O mercado do feijão carioca segue em fase de recuperação técnica, ainda limitada pela liquidez restrita e pelo comportamento seletivo dos compradores. De acordo com o analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, após semanas de marasmo, os preços voltaram a mostrar avanço consistente em diversas praças, reflexo do ajuste na oferta e do encerramento da terceira safra.
Segundo Oliveira, as maiores altas ocorreram em Patrocínio (MG) (+5,63%), Patos de Minas (MG) (+5,61%) e Itapeva (SP) (+4,85%), indicando “uma melhora gradual nas referências após o longo período de desvalorização”. Já Barreiras (BA) e Luís Eduardo Magalhães (BA) registraram quedas de -0,90%, o que, conforme ele explica, reforça a disparidade regional entre as origens produtoras e os polos consumidores.
A oferta limitada, composta em grande parte por sobras e cargas armazenadas, tem sustentado os preços, enquanto a demanda interna segue tímida e concentrada em lotes de melhor qualidade. “A busca ainda é seletiva. O varejo compra apenas o necessário, e isso impede uma reação mais ampla no curto prazo”, observa o analista.
No mercado externo, as exportações continuam crescendo, com embarques pontuais ajudando a reduzir o excedente doméstico. O cenário geral, conforme Oliveira, indica um mercado tecnicamente firme, sustentado pela retenção de oferta e pelo câmbio, mas ainda dependente de uma reação mais consistente do consumo varejista para consolidar o movimento altista.
Exportações ganham destaque, enquanto consumo interno segue enfraquecido
O mercado do feijão preto também permanece travado e sem avanço expressivo nas negociações, apesar do leve suporte cambial e do aumento do interesse no mercado externo. “Os preços continuam nominais, e as indicações de compra seguem pressionadas pela falta de liquidez e pelos altos estoques nas principais regiões produtoras”, explica Oliveira.
As maiores variações positivas foram observadas em Ponta Grossa (PR) (+7,25%) e Guarapuava (PR) (+1,55%), enquanto as quedas mais acentuadas ocorreram em Campo Mourão (PR) (-6,72%), Cascavel (PR) (-3,60%) e Castro (PR) (-3,50%), revelando um mercado regionalmente descompassado e de baixa fluidez.
Nas origens, as cotações FOB giram em torno de R$ 137 a R$ 138/sc em Chapecó e Ponta Grossa, refletindo viés de baixa moderada. “O escoamento segue difícil, e a ausência de compradores continua sendo o principal gargalo, mesmo com o câmbio favorecendo as exportações”, avalia o analista.
O plantio da 1ª safra 2025/26 avança sob clima irregular, com frio tardio e riscos fitossanitários, especialmente a mosca-branca. A fraqueza do consumo doméstico contrasta com o bom desempenho das exportações, que seguem firmes e mantêm a balança comercial amplamente superavitária.
De acordo com dados do Secex/MDIC, o Brasil exportou 362,5 mil toneladas de feijão entre janeiro e setembro, totalizando US$ 305 milhões, com preço médio de US$ 841/t. “A Índia continua sendo o principal destino, absorvendo 57% do total, especialmente de feijão mungo”, detalha Oliveira. Outros mercados relevantes incluem Portugal e Paquistão (5% cada), além de África do Sul e Venezuela, que mantêm presença estável.
As importações seguem marginais (US$ 10 milhões e 11,3 mil toneladas, média de US$ 883/t), concentradas principalmente na Argentina (87%), tradicional fornecedora de feijão preto para recomposição de estoques no Sul. Paraná e Santa Catarina concentram mais de 90% das entradas, confirmando a dependência regional dessa variedade.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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