Abates e produção de carne bovina do Brasil tendem a crescer em 2021

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     Porto Alegre, 30 de dezembro de 2020 – Após um ano no qual a arroba do boi gordo chegou próxima de 300 reais diante da queda no volume doméstico de abates e também do grande apetite chinês pela carne bovina brasileira, a expectativa é que os abates e a produção de carne apresentem recuperação, avaliando o processo de recomposição do rebanho. Segundo o analista da consultoria SAFRAS & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, a estratégia de retenção de fêmeas nos momentos de explosão de preços adotada em 2020 vai ter um efeito mais nítido sobre o mercado a partir de maio de 2021, mês em que o país deve superar o volume de 2,78 milhões de cabeças abatidas. A tendência é que o Brasil abata 32,52 milhões de cabeças no total de 2021, um crescimento de 1,8% no comparativo com os dados ainda preliminares de 2020, conforme projeções da SAFRAS & Mercado.

     Apesar da redução dos abates em 2020, o desempenho do setor carnes e do agronegócio como um todo seria outro sem a presença maciça da China na compra de commodities agrícolas. Os embarques de soja, carnes e algodão foram impulsionados pelo apetite chinês. O quadro de descontrole dos preços domésticos neste segundo semestre, incluindo nesse quesito o sebo bovino, são uma consequência do grande apetite chinês. Em um ano em que a economia brasileira tende a apresentar recuo de aproximadamente 4,41% em relação a 2019, “soa estranho o agronegócio apresentar um processo de descolamento em relação às demais atividades, a exemplo da indústria, comércio e serviços. E mesmo com o real amplamente desvalorizado é difícil imaginar um saldo tão positivo caso a China não fosse tão atuante no mercado”, disse o analista.

     Para o setor carnes em específico “torna-se imperativo a busca por alternativas de potenciais importadores, além de um maior controle da produção a partir do ano de 2022”, assinalou Iglesias. A China trabalha pela recomposição do seu rebanho de suínos. O intento é de tornar a produção o mais profissional possível, adotando uma maior integração ao longo da cadeia produtiva. O modelo escolhido é muito semelhante ao adotado no Brasil em que todas as etapas de produção, desde a nutrição animal, são acompanhadas com proximidade. A produção na China ocorria de maneira rudimentar, o que certamente facilitou a propagação da Peste Suína Africana (PSA), sem os cuidados necessários em torno da sanidade animal. O gigante asiático já investe pesadamente na expansão da produção avícola, ampliando a oferta de carne de frango já em 2020. “Portanto a percepção é que a demanda chinesa é uma questão conjuntural. Em algum momento a lacuna de oferta será fechada e o ritmo de importações tende a ceder abruptamente. Uma vacina eficaz ao combate da PSA já está em estágio avançado de testes, e pode chegar ao mercado já no primeiro semestre de 2021”, alertou Iglesias.

     O cenário para o ano de 2021 depende de maneira enfática do comportamento da China em relação as importações, enfatiza Iglesias. “De qualquer maneira a expectativa é que a China siga atuante no mercado no próximo ano. O processo de recomposição do rebanho aparentemente se encontra em um estágio inicial, e demandará um certo tempo para que isso seja refletido em produção de carnes. No entanto, não é apenas isso em que está estruturada a curva de preços para a pecuária de corte no próximo ano”, apontou.

     Um aspecto relevante está no processo de recomposição do rebanho pecuário brasileiro. A curva de preços no segundo semestre de 2019 e principalmente em 2020 levou os pecuaristas a investir no rebanho, o que é explicado pelo comportamento dos preços do mercado de reposição, que também atingiu patamar recorde no decorrer de 2020. Este movimento sinaliza para a retenção de fêmeas. “A pecuária é uma atividade de ciclo longo, e esse processo de retenção será mais visível a partir do segundo semestre de 2021, e com ainda mais ênfase no ano de 2022”, coloca Iglesias.

     Os abates brasileiros em 2020 estiveram em um dos menores patamares da década. O gargalo na cadeia produtiva formado com o abate de matrizes em meados de 2017 cobrou seu preço, levando a um quadro de forte restrição de oferta em um momento pautado pela excelente demanda destinada à exportação. O Brasil tende a abater aproximadamente 31,94 milhões de cabeças de bovinos em 2020, tomando como base dados de Inspeção Federal, Estadual e Municipal além da utilização dos dados do IBGE como referência. Com esses números a expectativa é que o Brasil produza em torno de 8,67 milhões de toneladas de carne bovina. Para 2021 a dinâmica muda, com o processo inicial de recomposição do rebanho bovino brasileiro. A tendência é que no próximo ano sejam produzidas em torno de 8,8 milhões de toneladas de carne bovina, um avanço de aproximadamente 1,7%, frente aos números de 2020.

     No que tange às exportações, a expectativa é que a China ainda demande volumes expressivos de proteína animal brasileira em 2021. A expectativa é que o Brasil exporte em 2021 em torno de 3,1 milhões de toneladas de carne bovina em equivalente de carcaça. Em 2020, o volume exportado foi de aproximadamente 2,98 milhões de toneladas de carne bovina, um avanço de cerca de 4%.

     Com esses números todos delineados, a produção doméstica de carne bovina tende a alcançar um volume de 5,75 milhões de toneladas, um crescimento de cerca de 0,5%. “Esse volume indica que não haverá grande excedente de oferta no mercado doméstico, mantendo os preços do boi gordo em patamar elevado. É sempre importante mencionar que a dinâmica de mercado seria completamente diferente em caso de uma mudança do perfil de compras da China, aumentando o volume doméstico ofertado, resultando em um quadro de inevitável inversão da curva de preços”, finalizou.

     Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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