São Paulo, 13 de novembro de 2025 – Em teleconferência de resultados do terceiro trimestre, a presidente (CEO) do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, disse que a inadimplência na carteira Agro superou 5% no terceiro trimestre (3T25) e que a medida provisória (MP) 1314, que regula as regularizações no setor, aumentou necessidade de fazer provisões, o que levou às novas revisões de custo de crédito e lucro anunciadas pela instituição para 2025. O banco precisou fazer uma provisão de R$ 1,3 bilhão por causa de casos específicos de problemas em grandes empresas do atacado.
“Tivemos aumento nas recuperações judiciais que também trouxeram o desafio de elevar as provisões”, disse a presidente do BB ao falar dos motivos que levaram o banco público a revisar para cima a projeção (guidance) de provisões para 2025, com topo da faixa a R$ 62 bilhões.
A CEO disse que o BB tem R$ 11,4 bilhões em empréstimos em andamento no BB Regulariza Agro, dos quais R$ 5,4 bi em operações já aprovadas e espera chegar a R$ 24 bi do total de propostas. As renegociações com base na MP 1314 começaram em 21 de outubro e não refletem os resultados do terceiro trimestre apresentados na noite de ontem pelo banco.
“Estamos apresentando as condições do produto e oferecendo propostas”, disse a CEO. Segundo ela, 33% do total das operações de regularizações está no Centro-oeste em safras de milho e soja, seguida por regularizações no sudeste e sul, que representam segundo e terceiro lugares.
O diretor de Controles e Gestão de Riscos do banco, Felipe Prince, disse que as regularizações estão bastante tracionadas e estão em linha para atingir R$ 24 bi.
“Em 24 dias chegamos a velocidade que queríamos em 60 dias”, complementou a CEO.
O CFO Geovanne Tobias disse que “Vimos os produtores esperando a implementação da medida provisória 1314. Acreditamos que vamos entregar um bom lucro”.
O CFO disse que espera reduzir as provisões em 2026, considerando o nível de R$ 60 bilhões já provisionadas para 2025. O CFO disse que o banco deve entregar R$ 30 bilhões de lucro em 2025.
O CFO disse que 50% das operações de renegociação na carteira Agro estão com novas medidas de risco de crédito implementadas pelo banco, com análise conservadora e foco na sustentabilidade financeira.
O vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB, Gilson Bittencourt, disse que a maior parte da inadimplência neste trimestre veio do custeio e que espera que as medidas de regularização melhorem as condições para a próxima safra. “A nossa expectativa é que em 2026, quando vierem os dados do custeio, por ter uma contratação mais estruturada, devemos ultrapassar os R$ 20 bilhões na taxa livre. Os produtores que sofreram com o fluxo de caixa, a expectativa é que na próxima safra, a gente tenha uma inadimplência mais controlada”, comentou.
A MP 1314 permite prorrogar os pagamento de dívidas do Agro em até 9 anos, ante prazos menores, de 2 anos, anteriormente, disse Bittencourt. Os recursos livres previstos na medida não têm limite. Em relação aos recursos controlados, de R$ 12 bi, o BB está trabalhando com R$ 4,3 bilhões, e disse que considera suficiente em relação à demanda que está aparecendo nas agências.
O vp de Agro reiterou a adoção de critérios rigorosos de análise de crédito na concessão dos créditos, de acordo com a expectativa de recuperação e geração de caixa dos produtores. “Dos R$ 5,4 bilhões já aprovados, devem ser concedidos, já estão praticamente efetivados, outros foram analisados e excluídos. Tudo está sendo analisado com critério muito forte para evitar que a inadimplência de hoje seja jogada para frente”, ressaltou.
O vp de Agro também disse que espera o anúncio de liberação dos recursos livres via LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) nos próximos dias – hoje a liberação só pode ser feita pelo setor privado.
Para 2026, a expectativa do BB é manter a carteira do Agro na faixa de R$ 400 bilhões.
“Não estamos fechando porta, permaneceremos como parceiro do agro, com alguns ajustes, como em arrendamento. Estamos investindo em acompanhamento para verificar riscos de forma efetiva, conectando com recursos de georreferenciamento, analytics para verificar riscos agro climáticos e, assim, antever dificuldades futuras de pagamento e oferecer soluções adequadas”, comentou o diretor de Controles e Gestão de Riscos, Felipe Prince.
“O BB Regulariza Agro é a grande solução negocial, está disponível nos nossos canais. Mas se as negociações que vão para a Justiça, temos defendido nossos interesses, defendendo que isso dificulta a atividade do produtor. Devemos protocolar alguns pedidos de falência e esperamos que recorram a este instrumento quem efetivamente precisa”, disse Prince.
Ele disse que as recuperações judiciais costumam gerar inadimplência e por isso, já são classificadas como perda esperada pelo banco.
Inadimplência PF
Em relação à maior inadimplência acima de 90 dias da série histórica na carteira total do banco, o CFO disse que houve crescimento de inadimplência em cartão de crédito. Olhando para 2026, com o aumento do risco na carteira rural, o banco optou por linhas com maiores spreads e menor risco, como Consignado público e Consignado do Trabalhador. “Também estamos segmentando mais, aumentando o foco na alta renda. Para 2026, vamos dar mais foco ao crédito para a Pessoa Física”, disse.
A CEO disse que a inadimplência de mais de 90 dias da PF ex-Agro deve se normalizar neste último trimestre com o pagamento do 13o salário.
MP 1314
Em 5 de setembro, o governo federal autorizou, em Medida Provisória, a utilização do superávit financeiro e de recursos livres das instituições para disponibilizar linhas de crédito a produtores rurais e cooperativas, com o objetivo de oferecer alternativas para a liquidação ou amortização de dívidas e melhorar o fluxo de caixa do setor, impactado por perdas acumuladas em função de eventos adversos.
A nova linha de crédito é destinada a produtores que tiveram perdas em duas ou mais safras no período de 1º de julho de 2020 a 30 de junho de 2025 e prevê beneficiar mais de 100 mil agricultores familiares, médios e grandes produtores, chegando a 96% dos pequenos e médios produtores inadimplentes ou com dívidas prorrogadas, segundo dados do governo.
Podem ser liquidadas as operações de crédito rural de custeio e investimento e as Cédula de Produto Rural CPR, originalmente contratadas ou emitidas até 30 de junho de 2024 e que estão em situação de inadimplência ou mesmo as que tenham sido renegociadas. Cabe às instituições financeiras analisarem a capacidade econômica de cada mutuário.
O Banco do Brasil anunciou o início da contratação de operações com base na MP 1.314/25 em 21 de outubro. A medida prevê condições especiais para o produtor rural liquidar e amortizar operações de custeio, investimento e CPR. Produtores rurais, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, e cooperativas agropecuárias já podem procurar as unidades de atendimento do BB para viabilizar a contratação de operação com recursos livres.
Segundo o BB, com a nova linha BB Regulariza Agro, com fonte de recursos livres do Banco do Brasil, o produtor pode liquidar, amortizar e alongar dívidas de custeio, investimento e CPRs, inclusive as que já foram prorrogadas, renegociadas ou que estejam adimplentes, em regiões impactadas com perdas de safra decorrentes de eventos adversos e que causaram aumento do endividamento no Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR).
Também foi anunciado que a regularização de operações com o uso de recursos subsidiados teria início em breve.
O valor a ser regularizado é definido conforme a necessidade e situação de cada cliente. O prazo pode chegar a até 9 anos, incluído aí até 1 ano de carência.
“São condições que trazem alívio no fluxo de caixa e previsibilidade financeira para o produtor rural, seja ele um agricultor familiar, médio ou grande produtor. Agora, o objetivo do BB é ajudar as famílias e as empresas do campo a renegociar suas dívidas, regularizar suas obrigações e retomar a produção. O agro é estratégico para o Banco e vamos seguir apoiando o setor com responsabilidade e visão de longo prazo”, disse Gilson Bittencourt, vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB, no lançamento das operações.
Para os produtores ou cooperativas cujos débitos não se enquadrem nos critérios da MP, o BB disse oferecer outras possibilidades de soluções de dívidas.
Banco deve ter estabilidade na carteira Agro e crescimento em PF em 2026
Em coletiva de imprensa realizada após a teleconferência, o CFO do Banco do Brasil, Geovanne Tobias, disse que em 2026 o banco deve apresentar estabilidade na carteira de Agro e crescer em Pessoa Física em 2026, com o objetivo de conseguir mais retorno para o banco. O diretor reiterou a informação de que o banco deve buscar linhas mais seguras, como o Consignado público e Consignado do Trabalhador.
“Esperamos estabilidade na carteira Agro e crescimento em Pessoa Física em 2026”, disse, reforçando que o tema ainda está em análise e as projeções para 2026 serão confirmadas no quarto trimestre.
Em relação ao pagamento de dividendos, o CFO disse que o banco deve manter a política de distribuir 30% do lucro em dividendos ao longo de 2026, o chamado “payout”, para recompor o capital, e ao final de 2026, após análises, vai definir se vale a pena distribuir pagamento extraordinário.
A CEO do BB disse que 2026 será um ano de recuperação da rentabilidade. O que não significa que o banco não vai emprestar para o Agro e Atacado, mas buscará renovar a carteira e aprimorar as garantias, com a adoção da alienação fiduciária, como exemplo.
A CEO Tarciana Medeiros também citou perspectivas de redução da Selic e aumento de salários como gatilhos para aumentar a rentabilidade da carteira PF e que buscará crescer em todos os segmentos da PF. Ela frisou o crescimento das carteiras em 2025 em todos os segmentos.
Em relação à queda da ação no pregão de hoje, o CFO disse que vê como um movimento natural e que a ação subiu nos últimos dias. O CFO considera que o banco tem sido transparente e que o ambiente de revisão de projeções traz uma perspectiva mais negativa e consequentemente, faz o investidor vender a ação.
O CFO disse que muitos clientes têm buscado a via judicial, mesmo com uma linha de renegociação disponível, e isso dificulta as negociações das dívidas.
O vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB, Gilson Bittencourt, disse que o banco está registrando crescimento da carteira Agro e deve continuar oferecendo o crédito ao setor, mas com uma carteira mais estruturada em garantida, com R$ 400 bilhões em 2026. “Já estamos com quase R$ 16,8 bi que serão oferecidos na taxa livre e até o final do prazo, esperamos chegar nos R$ 4,3 bi previstos para os recursos controlados.”
O diretor de Controles e Gestão de Riscos do banco, Felipe Prince, também endossou a visão de crescimento do banco. “A capacidade de gerar negócios está mantida e tracionada e esperamos fazer um quarto trimestre com ótimos resultados”, disse, acrescentando que, à medida que os ajustes forem implementados, a concessão de crédito ganhará tração.
O CFO lembrou que, por definição regulatória, o BB tem foco no crédito rural e não tem tanto foco no crédito imobiliário. “Não teve nada especial, nem problema com o setor, mas dentro da nossa estratégia, o imobiliário é destinado aos bancos privados”, disse Tobias, em resposta a questionamento sobre o assunto.
CFO critica recuperações judicias e diz que vê agricultores ‘caindo no canto da sereia’
Em vídeo sobre os resultados do Banco do Brasil no terceiro trimestre (3T25), o CFO do Banco do Brasil, Geovanne Tobias, critica a adoção do mecanismo de recuperação judicial no agronegócio.
“Isso é muito prejudicial. Vínhamos num compasso de controle dessas ações, desses pedidos de RJ, até o segundo trimestre. No 3T, vimos um crescimento ainda maior de agricultores entrando em RJ, motivados por consultorias. Temos uma medida provisória na rua e vemos esses agricultores caindo no canto da sereia”, comentou, em vídeo sobre os resultados do 3T25 divulgado pelo BB em sua página de Relações com Investidores e no canal do banco no YouTube.
Junto ao balanço, o banco também divulgou uma revisão de suas estimativas para 2025 para baixo. Agora, o custo do crédito neste ano como um todo deve somar entre R$ 59 bilhões e R$ 62 bilhões (ante R$ 53 bilhões a R$ 56 bilhões anteriormente previsto) e com um lucro líquido entre R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões, ante R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões.
“A nossa decisão foi fazer esse ajuste no guidance para orientarmos investidores e analistas de que, de fato, o controle das despesas de risco de crédito foram além do que nós estimávamos quando nós retomamos o guidance, mas estamos confiantes de que temos medida não só para conter isso, mas também para continuar trazendo retorno para os nossos acionistas.”
No vídeo, o CFO explica que a revisão do guidance se deu por conta do agravamento no agronegócio. “Nós tomamos a decisão, dura, de revisar o guidance, para entender o que estava acontecendo e trazer uma melhor estimativa para o mercado, do que esperar em termos de resultado do agravamento do risco de crédito, principalmente na carteira do agronegócio”, disse, em vídeo sobre os resultados do 3T25.
O BB tinha guidance de custo de crédito no intervalo de R$ 53 bi a R$ 56 bi, que foi revisado para R$ 59 bi a R$ 62 bi. “No decorrer do terceiro trimestre, tivemos um caso específico de grandes empresas na carteira do Atacado e outros eventos que exigiram um esforço de provisão que não estava no nosso radar, então, por ali, já notamos um descolamento da nossa estimativa”.
Em relação ao agronegócio, o diretor disse que, ao retomar o guidance, ainda havia um volume muito grande de vencimentos a vencer da safra do ano passado (2024-2025) e o banco buscava junto ao regulador e ao governo mecanismos para repactuar dívidas e ajustar o fluxo de caixa dos clientes do setor. Ele citou uma medida do Banco Central para tratar de operações e a MP 1314 e, com isso, muitos clientes optaram em ficar em compasso de espera e houve um recrudescimento da inadimplência no 3T25.
“Isso também dificultou entregar aquilo que nós estimamos. Acreditamos que, com esse esforço junto ao governo, faria com que as medidas chegassem mais cedo. Mas a medida provisória foi editada em setembro e regulamentada apenas no final de outubro. Não deu tempo de buscar os clientes e chamá-los para renegociar e pagar o que estava em atraso”, explicou. “Então, o efeito da medida ainda não está visível na redução da inadimplência”.
Além do aumento das recuperações judiciais, o BB atribuiu o aumento das provisões a uma provisão de R$ 1,3 bilhão por causa de casos específicos de problemas em grandes empresas do atacado, sem citar nomes, mas disse que os casos foram “amplamente noticiados”. O BB é citado, por exemplo, como o segundo maior credor da Ambipar, que pediu recuperação judicial recentemente.
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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