2.413 toneladas. E, com isso, a arbitragem NY/Londres caiu para +82cents. Já foi de +150 cents no início de 2022, aborda Barabach.

No Brasil, o atraso nos trabalhos de colheita acabou servindo de alavanca para os ganhos do conilon, indica o consultor. “O excesso de chuva na fase final do ciclo produtivo tardou a maturação e interrompeu os trabalhos nas lavouras, o que atrasou o andamento da colheita e por extensão a disponibilidade física de café no mercado. Algumas indústrias estavam com estoques muito curtos e essa demora forçou a necessidade de retorno rápido e agressivo ao mercado. Já o produtor, diante da alta externa e maior procura interna, adotou uma postura inversa e se retraiu, ajudando a potencializar a alta nas cotações”, conclui.

No balanço de abril, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu de R$ 1.045,00 para R$ 1.090,00 a saca, acumulando valorização de 4,3%. O conilon tipo 7 em Vitória/Espírito Santo avançou em abril na base de compra 3,9%, terminando o dia 27 em R$ 665,00 a saca.

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     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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